A tradição presidencialista no Brasil sempre deu muita visibilidade ao chefe do executivo. A população em geral, por motivação própria ou instigada pelos órgãos de imprensa, acompanha os passos do presidente, inclusive, e talvez em especial, as viagens que faz como representante do país.
Quando estas visitas acontecem internamente, despertam ainda mais as atenções pelo fato da proximidade, da oportunidade de se ver ou mesmo de falar com o chefe da nação.
Em 06 de Agosto de 1926, o governador José Augusto Bezerra de Medeiros recepcionava festivamente o presidente eleito em Março daquele ano, senador Washington Luiz. Segundo o jornal “A Republica” de Agosto de 1926, “O presidente eleito foi recebido em Santa Luzia do Sabugi e percorreu de carro junto com o governador as cidades de Caicó, Cruzeta, Acari, Currais Novos, Santa Cruz e por fim chegou as 19:08s do dia 07-08-1926 a cidade da Macahyba, onde teve ruidosa manifestação e o aguardavam as mais altas representações da política local, famílias, associações, estudantes e pessoas gradas”. O presidente fazia-se acompanhar do Dr. Rodolfo Sartonelle, secretário particular, do capitão Antônio Goulart, assistente, do comandante Aníbal Borges da Fonseca e do senhor Cantuária Guimarães diretor do Lloyde Brasileiro.
A comitiva dirigiu-se atravessando considerável multidão ao grupo escolar “Auta de Souza”, sendo recebidos ao som do Hino Nacional executado pela banda dos escoteiros da cidade. Dentro do estabelecimento Washington Luiz foi saudado pelo vice-presidente da Intendência major Almir Freire, seguindo-se um belíssimo discurso do acadêmico Octacílio Alecrim, que falou em nome da mocidade local.
Durante a recepção, o governador José Augusto pediu ao Dr. Washington Luiz, que ao assumir a presidência no dia 15 de Novembro daquele ano, lembrasse da necessidade de uma estrada de ferro que ligasse as cidades produtoras de algodão a capital do estado, visto que os comerciantes daquela região atualmente enviavam seus produtos nas costas dos burros até Macaíba, quando o lógico era seguir o itinerário da capital.
Na ocasião foi servido ainda um lauto jantar, cujo cardápio foi o seguinte; “Salmom à Maionese, sopa Creme de Champignon, Pescada ao Molho de Alcaparras, Aspargos ao Molho Branco, Peru com fiambre, Doces, Frutas, Vinho Medoc e café”.
Logo em seguida, a pianista Anna de Mello Alecrim esposa do cel. Prudente Alecrim executou ao piano um atraente programa musical; “A Sertaneja de Itaberé, 10 Eme Valce de Chopim, Moise de Rossine, Prelúdio de Moskowski e a Polaca Militar de Chopim”.
Na saída dos visitantes do grupo escolar, o jornalista do “Diário do Natal”, observou e descreveu a roupa do ilustre presidente, “terno de casemira marrom, botina de polimenta preta e chapéu de feutro marrom”, fato que provocou um artigo inflamado do poeta macaibense Xavier d’Araújo, acerca da “deselegância” dos eventos sem cartola.
Formou-se então, imponente corso de automóveis em direção a capital do estado, tendo sido o nome do futuro presidente ovacionado entusiasticamente em diversos pontos do percurso. Em um dos veículos, seguiu uma comissão de estudantes, entre os quais, Octacílio Alecrim, João Maria Furtado e Raimundo Nonato, convidados pelo visitante para acompanhá-lo nos próximos três dias de visita ao estado do Rio Grande do Norte.
Artigo publicado no Jornal O Binóculo por Xavier de Araújo, poeta macaibense.
O BINÓCULO DE 08-08-1926.
A morte da cartola
Era justamente nas festas como as de hoje, que a cartola tinha o seu dia. A moda, porém, condenou-a ao mais absoluto e criminoso esquecimento.
Instituição solene, para não dizer solenissima, quem a ver, agora, luzir, com austeridade, nesse tempo em que o homem tem a cara raspada e as mulheres eliminam as cabeleiras?
Hoje, o silencio da morte fê-la desaparecer, entregando-a simplesmente, unicamente, a poeira das tradições.
A cartola impunha ao homem esse ar de circunspecta formalidade que empresta a certos actos ou solenidades de certa gravidade, uma nota de elegância severa, nobre e comedida, como sobre aqueles belos cabelos empoados de brumneis.
Mas como o século de mme. Ciriè impõe outros preceitos na arte indesejável de trajar, é bem possível que nas festas que celebram em homenagem ao Sr. Waschigton Luiz, tenhamos de ver, um contraste com as cartolas consetheiraes, muito chapéu bilontra com fitas a tricot...
*Na foto, na grande mesa aparecem ao centro: da esquerda para a direita Dr. Felipe Guerra, Governador José Augusto e Washington Luiz.
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