terça-feira, 30 de março de 2010

Perfis - Cel. Feliciano Pereira de Lyra Tavares

Cel. Feliciano Pereira de Lyra Tavares, com a farda da Guarda Nacional. (Acervo Anderson Tavares/ FJN)

Uma vez estudadas as árvores genealógicas ascendentes, descendentes e colaterais do Cel. Feliciano de Lyra Tavares, apresentamos um esboço biográfico, dentro do que foi possível averiguar na documentação proveniente de sua época. A apresentação deste esboço inédito, configura-se ainda numa homenagem desta sexta geração de seu sangue, neste ano que assinala o centenário de morte.

Nascido aos 15 de novembro de 1843, na cidade de Nazaré da Mata, província de Pernambuco. Sendo filho do casal Francisco Pessoa de Araújo Tavares e Maria da Silva e Vasconcelos. Neto paterno de Antônio Tavares da Silva e Pônciana Cândida de Lyra e materno Francisco Gomes de Araújo e Ana de Sá da Fonseca Pessoa.


Francisco Tavares, pai de Feliciano, era conhecido pela alcunha de Chico de Marotos, e teve participação na Rebelião Praieira em 1848 quando proporcionou abrigo aos revolucionários em seu Engenho Marotos. Por este motivo teve suas terras confiscadas pelo governo por um bom período até o perdão real. Ele havia adquirido este engenho em 1832, possuindo uma influência política considerável na região de Nazaré da Mata.


Ainda criança, Feliciano presenciou as perseguições pelas quais passou sua família por ter apoiado a revolução. Casou ainda bem moço com sua sobrinha Maria da Silva Tavares, da qual ficaria viúvo após o parto do primogênito José Antônio. Sem contar senão com o próprio trabalho, Feliciano Tavares empregou-se como lojista no comércio de Goiana, onde passou a residir à rua Direita, ao lado da Matriz de São Pedro.


Em Goiana, Feliciano de Lyra Tavares conheceu sua segunda esposa a sinhazinha Maria Rosalina de Albuquerque Vasconcelos, filha do coronel João Batista de Albuquerque Vasconcelos e Inês da Veiga Pessoa. Do matrimônio houve os filhos Inês, nascida em 1870 e João de Lyra Tavares, nascido em 1871.


Não logrando sucesso comercial naquela praça, o agora Major da Guarda Nacional Feliciano de Lyra Tavares aceita convite de seu primo o Fabrício Gomes Pedroza, para se estabelecer no povoado da Macaíba, comercialmente ascendente. Feliciano já estivera algumas vezes no povoado, junto com alguns irmãos casados na família de Fabrício. Aceito o convite, rumou com os sogros, a mulher e os três filhos para Macaíba a fim de tentar a recuperação financeira que não encontrou em Goiana.


No Rio Grande do Norte instalou-se primeiramente em Utinga, depois adquiriu a propriedade Guanduba, hoje município de São Gonçalo do Amarante/RN, onde plantava e criava. Ergueu morada na povoação da Macaíba, na rua Dr. Pedro Velho, próximo ao sogro, já forte liderança política da localidade. Residência ao bom estilo português com comércio na parte inferior e casa na parte superior. Ali nasceria em 1872, o filho Augusto Tavares de Lyra. Feliciano já havia então sido elevado à categoria de coronel da Guarda Nacional e militava na política local apoiado por seu sogro cel. Batista, a quem entregou o filho Augusto para ser educado. Já o primogênito José Antônio teve por padrinhos Eloy Castriciano de Souza e sua irmã, Maria Concórdia de Souza, aos quais foi entregue para criação. Em 1875 nasceu Feliciano Filho. Em 1880, temos Luis.

O Cel. Feliciano já estava totalmente absorvido pela política, sendo vereador e militando no Partido Liberal chefiado pelo compadre Eloy. Os anos de 1881, 1883 e 1886, fecharão a prole de nove filhos, com os nascimentos respectivamente de Maria Augusta, Maria Alice e Maria Adélia.


Inicialmente a vida em Macaíba foi bastante difícil. Maria Rosalina de Lyra Tavares que havia sido criada com a melhor educação para a época; não obstante tocar piano, falar inglês, frances e bordar, fazia tapiocas e doces para serem vendidos por sua escrava forra – Bela – na feira local para ajudar no orçamento doméstico. Foi o saldo destas vendas que proporcionaram ao seu filho Tavares de Lyra, o tratamento dos olhos com o famoso oftalmologista Moura Brazil, no Rio de Janeiro, entre 1887-89.


Como político Feliciano de Lyra Tavares governou Macaíba de 1882 a 1885 e teve como vereadores os senhores Cel. João Batista de Albuquerque Vasconcelos, Comendador Umbelino Freire de Gouveia Mello, Ismael César Duarte Ribeiro, Enéas Américo de Medeiros e o Cel. Manoel Joaquim Teixeira de Moura. Durante seu mandato, sem recursos suficientes para empreender as melhorias necessárias ao bom desenvolvimento da vila, fez o que esteve ao seu alcance sem onerar os cofres públicos. Era o tempo em que os grandes locais investiam de seus próprios bolsos quantias que favoreceriam a coletividade.

Nesse contexto, o coronel Batista e o deputado Eloy Castriciano de Souza dispunham de prestigio junto ao governo provincial e garantiram muitas verbas para o governo de Lyra Tavares. Com essas ajudas, o Cel. Feliciano pode empreender uma reforma na velha ponte da Macaíba e despendeu dinheiro na construção da matriz. Paralelamente exerceu várias vezes, o cargo de Juiz Municipal em Macaíba, cargo inclusive que lhe valeu a excomunhão por parte do vigário local, pois Feliciano realizou o primeiro casamento civil de São Gonçalo do Amarante, à época pertencente juridicamente à Macaíba, fato que desagradou a Igreja. A excomunhão foi noticiada por toda a imprensa estadual, que solidarizou com o infortunado juiz.


Ainda relativamente à política, foi sempre um conciliador nos momentos de exaltação entre os partidos Liberal e Conservador, para um melhor andamento das necessidades locais. Foi um abolicionista ferrenho, membro do Clube Abolicionista “Padre Dantas”, onde engajou todos os filhos. Como um republicano fiel, descendente dos revolucionários de 1848, foi sonhador da República, companheiro devotado de Pedro Velho, despendendo altas somas com a edição de jornais e boletins republicanos na cidade da Macaíba, fato que o levou a ruína financeira.


Com a proclamação da república, curiosamente, abandonou a política. Acompanhou de perto a vida partidária dos filhos José Antônio de Lyra Tavares, em Macaíba, João Lyra e Tavares de Lyra no âmbito nacional. Sempre conselheiro acatado. Orgulhoso dos rebentos ilustres que lhe honraram o caráter democrático.


Em 1899, perdeu a valorosa companheira de uma vida, Maria Rosalina aos 45 anos. Em 1905, segue para Natal em companhia das filhas, passando a residir na avenida Rio Branco, onde hoje encontra-se as Lojas C&A. Deixou sua única propriedade aos encargos do filho José Antônio que permaneceu na cidade. O jornal “A República” noticiando o fato afirmava: “Na sociedade Macahybense deixou o coronel Lyra Tavares um vácuo impreenchível”.


Na capital, suas últimas atividades foram: secretário da Junta Comercial e juiz substituto seccional da capital. No principio de 1910, distribuía em Natal e Macaíba aos partidários, os discursos impressos por ocasião das homenagens dos políticos nacionais, ao filho ilustre. Foi neste período que apareceu as manifestações dos primeiros sintomas de um câncer.

Rapidamente foi consultar os médicos do Recife, quando agravou-se seu estado de saúde. De volta para o Rio Grande do Norte teve uma piora considerável no Estado da Paraíba, tendo que ir para casa de seu filho senador João de Lyra Tavares, quando então cercado por sua família, faleceu aos 23 de setembro de 1910.


O Estado do Rio Grande do Norte decretou luto. O comercio fechou as portas. A família recebia as condolências pelo desaparecimento de um vulto tão proeminente. Foi sepultado na Paraíba com enorme acompanhamento, sendo posteriormente seus restos mortais trasladados para o jazigo da família na Matriz de Macaíba, onde repousa ao lado da esposa extremada.


Feliciano Pereira de Lyra Tavares foi um personagem impar na pequena história local. Pertenceu a um tempo em que os homens públicos gastavam o que tinham para firmar-se na política e uma vez obtido êxito, da política nada ganhavam por seus trabalhos desempenhados, tendo em vista serem gratuitas as funções públicas no passado.


Porém, é forçoso admitir que esse recorte de nossa política, foi o tempo em que mais se fez pelo desenvolvimento de nossa terra, foi o tempo em que mais aflorou os vultos proeminentes da administração pública. Sem recursos certos, desempenharam verdadeiros milagres com o pouco que dispunham, elevando Macaíba ao melhor patamar econômico e político de tempos pretéritos, jamais recuperados.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Descendentes do Cel. Feliciano de Lyra Tavares

Após destacarmos a ascendência e os colaterais de Feliciano de Lyra Tavares, nos deteremos em sua descendência direta, composta dos filhos e netos. Convém destacar que os descendentes de Feliciano ora assinam Lyra Tavares, Tavares de Lyra, Tavares de Souza ou, simplesmente, Tavares.

Explica-se este fato tendo em vista quando do rompimento político do ministro Augusto Tavares de Lyra com o governador Joaquim Ferreira Chaves, muitos familiares do ministro foram perseguidos e, na tentativa de levarem uma vida normal, os descendentes de Macaíba agregaram o sobrenome Souza, proveniente do velho Eloy Castriciano de Souza padrinho e tutor de José Antônio de Lyra Tavares.

O Desembargador Luís Tavares de Lyra, desde os tempos de acadêmico de direito no Recife já assinava Tavares de Lyra. O senador João de Lyra Tavares nunca mudou o nome, contudo, teve que mudar de Estado saindo de Macaíba no Rio Grande do Norte e passando por Pernambuco e pela Paraíba, fixando-se definitivamente no Rio de Janeiro.

Os irmãos Inês e Feliciano Filho também saíram do Rio Grande do Norte, ela fixou residência em Pernambuco e ele no Rio de Janeiro. Os descendentes de ambos adotaram o Tavares de Lyra após a ascensão do tio ilustre.
Por fim, as três Marias – Adélia, Alice e Augusta continuaram com o Lyra Tavares.

Feliciano Pereira de Lyra Tavares foi casado em primeiras núpcias com sua sobrinha Maria da Silva, filha de seu irmão José Pessoa de Araújo Tavares e Rita Cândida Barbosa. Feliciano e Maria da Silva Tavares tiveram um único filho;

F.1 José Antônio de Lyra Tavares de Souza casou-se com a prima paterna Maria Pedroza Tavares de Souza, filha de Guilhermina Pedroza da Silva Tavares/Antônio Luís Pessoa de Araújo Tavares. São os pais de;

N.1 Cândida Maria Tavares;
N.2 Francisco de Sales Tavares de Souza;
N.3 Ana Tavares (Nana);
N.4 Paulo Tavares de Souza;
N.5 Porcina Tavares Ferreira;
N.6 Leonel Tavares de Souza;
N.7 Amália Tavares;
N.8 Maura Tavares;
N.9 Maria Joana Tavares;
N.10 João Paulo Tavares;
N.11 Júlio Tavares de Souza;
N.12 Silvino Tavares de Souza (meu bisavô materno).


Viúvo de sua primeira esposa, o coronel Feliciano de Lyra Tavares casou pela 2ª vez com Maria Rosalina de Albuquerque Vasconcelos, filha de João Batista de Albuquerque Vasconcelos e Inês da veiga Pessoa, e foram os pais de;

F.2 Dona Inês Pessoa de Lyra Tavares Alecrim, Casada com o Capitão Antônio da Costa Alecrim, filho do Capitão Antônio da Costa Alecrim/Justiniana Augusta Pessoa da Costa Alecrim.
N.13 Ernesto da Costa Alecrim;
N.14 Maria da Costa Alecrim;
N.15 Dr. Olívio da Costa Alecrim;
N.16 Augusto da Costa Alecrim;
N.17 Mário da Costa Alecrim;
N.18 Dr. Luiz da Costa Alecrim;
N.19 Ramiro da Costa Alecrim;
N.20 Ana da Costa Alecrim Saraiva;
N.21 Clarisse da Costa Alecrim Tavares;

F.3 Coronel João de Lyra Tavares, (patrono dos contabilistas e senador da republica), casado com a prima paterna Rosa Amélia da Silva Tavares, filha de Francisco Tavares Pessoa de Araújo/Maria Militina da Silva Tavares.

N.22 Ambrosina Laura de Lyra Tavares, religiosa;
N.23 Laura Dulce de Lyra Tavares, religiosa;
N.24 Leonel de Lyra Tavares;
N.25 Maria Rosa de Lyra Tavares, religiosa;
N.26 Paulo de Lyra Tavares;
N.27 Roberto de Lyra Tavares;
N.28 Fernando de Lyra Tavares;
N.29 Aurélio de Lyra Tavares;
N.30 João de Lyra Tavares Filho;
N.31 João Carlos de Lyra Tavares;
N.32 João Ricardo de Lyra Tavares;
N.33 João Renato de Lyra Tavares.

F.4 Dr. Augusto Tavares de Lyra, casou com Sophia Eugênia de Albuquerque Maranhão, filha de Pedro Velho/Petronila Florinda.

N.34 Sophia Augusta de Lyra Tavares;
N.35 Augusto Tavares de Lyra Filho;
N.36 Cora Tavares de Lyra, falecida infante;
N.37 Cora Tavares de Lyra, religiosa de Notre Dame de Sion;
N.38 Pedro Velho Tavares de Lyra;
N.39 Carlos Tavares de Lyra;
N.40 Carmem Maria Tavares de Lyra, religiosa de Notre Dame de Sion.

F.5 Cel. Feliciano Pereira de Lyra Tavares Filho, casado com a prima paterna Júlia Leopoldina Pereira de Vasconcelos, filha de João Avelino Pereira de Vasconcelos/Maria Olímpia de Vasconcelos.

N.41 José de Lyra Tavares;
N.42 Luis de Lyra Tavares;
N.43 Luis Adelino de Lyra Tavares;
N.44 Luis Arlindo Tavares de Lyra;
N.45 Luiza de Lyra Tavares.

F.6 Dr. Luiz Tavares de Lyra, casado com Alice China Tavares de Lyra, filha do Dr. Antônio China/Maria China.

F.7 Maria Augusta de Lyra Tavares - Dondon. (solteira)

F.8 Maria Alice de Lyra Tavares. (solteira)

F.9 Maria Adélia de Lyra Tavares. (solteira)

terça-feira, 23 de março de 2010

Ascendência e colaterais de Feliciano de Lyra Tavares

Macaíba era um povoado quando aportaram na localidade os irmãos Francisco Pessoa de Araújo Tavares, Miguel Pessoa de Araújo Tavares, Antônio Pessoa de Araújo e Feliciano Pereira de Lyra Tavares, provenientes da cidade de Goiana, em Pernambuco, e que chegavam procurando recompor suas finanças através do comercio ascendente da comuna.

Os jovens eram filhos de Francisco Tavares Pessoa de Araújo, primo materno de Fabrício Gomes Pedroza, e de Maria da Silva de Vasconcelos. Francisco era filho de Ponciana Cândida de Lyra e de Antônio Tavares da Silva; Fabrício era filho de Silvana Pereira de Lyra Coutinho e Francisco Gomes de Andrade Lima.

Francisco Tavares Pessoa de Araújo *1806 +1869, casado com Maria da Silva e Vasconcelos +14-06-1869, filha de Francisco Gomes de Araújo e Ana de Sá da Fonseca. Foram os pais de;


F.1 José Tavares Pessoa de Araújo *1828 +1912 foi proprietário dos engenhos Pasta, Juá e Marotos. Casou a primeira vez em, com Rita Cândida filha de João Barbosa da Silva e Ana Cândida da Silva; a segunda com a cunhada Ana Cândida e a terceira com Ana Virgínia de Andrade Lima, filha de Antônio Virginio de Andrade Lima e Maria de Freitas Pereira;


F.2 Francisco Tavares Pessoa de Araújo *1833 +1895 deixou geração do seu casamento com Maria Militina Pedroza, filha de Fabrício Gomes Pedroza, e de Maria da Silva de Vasconcelos. Foram os pais de Rosa Amélia da Silva Tavares, casada com o primo João de Lyra Tavares;


F.3 Cristóvão Solano Tavares Pessoa de Araújo *1835, casado com Francisca Pereira;

F.4 Miguel Pessoa de Araújo Tavares *1836, casado com Cândida Minervina Pedroza, filha de Fabrício Gomes Pedroza e Maria da Silva de Vasconcelos.


F.5 Antônio Luís Pessoa de Araújo Tavares *1838, casado com Guilhermina Pedroza, filha de Fabrício Gomes Pedroza e Maria da Silva de Vasconcelos. Foram os pais de Maria da Silva Tavares, casada com o primo José Antônio de Lyra Tavares.


F.6 Fabrício Pessoa de Araújo Tavares *1839, falecido solteiro;

F.7 Maria Pessoa de Araújo Tavares *1841, casada com José Felício Pereira de Lyra Júnior, filho de José Felício Pereira de Lyra e Rita Caetana de Freitas;


F.8 Cesário Pessoa de Araújo Tavares *1842, casado com Rita Caetana Pereira, filha de José Felício Pereira de Lyra e Rita Caetana Barbosa da Silva; e a segunda vez com Luzia, filha de José Coelho da Silva;


F.9 Feliciano Pereira de Lyra Tavares *1845 +1910, casado em primeiras núpcias com a sobrinha Maria da Silva Tavares, filha de José Pessoa de Araújo Tavares; e a segunda vez com Maria Rosalina de Albuquerque Vasconcelos *1852 +1899, filha de João Batista de Albuquerque Vasconcelos e Ignez da Veiga Pessoa;


F.10 Júlio Pessoa de Araújo Tavares *1844, falecido solteiro;


F.11 Ana Maria Tavares *1847, casada com Francisco Gomes Pereira de Araújo Júnior, filho de Francisco Gomes Pereira de Araújo e Joana de Moura Borba;


F.12 Feliciana Tavares, *1849, casada com José Julião Gomes Cabral;


F.13 Inês Tavares Pessoa de Araújo *1852, casada com Silvério de Araújo Pereira Palma;

F.14 Cândida Minervina Tavares *1854 +1890, casada com o poeta Antônio Luiz Pereira Palma.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Agora é Lei - regulamentação da profissão de historiador

A Comissão de Assuntos Sociais do Senado (CAS) aprovou no último dia 10-03 o PLS 368/09, projeto de lei que regulamenta a profissão de historiador. O autor da proposta é o senador Paulo Paim (PT-RS). O texto foi votado em decisão terminativa.

O relator da matéria, senador Cristovam Buarque (PDT-DF), afirmou durante a votação desta quarta que "esse projeto não impede o desempenho da atividade de historiador por aqueles que o fazem por vontade própria ou vocação; apenas garante para os respectivos cargos públicos a exigência do diploma de historiador".

O projeto define que a profissão de historiador poderá ser exercida pelos diplomados em curso superior de graduação, mestrado ou doutorado em história. As atividades desse profissional são, de acordo com o projeto, o magistério; a organização de informações para publicações, exposições e eventos sobre temas históricos; o planejamento, a organização, a implantação e a direção de serviços de pesquisa histórica; o assessoramento para avaliação e seleção de documentos para fins de preservação; e a elaboração de pareceres, relatórios, planos, projetos, laudos e trabalhos sobre temas históricos.

Em seu voto pela aprovação do projeto, Cristovam observa que, atualmente, a atividade do historiador não está mais restrita à sala de aula e que a presença desse profissional é cada vez mais requisitada pelos centros culturais, museus, assessoria e consultorias a empresas de publicidade, turismo e produtores de cinema, jornalismo e televisão. Por esse motivo, o relator se manifesta favoravelmente a que a profissão seja valorizada e reconhecida legalmente.


SENADO FEDERAL
PROJETO DE LEI DO SENADO
Nº 368, DE 2009

Regula o exercício da profissão de Historiador e dá
outras providências.

O CONGRESSO NACIONAL decreta:
Art. 1º Esta Lei regulamenta a profissão de Historiador, estabelece os requisitos para o exercício da atividade profissional e determina o registro em órgão competente.

Art. 2º É livre o exercício da atividade profissional de Historiador, desde que atendidas às qualificações e exigências estabelecidas nesta Lei.

Art. 3º O exercício da profissão de Historiador, em todo o território nacional, é privativa dos:

I – portadores de diploma de curso superior em História, expedido por
instituições regulares de ensino;

II – portadores de diploma de curso superior em História, expedido por instituições estrangeiras e revalidado no Brasil, de acordo com a legislação;

III – portadores de diploma de mestrado, ou doutorado, em História, expedido por instituições regulares de ensino superior, ou por instituições estrangeiras e revalidado no Brasil, de acordo com a legislação.

Art. 4º São atribuições dos Historiadores:

I – magistério da disciplina de História nos estabelecimentos de ensino
fundamental, médio e superior.

II – organização de informações para publicações, exposições e eventos em empresas, museus, editoras, produtoras de vídeo e de CD-ROM, ou emissoras de Televisão, sobre temas de História;

III – planejamento, organização, implantação e direção de serviços de
pesquisa histórica;

IV – assessoramento, organização, implantação e direção de serviços de
documentação e informação histórica;

V – assessoramento voltado à avaliação e seleção de documentos, para fins
de preservação;

VI – elaboração de pareceres, relatórios, planos, projetos, laudos e trabalhos
sobre temas históricos.

Art. 5º Para o provimento e exercício de cargos, funções ou empregos de Historiador, é obrigatória a apresentação de diploma nos termos do art. 3º desta Lei.

Art. 6º A entidades que prestam serviços em História manterão, em seu quadro de pessoal ou em regime de contrato para prestação de serviços, Historiadores legalmente habilitados.

Art. 7º O exercício da profissão de Historiador requer prévio registro na Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do local onde o profissional irá atuar.

Art. 8º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
JUSTIFICAÇÃO

O campo de atuação do historiador não tem se restringido mais à sala de aula, tradicional reduto desse profissional. Sua presença é cada vez mais requisitada não só por entidades de apoio à cultura, para desenvolver atividades e cooperar, juntamente com profissionais de outras áreas, no resgate e na preservação do nosso patrimônio histórico, mas também por estabelecimentos industriais, comerciais, de serviço e de produção artística.

No âmbito industrial, o historiador vem trabalhando na área de consultoria sobre produtos que foram lançados no passado, para análise de sua trajetória e avaliação sobre a viabilidade de seu relançamento no mercado consumidor, ou ainda, para o estudo das causas de seu sucesso ou fracasso.

Pelas suas qualificações, o historiador é imprescindível para os estabelecimentos do setor de turismo, que contratam seus serviços para desenvolver roteiros turísticos para visitação de locais com apelo histórico e cultural.

Entidades públicas e privadas recorrem ao historiador para recolherem e organizarem informações para publicação, produção de vídeo e de CD-ROM, programas em emissoras de televisão, exposições, eventos sobre temas de história.

Não menos valiosa é a sua colaboração nas artes, onde o historiador faz pesquisa de época para os produtores de teatro, cinema e televisão, quer auxiliando na elaboração de roteiros, quer dando consultoria sobre os cenários e outros elementos da produção artística.

Num mundo onde a qualidade e a excelência de bens e serviços vêm se sofisticando cada vez mais, os historiadores devem ter sua profissão regulamentada, pois seu trabalho não mais comporta amadores ou aventureiros de primeira viagem.

Assim, julgamos ter chegado o momento de regulamentarmos o exercício da profissão de historiador que hoje congrega, em todo o país, milhares de profissionais que reivindicam, há muito, o reconhecimento e valorização de seu trabalho.

Por essas razões, esperamos contar com o apoio de nossos nobres pares para a aprovação deste projeto de lei.

Sala das Sessões,

Senador PAULO PAIM

(À Comissão de Assuntos Sociais.)

Publicado no DSF, 29/08/2009.

Secretaria Especial de Editoração e Publicações do Senado Federal – Brasília-DF
OS: 15781/2009

domingo, 14 de março de 2010

Perfis - Coronel Estevão Moura

Coronel Estevão Moura com a farda da Guarda Nacional. (Acervo Anderson Tavares)


O coronel Estevão José Barbosa de Moura nasceu em Pousa, município de Taipú, em janeiro de 1810, filho de Manuel Teixeira Barbosa, comandante superior, vereador do Senado da Câmara do Natal, vice-presidente e presidente da Província do RN e Ana da Costa e Vasconcelos. Os pais proporcionaram ao jovem Estevão um ambiente de príncipe herdeiro.

Seguindo a praxe endogâmica que recomendava às famílias mais ilustres, o casamento entre parentes, com o objetivo de manter a fortuna na família, em 3 de julho de 1833 Estevão Moura casou com sua prima materna Maria Rosa do Rêgo Barros, filha do Coronel de Joaquim José do Rêgo Barros e Maria Angélica de Vasconcelos, na capela do Ferreiro Torto, domínio do sogro.

Destas núpcias nasceram oito rebentos, sendo as mulheres; Ana Joaquina de Moura Castelo Branco, casada com José Moreira Brandão Castelo Branco, Maria Angélica de Moura Câmara, casada com Jerônimo Cabral Raposo da Câmara, Isabel Cândida de Moura Chaves, casada com Francisco Clementino de Vasconcelos Chaves e Antônia Rosa Teixeira de Moura, solteira.

Os homens foram; Joaquim Manoel Teixeira de Moura, casado com Ana Joaquina da Fonseca e Silva, Manoel Joaquim Teixeira de Moura casado com Tereza Josefina da Fonseca e Silva, José Getúlio Teixeira de Moura casado com Joaquina Angélica Marinho de Carvalho e Estevão José Barbosa de Moura Júnior, falecido solteiro. Todos os casais tiveram descendência vastíssima, entrelaçada e prolifera.

Estevão Moura e Maria Rosa tiveram descendência que nos faz lembrar a passagem bíblica “das estrelas do céu e das areias do mar”. A genealogia familiar apresenta cem ramos ilustres. Destaco o nome de seu bisneto Francisco Canindé de Moura (Chico Moura) casado com Joanete Moura, casal muito estimado na cidade da Macaíba.

O cel. Estevão Moura foi um homem poderoso, influente e prestigiado. Teve fortuna incalculável, rebanhos imensos, fazendas, casarios, escravatura, pilhas de ouro. Sua vontade era lei. Politicamente administrou a província em três ocasiões, em 1841, 42 e 43. Foi deputado provincial nos biênios de 1840-41, 42-43, 44-45, tendo tomado parte nas sessões de 1838-39, como suplente do Dr. Pinagé. Em 10 de novembro de 1841, criou a comarca e o município da Maioridade, hoje Martins. Em 27 de janeiro de 1889 aderiu ao partido republicano que Pedro Velho fundava.

Proprietário de terras que remontavam às antigas sesmarias coloniais, suas terras englobavam municípios inteiros, dezenas e dezenas de propriedades, com residência, servos, cavalos de sela, conforto e poder. Em 1874, doou uma parte de suas terras na fazenda Barra (hoje solar Caxangá) para a edificação da capela de São José, seu padroeiro. Foi o todo poderoso da região de São Gonçalo do Amarante e Macaíba. Arranjou inimizade com o major Fabrício Gomes Pedroza, quando em juízo exigiu que este redirecionasse a cerca de “Coité” que avançara sobre parte do movimentado porto local, escoadouro da produção do sertão potiguar. Tempos depois, teve um embate celebre nas crônicas do Estado com o Presidente da Província Manuel da Silva Lisboa – Parrudo - cuja solução importou na morte do arrebatado administrador.

Em Macaíba, que não era ainda uma vila, Estevão Moura construiu com os próprios recursos a primeira ponte da cidade, em 1859 e em seguida, abriu a estrada que liga Macaíba a Natal via mangabeira. A parte desta estrada dentro da cidade do Natal é hoje a conhecida avenida Coronel Estevão! Foi ainda construtor do Solar Caxangá (em seu tempo Fazenda Barra).

Conversei inúmeras tardes com D. Noêmia de Medeiros Moura (*1912 +2005), única moradora da praça padre João Maria, em Natal, bisneta do coronel Estevão Moura. Falava-me sobre o bisavô juntando lembranças de familiares, amigos e populares, contemporâneos do coronel que apontavam-no como um ser fantástico, irreal, ubíquo e irresistível, destacando que ele trazia ao peito uma cruz feita com madeira da terra santa, que “lhe conferia podereis especiais”.

Coronel Estevão Moura! Seu nome soava como uma trombeta de guerra. Nascera no Brasil vice-reino, atravessara a Regência e viveu três anos no regime republicano depois de escoar-se o primeiro e segundo Império. Morreu paupérrimo, ignorado e esquecido em Macaíba no dia 16 de janeiro de 1891, sendo seu corpo sepultado no cemitério de São Miguel e posteriormente transportado seus restos mortais para o jazigo da família Moura, na matriz de Nossa Senhora da Conceição da Macaíba.

Político, fazendeiro, lavrador, dono de Engenhos, criou municípios e seu sangue corre em milhares de veias, perpetuando uma vida que não pode ficar na escuridão e no esquecimento.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Cascudo vive! viva Cascudo!


Luis da Câmara Cascudo afirmava ter sido criado no seio de família “pedrovelhista”. Posso afirmar, parafraseando o mestre, que criei-me no seio da família “Cascudiana”. Lembro de meu primeiro contato com Luis da Câmara Cascudo, sem ter a noção de sua representatividade para nosso meio. Foi em julho de 1984, minha tia Joana e eu acompanhamos a prima Sofia Augusta de Lyra Tavares, numa breve visita ao escritor.


Revejo-o, na ampla sala onde recebia a todos vestido de pijama de algodão, os cabelos assanhados, sentado numa cadeira de balanço e fumando um charuto. Disseram-me que eu tomei-lhe a benção e que ele sorriu abençoando-me, seguido de um gesto de afago em minha cabeça.



Posteriormente, após encantamento de Câmara Cascudo, retornei com minha tia, funcionária da Fundação José Augusto e que iria trabalhar na manutenção do valioso acervo bibliográfico do escritor. Os navegos de minha memória me remetem então a presença da d. Dáhlia Freire Cascudo, chamando-me para lanchar pastel com coca-cola, momentos nos quais eu conversava com ela e com a Anália, antiga servidora da casa.



Tarde de 05 de março passado, transpus os arcos do portão do antigo casarão 377, para um encontro com a história e um mergulho nas recordações da infância e da juventude que muito animaram o meu espírito. O sobradinho totalmente restaurado está aberto ao público que conhecerá a rotina simples do nosso esteta através de suas coleções de Etnografia Africana, etnografia Indígena, arte sacra católica, arte popular brasileira, arte popular estrangeira, iconografia, mobiliário, pinacoteca, alfaias, comendas e objetos pessoais.


Tive a honra de ser recebido por Daliana Cascudo – neta primogênita e guardiã da memória avoenga. Revi o antigo azulejo português com a frase em latim: “Inveni portum. Spes et fortuna, valete. Sat me lusisti. Ludite nunc alios”. (Encontrei meu porto. Esperança e fortuna, adeus. Muito me iludistes. Ide iludir a outros, agora.), verdadeira divisa cascudiana, decifrada para minha curiosidade ainda infantil.



Na sala de entrada, à memória fotográfica de ilustres convivas, com destaque para o meu primo/tio João de Lyra Tavares Filho e, sobretudo, para meu deleite monarquista a pequena galeria de fotos da família imperial do Brasil. Cascudo foi um monarquista fiel!



Percorri todas as dependências possíveis de visita da casa-museu onde o mestre Cascudo viveu durante 40 anos, produzindo sua gigantesca obra literária que tanto nos enche de orgulho. D. Dáhlia – a “flor sem espinhos” ganhou um pavilhão com seu nome que está harmonicamente inserido no ambiente arquitetônico da casa e guarda o acervo bibliográfico do nosso folclorista, além de funcionar como espaço cultural.



O LUDOVICUS – Instituto Câmara Cascudo, pontifica como iniciativa séria e de alto valor cultural. Os descendentes de Luis da Câmara Cascudo honram a memória do mestre empreendendo este trabalho pioneiro, dedicado e inovador. No LUDOVICUS Cascudo vive!! Viva Cascudo!!



Link do Instituto: http://www.cascudo.org.br/

quinta-feira, 4 de março de 2010

Perfins - poeta Murilo Aranha, 120 anos.

Murilo Aranha *1890 +1919. (Foto: acervo Anderson Tavares)

Capa do livro César Borgia, de 1918.

Capa do livro Nevroses, 1919.

Pesquisando a genealogia das antigas famílias macaibenses, descobri um termo de casamento datado de 09 de outubro de 1881, que apontava para a união do paraibano Fortunato Rufino de Aranha, de 19 anos e Bernardina Olyndina de Oliveira com 21. No documento ainda observa-se que Fortunato era filho natural de Joaquina Francisca de Aranha e Bernardina, filha de Belarmino de Oliveira Castro e Ignácia Maria da Conceição.


Pouco depois da união, Fortunato passa a ajudar o sogro em um pequeno comercio de miudezas. Logo o jovem casal se integra a vida social da tumultuada Macaíba daqueles anos e Fortunato Aranha chega a ser um dos fundadores do Grêmio Literário “Tobias Barreto”, em 1891, ao lado de Henrique Castriciano, Francisco Freire da Cruz, Augusto Tavares de Lyra, Alberto Maranhão e João de Lyra Tavares, entre outros nomes de jovens expoentes da intelectualidade local. Fortunato Aranha assumiu, então, o cargo na nova sociedade cultural de bibliotecário, prenuncio de seu futuro como proprietário da livraria Cosmopolita – a primeira de Natal.


Os filhos viam chegando, ano após ano, totalizando uma prole de 13 filhos: Cleodon, Jayme, Victor Hugo, Solon, Milton, Cícero, Gilberto, Murilo, Angelina, Laura, Cecília, Ignez e Maria Aranha.
Destes filhos, Victor Hugo e Murilo Aranha destacam-se como poetas. Detenho-me sobre Murilo Aranha, nascido em 24 de junho de 1890. Publicou os seus primeiros versos aos 14 anos de idade, sendo o seu primeiro trabalho publicado o livreto César Bórgia (Sonetos), Tip. De Augusto Leite de Natal, 1918.

Mais tarde dedicou-se ao jornalismo literário tendo escrito em vários periódicos literários que circulavam em Natal e nos jornais "Gazeta do Comércio", "Trabalho", "Diário de Natal", "República" e "Imprensa". No Rio de Janeiro, estudou odontologia e fez parte da redação do Correio da Noite e d´A Revista Azul. Se sentido doente retorna ao Rio Grande do Norte, estabelecendo-se em Lages onde fundou o jornal A Pátria, e diretor do Externato Coronel Cascudo.

Numa página de saudade o amigo Câmara Cascudo afirma que Murilo Aranha foi um homem que possuiu uma sólida cultura filosófica, discípulo de Nietzsche, advindo daí a sua “desunião com o mundo das coisas”.

Sonetista famoso, leitor de filosofia e poeta de versos sonoros Murilo Aranha foi um poeta parnasiano, com um lirismo branco e dolente, seguidor de Olavo Bilac.

O jornal A República, noticiando a sua morte destaca: em Lages (...) finou-se ante-hontem às 18 horas, o inditoso moço Murilo Aranha (...) fervoroso cultor das letras, sendo as suas poesias muito apreciadas pela forma e estylo sempre cuidados. Era 23 de junho de 1919. Ainda Câmara Cascudo dizia sobre o desaparecimento do poeta macaibense: perco um amigo. O meu Estado perde um poeta, talvez um dos mais vibrantes e magníficos.

Alguns meses após o seu falecimento foi lançado o seu Nevroses (Versos). Livraria Leite Ribeiro & Maurílio. Rio 1919, dedicado ao conterrâneo Henrique Castriciano. Deixou “Catedral", quase completo. Murilo Aranha foi um dos reais talentos da sua geração. Relembro-o neste ano, quando comemoraremos os seus 120 anos de nascimento.