quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Francisco Freire da Cruz

Francisco Freire da Cruz

Mausoléu de Francisco Freire da Cruz na Matriz de Macaíba


Essa semana, chegando para a missa, contemplei o mausoléu do jovem Francisco Freire da Cruz, nome de rua em minha terra, Macaíba. Em 2010, completou-se o centenário da sua morte, ocorrido na cidade do Rio de Janeiro. Esse esboço procurará evidenciar a curta trajetória do macaibense, falecido ainda tão jovem e que até hoje continua reverenciado em sua aldeia.

A família Freire chegou a Macaíba durante a corrida comercial que se verificou com a fundação da feira e do povoado por Fabrício Pedroza. O patriarca da família, Manoel Joaquim Freire, oriundo de São José de Mipibú, chegou na florescente povoação já casado com Inês Emiliana Freire, sua parente.

Dentre os muitos filhos provenientes destas núpcias, contava-se Isabel Freire que casou com Francisco Severiano da Cruz e tiveram os seguintes filhos: Isabel Freire da Cruz (Madrinha Beleza) e Francisco Freire da Cruz, nascido em Macaíba aos 09 de fevereiro de 1881.

D. Isabel Freire da Cruz foi a primeira mulher em Macaíba a possuir um comercio. Seus negócios constituíam-se de um armazém que vendia ferragens e de uma loja que comercializava roupas e chapéus no melhor estilo francês. Ao falecer deixou uma considerável fortuna que foi administrada pelo pai, Manoel Joaquim Freire, tutor dos netos, que não raro respondia em juízo os desvios de dinheiro da herança.

Desde muito cedo, Francisco da Cruz destacou-se no meio social de sua cidade, participando do Grêmio Literário “Tobias Barreto”, escrevendo poesias e crônicas para diversos periódicos do Pará, do Rio de Janeiro e de Natal, notadamente “A República”, do qual foi correspondente em Macaíba. Foi um orador solicitado nas diversas manifestações públicas ocorridas na cidade.

Tão logo alcançou sua maioridade civil, Francisco da Cruz requereu ao juiz de direito de Macaíba a sua parte na herança materna, com o objetivo de entrar numa faculdade. O jornal “A República”, de sábado, 14 de maio de 1904, traz uma nota de despedida de Francisco da Cruz que estava de viagem para a cidade de Fortaleza, no Ceará, para estudar Direito. Não consegui maiores informações sobre a vida de Francisco da Cruz na capital cearense, o certo é que mudou de lá para Belém do Pará e, posteriormente, para o Rio de Janeiro onde deu continuidade aos estudos, ao que tudo indica, interrompidos anteriormente, por motivos de saúde.

Ainda em Belém, Francisco da Cruz casou-se por procuração com uma jovem carioca chamada 
Praxedes Ovalle, pertencente a uma nobre família chilena, fato que ensejou sua mudança para o Rio de Janeiro onde passou a residir na rua das Laranjeiras 398, bairro do Flamengo, envolveu-se com o Instituto dos Surdos Mudos e com a Sociedade Nacional de Agricultura, além de ter dado continuidade aos seus estudos em direito. Era quartanista quando faleceu devido um “excesso de gripe” no dia 10 de agosto de 1910. Eis o termo de óbito de Francisco da Cruz:

N. 741. Aos dezesseis dias de agosto de mil novecentos e dez, nesta Capital Federal, em cartório compareceu Godofredo Coelho, com vinte e seis anos de idade, solteiro, do comercio, morador a Rua das Laranjeiras 398 e exibindo atesto do doutor Miguel Couto declarou que (...) na casa referida faleceu hoje a uma hora da madrugada seu cunhado Francisco Freire da Cruz, filho legitimo de Francisco Severiano da Cruz e de dona Isabel Freire da Cruz, branco, com vinte e oito anos e acadêmico de direito, do Rio Grande do Norte. Casado com Praxedes Ovalle da Cruz, não deixou filhos, vai ser sepultado no Cemitério de São João Batista e nada mais disse e lido assina. Eu, Oscar Borges escrivão juramentado escrevi. Olympio da Silva Pereira. Oscar Borges. Godofredo Coelho. (Livro de óbitos n. 56, da 4ª Circunscrição do Rio de Janeiro (Flamengo), p. 149v).

Sua morte tão prematura abalou a todos. Foi sepultado no mesmo dia, as 17:00 horas, no cemitério de São João Batista, onde o acadêmico Celso Lemos proferiu discurso de despedida. A Faculdade de Direito do Rio de Janeiro ficou em luto por oito dias. Posteriormente, D. Isabel Freire da Cruz (Madrinha Beleza), trouxe os restos mortais do pranteado irmão e sepultou-os no mausoléu da família, na matriz.

Em Macaíba, terra natal de Francisco Freire da Cruz, existia no Largo das Cinco Bocas um cruzeiro, erguido por volta de 1880, que significava o marco zero da cidade. Por isso, a artéria que segue daquele ponto para oeste da cidade, era chamada de Rua da Cruz. Aproveitando o topônimo, a Intendência Municipal determinou homenagear o jovem Francisco, que era Cruz, sem retirar o antigo e histórico nome. Assim, até os presentes dias, os macaibenses ora dizem Rua da Cruz, ora Rua Francisco da Cruz.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Ciência brasileira é tema da principal matéria da prestigiosa Science

Ter trabalho mencionado ou publicado na Science é o sonho de todo cientista. Pudera. Publicada pela Associação Americana pelo Avanço da Ciência, é a mais prestigiosa revista de ciência do mundo, ao lado da Nature, inglesa.

A triagem é rigorosíssima. Os critérios para publicação, científicos, mesmo.

Imaginem ser o tema de uma reportagem de seis páginas. É o supra-sumo.

Pois a edição 331 da Science, que começou a circular no dia 06-12-2010, dedica seis páginas à ciência brasileira. É a principal reportagem da edição. Nessa magnitude, é a primeira vez que isso acontece na publicação que já teve como um dos seus editores o genial Thomas Edison (1847-1931), criador da lâmpada elétrica, do fonógrafo e do projetor de cinema, entre outras invenções.

A reportagem começa e termina por Natal (RN). Mais precisamente em Macaíba, que sedia o Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lilly Safra, mais conhecido como Centro do Cérebro, implantado pelos neurocientistas Miguel Nicolelis e Sidarta Ribeiro.

A reportagem destaca também, entre outras, as pesquisas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Petrobras e da Amazônia. Sinceramente emocionante. Uma demonstração clara de que:

1) Lá fora, estão de olho no que se faz aqui.

2) É preciso mudar o modo de gestão científica no Brasil.

3) A Universidade de São Paulo, apesar de ter grande produção científica, está perdendo espaço. Nenhuma pesquisa da USP foi destacada. Sinal de alerta de que há algo errado.

4) O que o Brasil está fazendo em termos de ciência tem sentido.

5) A visão do Centro de Natal de que ciência é agente de transformação social convenceu até os gringos, apesar de ela ainda sofrer resistência e bombardeio de setores da academia brasileira.

A propósito, todos os aspectos da Ciência Tropical estão no artigo da Science. Sinal de que ela é futuro.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Engenho Guaporé e Solar São Francisco

Solar São Francisco, antiga residência do Barão de Ceará-Mirim. Fotos: Anderson Tavares

Cemitério do Solar São Francisco, onde se encontram enterrados os Barões de Ceará-Mirim.

Vista do engenho Guaporé.


Entrada do engenho Guaporé.














Durante uma visita de estudos à histórica cidade do Ceará-Mirim, situada na região metropolitana de Natal, verifiquei com o professor Cláudio Galvão e o pesquisador e bibliófilo Wandyr Villar, o descaso governamental em relação ao monumental prédio do engenho Guaporé. O que está ocorrendo ali é uma violência contra o povo do Rio Grande do Norte, tendo em vista que o palacete do Guaporé está sob a imediata “proteção” do Estado.


O casarão está em completo abandono. Suas portas e janelas constantemente abertas, porque quebradas pela ação de vândalos e criminosos. Os salões sujos e pichados. A antiga escadaria destroçada. Foi triste ver o Guaporé mergulhado na sua lenta agonia. Está perecendo, brutalmente, uma página da história potiguar a exemplo do casarão dos Guarapes, na minha terra Macaíba.

Pude averiguar o misto de angústia e ansiedade que o amigo Gibson Machado, professor e memorialista do Ceará-Mirim, sente ao visitar àquela jóia preciosa da história de sua terra. Ele que é um verdadeiro batalhador na divulgação de sua terra e da sua gente.

Diante de tanto descaso, deparamo-nos com uma iniciativa do resgate do Solar São Francisco, residência dos barões do Ceará-Mirim, hoje integrada a Usina São Francisco e cujo proprietário está realizando um trabalho de restauro da casa.

Fica aqui registrado a nossa revolta diante do descalabro cometido contra o nosso patrimônio histórico arquitetônico, unindo a nossa voz a tantos outros que já escreveram sobre o estado degradante que se encontra o Guaporé, e agradecendo a Deus a saída dessa gente irresponsavelmente inerte e renovando esperanças no governo vindouro, para que seja o restaurador da nossa dignidade histórica-patrimonial.








domingo, 5 de dezembro de 2010

A primeira festa da padroeira de Macaíba

Imagem de Nossa Senhora da Conceição após procissão

A festa de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Macaíba, completará o seu sesquicentenário em 2011. Apresentaremos aqui um relato inédito de como Nossa Senhora da Conceição foi designada padroeira do nascente povoado da Macaíba, fato que ensejou a realização da primeira festa da padroeira e constitui uma das passagens mais belas e emocionantes da história local.

Dos 32 filhos de Fabrício Pedroza havidos de seus três casamentos, Maria Terceira da Silva Pedroza (Terceirinha), fruto do primeiro matrimônio do patriarca macaibense, deixou para deleite de sua família (hoje uma fonte para historiadores) um caderno de notas intitulado: “Aos Meus”, no qual traz a baila uma série de esclarecimentos concernentes a história de Macaíba. Trata-se de um depoimento inédito de valor histórico, antropológico e sociológico que nos permite visão e comentário em torno dos aspectos mais interessantes da nossa cidade, naqueles velhos tempos.

Os cadernos foram milagrosamente guardados no acervo da sobrinha-neta, Sophia de Lyra Tavares, no Rio de Janeiro, de onde retirei várias observações sobre a história de Macaíba.

Um dos apontamentos diz respeito ao translado da imagem da padroeira Nossa Senhora da Conceição da comunidade de Guarapes para o povoado da Macaíba. Sabemos que em 1858, Fabrício Gomes Pedroza e sua terceira mulher Luiza Florinda Pedroza, numa cerimônia festiva, lançaram a pedra fundamental para a construção da capela do povoado e prometeram a doação da imagem da Imaculada Conceição da qual eram devotos. Com o crescimento do lugar era preciso alimentar material e espiritualmente o povo que para ali estava de mudança. Os trabalhos da construção do templo prosseguiram lentamente, sempre com o auxilio material de Fabrício Pedroza e família.

Em 1861, Antônio Pessoa de Araújo Tavares, marido de Guilhermina da Silva Pedroza, filha de Fabrício Pedroza, tendo empreendido viagem de negócios a Corte (Rio de Janeiro), trouxe uma imagem de Nossa Senhora da Conceição para sua esposa. O casal estava se preparando para uma temporada em seu engenho “Marotos”, localizado na cidade de Nazaré da Mata, província de Pernambuco, quando Guilhermina mostrou-se preocupada com o fato da capelinha da Macaíba encontrar-se sem um orago.

São notas de Terceirinha: “Acordaram as manas Guilhermina e Feliciana que o vulto da Imaculada Conceição, comprada na corte pelo meu cunhado Antônio Tavares para presentear a Guilhermina, deveria, com o consentimento do nosso pae, ser imediatamente sagrado como orago da capela em construção na Macaíba".

Maria Terceira da Silva Pedroza (Terceirinha)

Entre os dias 06, 07 e 08 de dezembro de 1861, as irmãs, Guilhermina Tavares, Terceirinha, Josefa Pedroza, Feliciana Maranhão, Ignêz Generosa Tinôco, Maria Militina Tavares, Cândida Minervina Tavares, Maria Elvira Pedroza, Maria da Cruz Pedroza, Joaquina Pedroza, Luiza Pedroza e Áurea Pedroza, auxiliadas por um séquito composto das moradoras de Guarapes, Carnaubinha, Jundiaí e Macaíba, organizaram a procissão do translado.

Segundo Terceirinha: “todas as mulheres trabalharam o arranjo da carruagem que transportaria o vulto da Imaculada Conceição, colhendo nos jardins as flores e rosas mais bonitas que comporiam o cenário. Acertamos que vestir-mos-ia o branco e azul, trazendo os adoremus e terços votivos. Todos os cabrioles, tilburis e demais carros foram solicitados e transportaram enorme quantidade de senhoras e senhorinhas amigas nossas, que se irmanaram no propósito firmado por minhas irmãs”.

E os homens? Estes deliberaram a doação dos Santos Cosme e Damião e organizaram um cortejo que partiu do Engenho Jundiaí (também propriedade dos Pedrozas) e encontrariam as mulheres no alto do Ferreiro Torto. Todos elegantemente trajados “de cartola e fraque”, montados em garbosos cavalos de sela, “traziam nos braços fitas azuis e brancas e medalhas da Senhora da Conceição em suas lapelas”.

Um altar com as imagens de Cosme e Damião e da Senhora Santana foi montado previamente na passagem do Ferreiro Torto onde rezavam, aguardando. “misturavam-se os empregados negros e brancos, meninos e jovens, liderados ao passo lento do cavalo de papai e de meus irmãos e cunhados”. Distinguia-se entre outros homens: Antônio Alecrim, Delmiro Carneiro de Mesquita, João Evangelista de Vasconcelos Lima, Vicente de Andrade Lima, Feliciano de Lyra Tavares, Ismael César Duarte Ribeiro, Manoel Modesto Pereira do Lago e Manoel Joaquim Teixeira de Moura.

O Cortejo era guiado por Fabrício Pedroza, os filhos Francisco Pedroza, Inácio e Francisco Pedro Bandeira de Melo Neto; os genros Amaro Barreto Maranhão, Antônio, Francisco e Miguel Tavares e João Juvenal Tinôco.

Ao se encontrarem, as procissões confraternizaram e seguiram pelas ruas de chão batido e com os poucos lampiões existentes, que queimavam azeite de mamona, entoando cânticos de glória e louvor a Nossa Senhora da Conceição, Santos Cosme e Damião. As poucas residências por onde iam passando, estavam enfeitadas com flores e o povo em suas melhores roupas ia se juntando a procissão, contritos de fé e abraçando sua padroeira.

A imagem de Nossa Senhora da Conceição seguiu em uma carruagem de quatro cavalos conduzida por Nhá Maroca, Judite, Mãe Luiza Pedroza, Guilhermina Tavares, Feliciana Maranhão e Ignêz Tinôco, além dos anjinhos Maria da Cruz, Joaquina, Áurea e Luiza Pedroza.

Luiza Pedroza, coroou pela 1ª vez a imagem de Nª Sª da Conceição

Chegando ao terreiro da igreja, já se concentrava muitas pessoas e devido o tamanho da capela, entraram as irmãs e os religiosos que depois de sagrarem a imagem como orago, “deu-se o coroamento da Imaculada Conceição em presença da multidão por minha pequena mana Luiza, que esteve bela. Depois do que uma enorme salva de palmas irrompeu do povo presente. Essa foi a primeira festinha que se deu em honra a excelsa Imaculada Conceição de Maria. Feliz o povoado que nasce sob a proteção de tão boa mãe e rainha”.

Após a cerimônia e mesmo durante a chegada do préstito houve inúmeras girândolas e músicas tocadas por uma banda vinda de Natal. Organizaram-se várias barraquinhas onde serviam as comidas típicas, algumas hoje quase desconhecidas: os pastéis de carne de porco, o chouriço, os doces secos, os sequilhos, as castanhas de caju confeitadas. Uma enorme mesa foi posta e todos tomaram parte nela, assistindo aos festejos seguintes que durariam até a manhã seguinte.


A festa profana, por esse tempo, era mais viva e reunia todos os folguedos da região. Assim, os homens organizaram corridas de argolinhas e apresentação de pastoril. A autora refere ainda que saíram às ruas o maracatu, o batuque e o Bumba-meu-boi, folguedo da preferência de Fabrício Pedroza.Embora Jundiaí e Guarapes tivessem Nossa Senhora da Conceição como padroeira, esse depoimento apresenta a primeira manifestação religiosa especificamente ligada a festa da padroeira de Macaíba, que em 2011 completará 150 anos.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

II Encontro de Genealogia do Seridó

De 26 a 28 deste mês de novembro acontecerá o II Encontro Norteriograndense de Genealogia no auditório do Centro Pastoral Dom Wagner, em Caicó.

No Encontro haverá palestras, mesas redondas, homenagens, dentre outras atividades que envolvem a genealogia das famílias do Seridó. Contaremos com a presença de estudiosos, pesquisadores e escritores de diversos estados nordestinos (RN, PB, CE e PE).

Um dos destaques do evento será a homenagem a Dom José Adelino Dantas que se hoje estivesse vivo estaria completando 100 anos. O Monsenhor Ausônio Tércio de Araújo presidirá a palestra que homenageará o centenário de seu nascimento. "Dom Adelino", foi um homem ligado as artes, a cultura e conhecedor profundo das origens das famílias do Seridó.


Maiores informações sobre o evento, através do e-mail:aryssonsoares@hotmail.com ou pelo telefone 9991-6516.


PROGRAMAÇÃO:
Sexta-Feira (26.11.10): 18:30 às 22:00;
Sábado (27.11.10): 07:30 às 12:00 / 14:00 às 17:00 / 19:00 às 22:00;
Domingo (28.11.10): 07:30 às 12:00.

sábado, 20 de novembro de 2010

José Bezerra de Araújo Galvão: O patriarca do Seridó


Coronel José Bezerra de Araújo Galvão. (Foto Acervo: Anderson Tavares de Lyra)



Estátua do Cel. José Bezerra em Currais Novos/RN, inaugurado em 16-11-1953. Foto: Anderson Tavares de LyraBusto do Cel. José Bezerra, em Currais Novos/RN inaugurado em 05-02-1927. Foto: Anderson Tavares de Lyra



Nunca um coronel no Estado do Rio Grande do Norte teve mais poder e prestígio do que José Bezerra de Araújo Galvão, de Currais Novos. Um poder imposto pela palavra sincera e conselheira; um prestígio emanado da amizade que dispensava a tantos quantos lhe recorressem em fases difíceis e, por isso mesmo, José Bezerra exerceu o seu poder dentro de um coronelismo paternalista, um coronelismo protetor.

O Coronel José Bezerra ou popularmente coronel Zé Bezerra d’Aba da Serra, já sublimou-se em personagem mítico na historiografia potiguar. Não se pode discorrer sobre a fase histórica conhecida por “coronelismo” sem mencionar-lhe a figura e os feitos.

No Seridó potiguar, foi um autêntico senhor feudal em todos os sentidos. De Currais Novos, onde fixou sua chefia foi guia de toda uma população. Para se ter uma noção da representatividade de José Bezerra, recorreremos a afirmação de Veríssimo de Melo em Patriarcas e Carreiros:

(...) O seu nome soava como uma nota de clarim, vibrando nas quebradas das serras e dos vales, como um defensor da honra alheia, dos limites da propriedade privada, da moça ofendida, do pobre que apelava para a sua proteção, defensor dos hábitos e costumes do seu povo, transformados por sedimentação de vários séculos em norma de vida ou código de lei.

Nascido na cidade de Acari, na histórica fazenda Ingá, no dia 18 de dezembro de 1843. Seu pai foi o capitão Cipriano Bezerra Galvão (*1809 +1899), descendente direto dos povoadores do Seridó, entre os quais o afamado capitão-mor Galvão, fundador da cidade de Currais Novos. Sua mãe a senhora Isabel Cândida de Jesus (*1819 +1873), pertencente, igualmente, a linhagem não menos ilustre dos desbravadores do sertão potiguar. Possuiu vários irmãos, todos dignos e honrados nas comunidades onde se instalaram. Destaque para o Cel. Silvino Bezerra de Araújo Galvão, chefe da cidade de Acari e vice-governador do Rio Grande do Norte, na chapa de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão.

O jovem José Bezerra, de estatura alta, forte, de constituição robusta, entregou-se, em moço, aos esportes favoritos dos rapazes ricos e de boa família da época: - a equitação, as vaquejadas, as lutas perigosas e emocionantes com os barbatões bravios criados em vastos campos abertos e nas caatingas cerradas. Todos os seus ancestrais foram fiéis ao signo da terra e da criação. Homem do campo, José Bezerra possuiu as mais belas e importantes propriedades da época no Seridó. Nascido na fazenda Ingá morou em seguida na fazenda Bulhão, transferindo-se em 1880, para a Aba da Serra, seu quartel general de toda a vida. Era o seu feudo. O território sagrado de sua ação benfazeja.

Senhor de terras, criador e liderança política acatada José Bezerra foi ainda muito moço apontado pelo presidente da província do Rio Grande do Norte para ser membro da Guarda Nacional, sendo a sua primeira patente naquela organização a de capitão da 4ª Companhia do Batalhão nº. 17 da Guarda Nacional em Acari, em 1869. Em 1877, foi convidado para ser delegado em Acari onde desenvolveu uma ação pronta, enérgica e tão justa, que apesar da forte repressão exercida contra os delinquentes de várias espécies, não criou inimigos. No ano de 1886 foi nomeado coronel comandante superior da Guarda Nacional da Comarca do Jardim, em decreto assinado por sua majestade imperial Dom Pedro II. Em 1893, foi reformado neste posto pelo decreto do então vice-presidente da República marechal Floriano Peixoto.

Convém destacar, que durante sua vida, o município de Currais Novos nunca foi policiado por força governamental. Os seus homens de confiança eram os guardiões da segurança da cidade, do município e da redondeza. Vem daí, em grande parte, o seu prestigio, a sua força moral perante o povo bom, honesto e simples do sertão.

Toda essa situação, toda essa liderança exercida com moderação e prudência deu margem para que em Currais Novos durante muito tempo a máxima “O estado sou eu”. O município era ele. A lei era ele. O Juiz, o Delegado, o padre era ele. Tudo isso dentro do decoro, da prudência e da polidez que o seu nome de homem superior, inteligente, experimentado, abrangia sem dizer que estava mandando.

Foi um católico adiantado no meio em que vivia, bem à sua maneira frequentando as missas todos os domingos, contudo, sem se confessar. Afirmava que Deus quando deu inteligência ao homem, foi para ele se dirigir na vida. Reconhecia e não se cansava de dizer que a existência de Deus era um fato inegável, constituindo, além disso, uma necessidade na vida do homem.

Desde os tempos do Império, quando militava nas fileiras do Partido Liberal, fazendo política em Acari com o mano Silvino, que o Cel. José Bezerra, por todas as suas qualidades paternais e com a sabedoria de fazer política, ouvindo os seus companheiros e dividindo com estes as responsabilidades dos cargos que viria a exercer, que desmembrado o município de Currais Novos do de Acari que Zé Bezerra passou a chefiá-lo, por exigência de seus amigos, e agiu com tanta inteligência e liberalismo que a população unânime cerrou fileiras em torno de sua pessoa.

Na cidade de Currais Novos foi Presidente da Intendência por dois mandatos 04-04-1892 a 02-10-1892 e de 01-01-1915 a 30-12-1926, ocasião na qual criou a primeira escola do Totoró. Estimulou a construção da estrada de automóveis do Seridó, convidando seus familiares e amigos para adquirir ações da sociedade anônima que estava a frente do empreendimento. Posteriormente, observando não serem cumpridas cláusulas contratuais retirou-se com seus liderados da sociedade.

Ainda sobre a ação de José Bezerra na política da sua terra se faz mister citarmos as observações de Veríssimo de Melo: Delegado de polícia em Acari e Currais Novos, delegado escolar e intendente (Prefeito) de Currais Novos, aceitou-os tendo em vista o desejo de trabalhar pelo progresso de terra e do povo, uma vez que esses cargos nada rendiam e só lhe traziam aborrecimentos e desgostos.

Debrucemo-nos agora sobre o patriarca da Aba da Serra. Sobre o chefe do clã cujas ramas espalharam-se pelo mundo, carregando o sangue de um home fiel às suas raízes. O coronel José Bezerra casou em 09-01-1872 com a prima Antônia Bertina de Jesus, filha do coronel João Damasceno Pereira de Araújo, e com a qual constituiu uma família composta de 13 filhos:

F.01 Absalão de Araújo Galvão *1873 +1894 (surdo-mudo), faleceu solteiro;

F.02 Salomão *1874;

F.03 Auta Bezerra de Araújo *1875 +1934 casada com Cel. Moisés de Oliveira Galvão *1869 +1927, filho de Francisco de Oliveira Galvão e Francisca Alexandrina de Oliveira;

F.04 Francisca Xavier de Araújo *1876 +1929, casada com Major Ladislau de Vasconcelos Galvão *1874 +1943, filho de Cipriano Lopes de Vasconcelos Galvão e Maria Marcionila de Vasconcelos;

F.05 Isabel Bezerra de Araújo *1878 +1955 casada com Francisco Braz de Albuquerque Galvão *1873 +1938, filho de Sérvulo Pires de Albuquerque Galvão e Josefa Bezerra de Jesus;

F.06 Major Napoleão Bezerra de Araújo Galvão *1881 +1953 casado com Veneranda Predicanda Bezerra de Melo *1886 +1983, filha de Luis Gomes de Mello Lula e Maria Idalina da Rocha;F.09 falecido criança;

F.07 José Bezerra de Araújo Galvão Filho (Zeca) *1884 +1939 (surdo-mudo), solteiro;
F.08 Tereza Bertina de Araújo (Tetê) *1885 +1976 casada com Thomaz Salustino Gomes de Mello *1880 +1963, filho do Cel. Manoel Salustino Gomes de Macedo e Ananília Regina de Araújo;

F.09 Jeremias Bezerra de Araújo Galvão *1887 +1940 casado com Tereza Augusta Bezerra de Araújo *1890 +1937, filha de Félix Pereira de Araújo e Maria Getúlia Bezerra de Araújo Galvão. E em segundas núpcias com Maria Salomé de Vasconcelos *1890 +1970;

F.10 Antônio Bezerra de Araújo *1888 +1943 casado com Rita Alzira de Araújo *1887 +1935, filha de Manoel Salustino Gomes de Macedo e Ananília Regina de Araújo. E em segundas núpcias com Tereza de França Bezerra *1911 +1980;

F.11 Maria *1889 +1890;

F.12 Anunciada *1890, falecida criança;

F.13 Lídia *1892, falecida em tenra idade.

Essa família se desdobrou em inúmeros descendentes, muitos dos quais atuantes no cenário político do Rio Grande do Norte como: Quintino Galvão (neto), ex-prefeito de Currais Novos; José Braz (neto), ex-prefeito e líder político de Acari; Silvio Bezerra de Melo (neto), ex-prefeito de Currais Novos; Zé Lins (trineto) ex-deputado estadual e ex-prefeito de Currais Novos; Fábio Faria (trineto), deputado federal pelo RN, José Bezerra de Araújo (neto), senador pelo RN em 1965 e ex-prefeito de Currais Novos; José Bezerra de Araújo Júnior (bisneto), senador do RN. Vale destacar os sobrinhos que atuaram na política do RN ainda em vida de José Bezerra – Juvenal Lamartine e José Augusto Bezerra.

O intelectual escritor José Bezerra Gomes, também era neto do velho patriarca sertanejo. Enfim, uma estirpe com relevantes serviços prestados ao Rio Grande do Norte e em especial a região do Seridó.

Por fim, os últimos anos do coronel José Bezerra de Araújo Galvão foram mansos e calmos. Idoso, atravessava as ruas de Currais Novos, alto, firme, barbas longas e alvas. Vestindo o tradicional paletó de alpaca por sobre calça de brim branco, firmando-se no seu cajado encastoado em prata maciça. Faleceu às 16 horas do dia 05 de fevereiro de 1926. Seu corpo foi levado pelos currais-novenses até a divisa dos municípios, onde foi entregue aos acarienses, que o sepultaram no cemitério local. Os seus restos mortais encontram-se, com os de sua esposa, em ossuário numa das paredes da Matriz de Nossa Senhora da Guia. Recordando o personagem José Bezerra, assim descreveu Assis Chateaubriand:

Era divinamente telúrico. Exercia caciquismo naturalmente, como quem bebia água ou tomava pinga. Lealdade, fervor das coisas públicas, firmeza de convicções, eram os sucos das suas reservas. Imperava soberano, na latitude do Seridó, o Matusalém Riograndense do Norte.

Foi um autêntico patriarca. Era o tipo acabado do coronel sertanejo. O coronel José Bezerra, como José Bernardo e Silvino Bezerra, pertenciam a essa privilegiada aristocracia rural, dos coronéis seridoenses, a cuja ação social e política o Rio Grande do Norte tanto deve, porque, na verdade, todos eles foram fatores importantes de equilíbrio, disciplina e estabilidade na paisagem rude e livre da vida sertaneja.


Dele se podia dizer o que de um outro chefe do Seridó disse um historiador de nossa terra: o velho José Bezerra, de espírito lépido e frase pronta, granito das serras, ouro das minas, bondade dos invernos, doçura das noites, é o príncipe da mais legitima e linda de todas as dinastias do mundo, a do trabalho, da dignidade e do coração.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Os 90 anos de Sua Eminência o Cardeal Sales

Cardel Sales


Dom Eugênio com o Papa João Paulo I, em 1978.

Dom Eugênio e o Papa João Paulo II.


Dom Eugênio e o Papa Bento XVI.



Brasão Cardinalíceo de Dom Eugênio de Araújo Sales.

Sertão do Seridó – Terra forte e bela. Em seu cerne mineral, o milagre do amor: homens e mulheres, fortes e destemidos. Como os habitantes, seus desbravadores, povoadores primeiros. Dessa gênese, os homens comuns, os letrados, os artistas, os religiosos, legando amor, sabedoria, criatividade, religiosidade. Destes, aquele que de seu coração e de sua alma fez brotar o amor aos homens e ao Cristo, doando-se ao Ministério de Deus.

Homem de Fé: Dom Eugênio nasceu na Fazenda Catuana, em Acari (RN), no dia 8 de novembro de 1920, sendo filho do Dr. Celso Dantas Sales e D. Josefa de Araújo Sales (Téca) e irmão de Dom Heitor de Araújo Sales, Arcebispo Emérito de Natal, Rio Grande do Norte. Foi batizado na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Guia, em Acari, no dia 28 de novembro de 1920. De família muito católica, era bisneto de Cândida Mercês da Conceição, uma das fundadoras do Apostolado da Oração na cidade de Acari.


Menino desta paisagem agressiva do sertão: inteligente, irrequieto, curioso...Sua vida – uma preocupação com a evangelização do povo. Sacerdote, Bispo, Arcebispo, Cardeal a 1º de maio de 1969 (Titular de São Gregório), concedido pelo Papa Paulo VI. Dom Eugênio de Araújo Sales costuma dizer: “eu sou do sertão. Deus me indicou os caminhos do mundo, eu só tinha que obedecer.”


De família muito católica, realizou seus primeiros estudos em Natal, inicialmente em uma escolar particular, depois no Colégio Marista e finalmente ingressou, em 1931, no Seminário Menor. Realizou seus estudos de Filosofia e Teologia no Seminário da Prainha, em Fortaleza, Ceará, no período de 1931 a 1943.


Ordenado bispo ainda muito jovem, aos 33 anos, assumiu como bispo auxiliar de Natal em 1954, e em 1962 tornou-se administrador apostólico dessa mesma arquidiocese. Em 1964 tomou posse como administrador apostólico de Salvador, sendo elevado a arcebispo dessa sede em 1968, tornando-se, assim, primaz do Brasil (isto é, arcebispo da diocese mais antiga do país).


Em 1969, Dom Eugênio Sales foi feito cardeal pelo papa Paulo VI. Em 1971 tornou-se arcebispo do Rio de Janeiro, função em que permaneceu até 2001, quando se aposentou. Desde então é arcebispo emérito. Entre 1972 e 2001 acumulou também a função de bispo dos fiéis de Rito Oriental do Brasil. Foi também membro de 11 congregações na Cúria Romana. Sua vida apostólica foi marcada pela defesa da ortodoxia católica e pela oposição à Teologia da Libertação.


Destacam-se dentre as atividades de Dom Eugênio, a criação do Movimento de Educação de Base e, com ele, as escolas radiofônicas; a criação dos primeiros sindicatos rurais; a defesa de refugiados políticos; a criação de centros de atendimentos aos portadores de AIDS, a criação da pastoral carcerária e a Campanha da Fraternidade que foi realizada pela 1a. vez na Quaresma de 1962 nas três dioceses da Província Eclesiástica do RN: Natal, Mossoró e Caicó.


Intelectualmente ativo, Dom Eugênio mantém colunas nos seguintes jornais: Jornal do Brasil, O Globo, O Dia e Jornal do Comercio. Além de ter publicado os livros A Voz do Pastor; Viver a Fé em um Mundo a Construir.


Dom Eugênio também ficou conhecido por ajudar perseguidos políticos durante o regime militar. Fato interessante narrado por reportagem da revista Veja de 1991, diz que em plena treva do Regime Militar, o grampo do Centro de Investigações do Exercito, o famigerado CIE, capturou um momento de indignação do cardeal. Dom Eugênio se queixava com a sua interlocutora, lamentando que determinado preso político continuava a ser torturado, mesmo depois de promessas de que estava sendo bem tratado.


No dia seguinte, telefona um coronel para dizer a Dom Eugênio que ele estava enganado. A combinação funcionou. O cardeal usou o grampo para saber de uma informação que, apesar do seu trânsito na área militar, não conseguiria de outra maneira.


Esse engajamento incluiu, no período compreendido entre 1976 e 1982, a defesa de refugiados políticos não só do Brasil, mas também dos regimes militares latino-americanos. Dom Eugênio montou, nessa época, uma rede de apoio a esses refugiados, abrigando-os, primeiramente, na sede episcopal (Palácio São Joaquim) e depois em apartamentos alugados com essa finalidade. Contou com apoio da Cáritas brasileira e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados para financiar essa estadia, até conseguir asilo político a essas pessoas em países europeus.


Numa terra regada pelo sangue dos primeiros mártires da fé, Dom Eugênio atingiu os mais elevados postos na Hierarquia Eclesiástica do Brasil e do Mundo, graças às suas promoções pastorais, ao seu pioneirismo no campo social em natal, Salvador e Rio de Janeiro. É, por todos os títulos um orgulho da terra potiguar.

"De mui boa vontade gastarei o que é meu, e me gastarei a me mesmo, pelas vossas almas, ainda que, amando-vos mais, seja menos amado por vós". (Cor. 12,15).

Ad Multos Annos!!


terça-feira, 9 de novembro de 2010

1º aniversário de falecimento de Sophia Lyra

Luiz da Câmara Cascudo e Sophia Lyra. (Foto acervo Anderson Tavares)


Tendo em vista o transcurso do primeiro aniversário do falecimento de D. Sophia Augusta de Lyra Tavares, ocorrido no Rio de Janeiro em 09 de novembro de 2009, este blog rememora a ilustre primogênita do Ministro Augusto Tavares de Lyra e Sophia Eugênia Maranhão com uma imagem de sua visita ao escritor Luiz da Câmara Cascudo em 1984.

D. Sophia Lyra nascida no Rio de Janeiro em 11 de novembro de 1903 foi casada com o seu primo Dr. Roberto de Lyra Tavares, renomado jurista brasileiro e com ele teve Sophia Rosa e Roberto Lyra Filho, ambos falecidos sem descendência.


A professora Drª Arisnete Câmara, do Departamento de Educação da UFRN, estudiosa da obra da escritora Sophia Lyra e, desde 27 de outubro passado fundadora da cadeira nº 25 da Academia Macaibense de Letras, cuja patrona é Sophia Lyra, destaca:


“Através de suas memórias, vêm à baila problemas sociais que dizem respeito à convivência entre os sexos, e especificamente ao momento em que a mulher buscava novas conquistas para além da busca da leitora pela leitora através dos jornais. Essas memórias abrem-se em leque de perspectivas para outros trabalhos, outras comparações, outras representações e práticas efetivas de uma história da mulher, decididamente relacional, fortalecendo os elos culturais e históricos de leituras memorialísticas a serem contadas e analisadas, cujos limites ainda são o mar Mediterrâneo e o oceano Atlântico”.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Sobre a pesquisa genealógica




O vocábulo genealogia é composto pelas raízes gregas gen (geração) e logos (estudo), que, por si só, já indicam o significado da palavra: o estudo das gerações, ou melhor, o estudo das famílias. É a sua recomposição no tempo e no espaço. Logo, genealogia e história são inseparáveis. Desnecessária é a genealogia sem uma história que a complemente, que lhe dirija sob todos os ângulos a direção da pesquisa familiar.

A pesquisa genealógica permite-nos, também, conhecer o que se passou no mundo antes de nós e melhor entender o que ocorre nos dias de hoje, uma vez que a História costuma repetir-se.


Há muitas obras já publicadas no campo da Genealogia, propiciando-nos a sua leitura não só o encontro de parentes e informações preciosas, como também o aumento de nossos conhecimentos sobre os costumes da época de nossos antepassados e sobre os lugares em que viveram. Passamos a entender os motivos por que mudavam de um local para outro, por que razão muitas mulheres morriam com pouca idade, o que levou alguns à perda de grandes fortunas e outros à conquista de expressivo patrimônio, e assim por diante.


A Genealogia é uma das mais belas e úteis ciências, quando cultivada em função da terra e do sangue. A preocupação absorvente da gleba e da Família, do apego ao chão e às tradições domésticas, fecunda as raízes das árvores genealógicas que são áridas e frias, inexpressivas e mudas quando redundam em simples enumeração de ascendentes e descendentes.


Florescem os seus ramos, enfeitam-se de cor e de som, animam-se, enchem-se de vida, esmaltam-se de glória sentida e compreendida, quando investigamos nos alfarrábios e tiramos do pó o espírito dos antepassados, para viver suas existências, comungar suas obras, beber suas lições, impregnar-nos de suas virtudes e do heroísmo de seus martírios.


A consangüinidade, ligando um número relativamente grande de indivíduos, permite ao genealogista a tomada de dados que, reunidos em forma conveniente, podem servir para o estudo analítico de caracteres hereditários importantes, revelando, ao mesmo tempo, o valor de cada um dos antepassados, pela transmissão de aptidões intelectuais, particularidades de temperamento, traços físicos, etc.


Os quadros genealógicos não devem, portanto, ser constituídos unicamente de nomes e de datas. A simples descrição de ascendentes e descendentes torna as árvores genealógicas inexpressivas, áridas e vãs.


A Genealogia moderna, aperfeiçoando seus métodos de pesquisa histórica, ilustra-os com informações detalhadas sobre os fatos principais de cada pessoa, sua carreira, hábitos, traços físicos, atributos intelectuais e outros.


Reunir a vida dessas famílias cuja sombra cobre regiões infinitas é possuir verdadeiramente a explicação social e religiosa do nosso passado.

sábado, 30 de outubro de 2010

Membros da Academia Macaibense de Letras


Da esquerda para a direita, de pé: Anderson Tavares, Osair Vasconcelos, João Batista Xavier, João Marcelino, Héverton Duarte, Racine Santos, Rui Santos, Júscio Marcelino, Ivoncisio Meira Medeiros, Olímpio Maciel, Nássaro Nasser, Armando Holanda, Wellington Leiros, Jansen Leiros, Valério Mesquita, Cícero Martins de Macedo Filho e Roosevelt Garcia. Sentados na mesma ordem: Raimundo Ubirajara de Macedo, Maria de Lourdes Alves Leite, Odiléia Mércia da Costa, Elizebeth Násser, Sheyla Ramalho, Maria Arisnete Câmara de Morais, Neta Peixoto, Carlos Gomes e Rivaldo de Oliveira.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Maria Alice Fernandes



Maria Alice Fernandes é um dos grandes exemplos de desprendimento e humanitarismo dados pela mulher potiguar. Formada como obstetriz pela Faculdade de Medicina de Recife e aluna interna do Hospital das Clinicas da Universidade Federal de São Paulo, fez, posteriormente, cursos de pós-graduação na Alemanha, Japão e Suíça.
Mais de 42 anos, ela dedicou sua vida aos pobres. Principalmente aos cancerosos pobres do Hospital Luiz Antônio, onde Maria Alice Fernandes é uma espécie de anjo da guarda. Na sua luta pelo Hospital, ela se transforma e se agiganta. A pequena mulher aceita até desafio, chegando a avalizar compra acima do seu orçamento doméstico. “O importante é servir ao hospital. O dinheiro aparece depois”, dizia.

Casou-se aos 14 anos com Francisco Fernandes Costa, segundo ela o pai da Odontologia no Rio Grande do Norte, e com ele teve apenas um filho, Ferdinando Fernandes Costa, que considerava "um filho excelente". Teve o filho aos 15 anos. É a única obstetriz do Rio Grande do Norte formada pela USP, onde defendeu tese de doutorado. Veio para o Estado e aqui realizou 13.987 partos.


Aluna brilhante, desde o curso primário em Macaíba, onde nasceu, o ginásio na Escola do Comércio e conclusão em Recife. Lá concluiu também o curso Científico. Fez um curso de obstetriz, em São Paulo, e ganhou uma bolsa para a Suíça. Passou quatro meses em Zurique. Retornou ao País e veio trabalhar aqui no seu Rio Grande do Norte.


Aposentou-se e continuou seu trabalho como fundadora da Liga Norte-rio-grandense contra o Câncer. Mantenedora do Hospital Luiz Antônio. Maria Alice ou Maralice, para os amigos, falava com fluência lembrando a menina desinibida oradora de turmas por onde passou.


“Eu não gosto de falar sobre mim. Prefiro falar do Hospital Luiz Antônio”., onde Maria Alice Fernandes é nome de uma sala de cirurgia colocado a sua revelia. Empreendeu inúmeros bingos, festas e promoções em prol do hospital. Desde a ampliação das salas de cirurgias, à aquisição do acelerador Linear adquirido através de uma campanha em todo o Estado. Na época, o governador José Agripino lançou um desafio a Maria Alice, caso ela conseguisse a metade do dinheiro do acelerador, o Estado entraria com a outra metade. Maria Alice conseguiu e o aparelho foi comprado nos EUA por US$ 600 mil dólares.


Nas entrevistas que concedeu, Maria Alice Fernandes falava do hospital Luiz Antônio com entusiasmo. Chegando mesmo às lagrimas. Lamentava o isolamento do doente pobre que após uma quimioterapia recebe dez dias de licença para passar em casa com a família e ninguém vem buscá-lo. Maria Alice colocava o doente no carro e ia deixá-lo em casa, onde faz uma preleção para sua família, onde afirmava que o doente precisa do apoio de todos. Principalmente dos seus familiares. Ajuda na recuperação.


Maria Alice Fernandes fez diversas viagens pela Europa e EUA, de onde trazia pratos oriundos de cada país visitado para compor uma coleção variada. Foi diretora do Lions Clube Leste, onde conseguiu chamar a atenção deste clube de serviços para diversos melhoramentos no hospital Luiz Antônio. Pertencia ainda a Sociedade Amigos da Marinha – Soamar – fundadora da Liga Norte-riograndense contra o câncer e da Rede Feminina Contra o câncer.


Morou algum tempo nos EUA, onde fez um curso de inglês como sua segunda língua. Foi professora deste idioma na Sociedade Brasil-Estados Unidos e na Escola Doméstica de Natal, onde introduziu o inglês no primário, lecionando gratuitamente para as crianças.


Apesar de uma vida agitada, Maria Alice guardava tempo para a poesia, seu poeta era Carlos Drumond de Andrade, já os autores prediletos foram Machado de Assis, Malba Tahan, Raquel de Queiroz, Lin Yutang e Gilbran Kalil Gilbran.


Assim foi Maria Alice Fernandes, um verdadeiro anjo da guarda do Hospital Luiz Antônio, juntamente com 40 voluntários ajuda nessa tarefa diária de manter o hospital e amenizar a dor do próximo. Sobre o que ela afirmava: “aliviar o sofrimento do próximo me dá uma imensa paz interior. E como compensação Deus tem sido muito generoso comigo”.


Faleceu no Rio de Janeiro em 16 de fevereiro de 1990, sendo o seu corpo transladado num avião cedido pelo Estado do RN para ser sepultado em Natal.


Todo o seu empenho pela saúde fez com que o governo do Rio Grande do Norte, em 1999, nomeasse o mais novo hospital pediátrico de Maria Alice Fernandes. Com a fundação da Academia Macaibense de Letras, em setembro de 2010, Maria Alice foi escolhida patrona da cadeira nº 23, cujo fundador é o odontólogo e escritor Héverton Duarte.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

João Alves de Melo

João Alves de Melo


Fotógrafo, jornalista e escritor, nasceu João Alves de MeIo na fazenda Pitombeira, município de Macaíba - RN, no dia 19 de maio de 1896. Filho legítimo de Luiz Alves de MeIo e Belmira Emília de Macêdo. Aos seis anos de idade foi batizado no engenho Taborda, em São José de Mipibú, por ocasião da visita pastoral do Padre João Maria, sendo seus padrinhos o Dr. Henrique Castriciano de Souza e D. Zenóbia Ribeiro de Souza. Casado civilmente com Guiomar Ayres de MeIo, na cidade de Mossoró, perante o Dr. Antonio Soares e as testemunhas Dr. Eliseu Viana e Celina Guimarães, e no religioso, que se realizou no Convento Santo Antonio, celebrado pelo missionário Frei Damião de Bolzzano.

Iniciou seus estudos na cidade de São José com o prof. João Militão. Entrou, depois, no Colégio Santo Antonio (Marista), sendo seu professor Clodoaldo de Goes. Continuou seus estudos com o prof. Zuza, em Natal. Convidado pelo Sr. João de Miranda Galvão, fotógrafo muito comentado na sociedade natalense, João Alves aprendeu todos os segredos de fotografar, instalando seu atelier na travessa Quintino Bocaiúva, na Ribeira, passando depois para a Dr. Barata onde João Alves mantinha uma exposição permanente de fotos antigas e inéditas de Natal e que nos últimos anos servia de ponto de encontro entre intlectuais potiguares.

Além da cidade do Natal como paisagem natural, o fotógrafo documentou a história do Estado, fotografando os grandes acontecimentos, tais como a visita de Eva Perón, do Rei Faissal da Jordânia, do ator americano Tyrone Power; bem como a instalção da Assembleia Constituinte do RN.


Era sócio efetivo da Associação Brasileira de Imprensa, ABI - Rio de Janeiro, desde 1939. Sócio fundador da Associação norte-rio-grandense de Imprensa com os companheiros João Medeiros Filho, Dioclécio Duarte, Luís da Câmara Cascudo, Otto Guerra e Aderbal de França. Membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.


Publicou vários trabalhos de pesquisa, em revistas como "A Cigarra" e "Bando". De sua, autoria são os livros: "Natureza e História do Rio Grande do Norte" – 1º volume, em 1969, e "Boi Calemba" (Folclore), lançado em 1976. Ainda inédito há um documentário em dois volumes sobre a segunda guerra mundial.


Faleceu João Alves de MeIo em 7 de outubro de 1980, já viúvo, deixando os seguintes filhos: Lêda, Bueno, Wellington, Gioconda, Frederico, Edmundo e Luiz. Na época de seu falecimento o seu filho Edmundo Melo afirmou: "a fotografia era para ele a prórpia vida. Nunca deixou de fotografar, apesar da doença e de já trêmulo".

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O primeiro casamento civil da Macaíba

Com o advento da República, houve a separação da Igreja do Estado e uma série de atos formalizou essa separação, como a instituição do casamento civil. A partir de então, tanto os casamentos quanto os nascimentos e óbitos teriam a chancela do Estado, através dos respectivos registros nos cartórios competentes.

Em Macaíba, assim como em diversas partes do Brasil, muitas pessoas insurgiram-se contra a nova lei. Para elas, continuava em voga as certidões religiosas – como batistério e demais documentos. O Cel. Feliciano de Lyra Tavares foi perseguido pelo vigário de Macaíba por ter celebrado o primeiro casamento civil de São Gonçalo do Amarante onde era Juiz de Paz. A ira do padre foi tanta que acabou por excomungar Feliciano de Lyra Tavares, negando-lhe assento em sua própria tribuna de honra na matriz local.


Recorrendo aos arquivos do cartório local, encontrei o registro do primeiro casamento civil registrado em Macaíba. Do documento consta a união de João Paulino Damasceno Cunha e Emília Benvinda Barbosa Tinôco, a noiva era de família há muitos anos radicada em Macaíba. Foram testemunhas o comendador Umbelino de Mello e o major Afonso Saraiva, gente de prol e mando no pequeno universo local. Segue a certidão copiada Ipsis litteris.


Aos vinte e um dias do mês de fevereiro de mil oito centos e oitenta e nove, nesta Villa Districto de Paz da Paróchia de Nossa Senhora da Conceição da Macahyba, Província do Rio Grande do Norte, comparecerão no meo cartório João Paulino Damasceno Cunha e Emília Benvinda Barbosa Tinôco: elle de trinta e seis annos, natural da Villa de Papary e residente nesta Villa da Macahyba onde exerce a profissão de caixeiro, filho legitimo de Felizardo Francisco da Cunha, já fallecido e de Felisarda Conceição natural de Papary e residente em Ceará-Mirim, e a nubente com idade de vinte annos, natural da cidade do Natal e residente nesta Villa, sendo filha legitima de Aleixo Barbosa da Fonseca Tinôco, natural da cidade do Natal e Benvinda Francelina Barbosa Tinôco natural da cidade de São José, e moradora na cidade do Natal onde falleceu.

Exhibindo de (...) parocho d’esta matris José Paulino de Andrade, em dacta – digo data de vinte e um de janeiro do corrente anno, perante as testemunhas abaixo mencionadas e assignadas – que no dia desenove de janeiro do corrente anno, as sette horas da tarde, forão recebidos em matrimonio na matriz desta Villa com a assistência do referido parocho da mesma por concentimento do pae da noiva, por esta ser menor de idade, observando todas as formalidades dos casamentos feitos no Brasil, e forão testemunhas o comendador Umbelino Freire de Gouveia Mello, casado, com a idade de quarenta e cinco annos, commerciante, natural da Província da Parahyba do Norte e morador nesta Villa, e o major Affonso Saraiva de Maranhan, casado, idade de trinta e seis annos, commerciante, natural da província de Alagoas e morador nesta mesma Villa. Do que para constar, lavrei este assento em que comigo assignarão os declarantes e as testemunhas já mencionadas, aos quais foi lido o presente assento e acharão conforme. EU Belarmino Pinto de Oliveira e Castro, Escrivão de Paz o escrevi.


Belarmino Pinto de Oliveira e Castro

João Paulino Damasceno Cunha

Emília Benvinda Barbosa Tinôco

terça-feira, 5 de outubro de 2010

CONVOCAÇÃO DE ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA





O escritor JANSEN LEIROS FERREIRA, na condição de Presidente Provisório da Academia Macaibense de Letras – A.M.L., criada na Assembleia Especial realizada no dia 12 de setembro passado, no Solar Caxangá em Macaíba, CONVOCA os Acadêmicos que compõem a novel Instituição Cultural para comparecerem à Assembléia Geral Extraordinária, para atenderem à seguinte pauta:
Data: dia 09 de outubro de 2010;


Horário: 9:00 (nove) horas, em primeira convocação com 13 (treze) Acadêmicos e, em segunda convocação às 9,30 (nove e trinta) horas, com qualquer número acima de 8 (oito) Acadêmicos;
Local: auditório do Instituto de Radiologia de Natal – Natal – RN;


Pauta:


a) criação de novas cadeiras e escolha de novos acadêmicos;


b) re-ratificação do Estatuto da Academia, com as alterações aprovadas;


c) entrega dos “pelerines” aos acadêmicos;


d) outros assuntos correlatos.


Macaíba/RN, 01 de outubro de 2010

JANSEN LEIROS FERREIRA

Presidente

ANDERSON TAVARES

Secretário

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Alberto Maranhão

Governador Alberto Maranhão

Irmão de Pedro Velho e Augusto Severo, Alberto Maranhão nasceu em Macaíba, Rio Grande do Norte, no dia 02 de outubro de 1872. Filho do casal Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão e de Feliciana Maria da Silva Pedroza, iniciou seus estudos, primeiramente, em Macaíba e, depois, em Natal. Mais tarde, foi para Recife, formando-se em Direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais de Pernambuco, no dia 8 de dezembro de 1892, aos 20 anos de idade.

Casou no ano de 1895 com a sobrinha D. Inês Barreto, filha de Juvino Barreto e Inês Maranhão e do casal nasceram oito filhos: Paulo, Laura, Judite, Alberto Maranhão Júnior, Juvino, Cleantho, Caio e Áureo e 19 netos.

Na juventude, participou do Congresso Literário, que mantinha o jornal A Tribuna. Com outros companheiros, fundou o Grêmio Polymathico. Dirigiu o jornal A República, “onde teve o ensejo de reafirmar o seu invencível valor de jornalista e homem de letras escrevendo, sem assinar, crônicas, tópicos e editoriais", conforme relata a escritor Meira Pires, no seu livro "Alberto Maranhão e o seu tempo” (1963).

No final do século passado, exerceu a função de promotor público em Macaíba; ocupou o cargo de secretário de Estado na administração do seu irmão Pedro Velho, oportunidade na qual apresentou um volume bem documentado sobre o RN. Em 14 de junho de 1899, foi eleito governador do estado, conduzindo os destinos políticos do Rio Grande do Norte de 1900 a 1904.

Alberto Maranhão e família chegando na Vila Severo, no Monte (hoje Hospital Onofre Lopes)


Na sua gestão, aprovou a lei nº 145, de 06 de agosto de 1900, que promoveu o desenvolvimento cultural do Estado, constituindo-se em fato inédito no país, determinando que:

(...) é o governador autorizado a premiar livros de ciência e literatura produzidos por filhos domiciliados no Rio Grande do Norte, ou naturais de outros Estados quando neste tenham fixa e definitiva a sua residência. (RIO GRANDE DO NORTE, 1900).

Foi ele quem inaugurou o Teatro Carlos Gomes (hoje Alberto Maranhão), no dia 24 de março de 1904. A renda do teatro era destinada para ajudar aos retirantes, vítimas da seca, que se encontravam em Natal.

Com o término de sua administração, foi eleito deputado federal, e durante o exercício de seu mandato fez parte da Comissão de Diplomacia. Voltou a assumir o governo do estado, de 1908-1913, realizando uma profícua administração: fundou o Conservatório de Música; o Hospital Juvino Barreto (hoje Onofre Lopes); o Derby Clube (para incentivar o hipismo); e construiu a Casa de Detenção e o Asilo de Mendicidade. Implantou a luz elétrica em Natal e, posteriormente, os bondes elétricos.

Fomentou a educação estadual inaugurando a Escola Normal, em 3 de maio de 1908, e implantando o primeiro grande movimento de educação de massa popular no RN, através da rede de Grupos Escolares. Reconstruiu o Teatro Carlos Gomes, dando-lhe as feições atuais e que foi entregue ao público no dia 19 de julho de 1912.

Alberto Maranhão estendeu sua ação também ao interior, como revela o escritor Itamar de Souza, em seu livro A República Velha no Rio Grande do Norte (1889-1930), de 1989:

Em São José de Mipibu, ele mandou as águas de uma fonte natural e permanente para o abastecimento di água daquela cidade. Em Macaíba, sua terra natal, construiu o cais de atracação, melhorando assim o transporte fluvial entre aquela cidade e a capital do Estado. Em Macau, mandou fazer um aterro, numa extensão de quatro quilômetros, ligando esta cidade à estrada do sertão, à margem do rio Assu. Para facilitar o deslocamento de pessoas e produtos entre o sertão e as cidades portuárias, ele construiu três mil quilômetros de estradas carroçáveis em direção às cidades de Canguaretama e Natal. (SOUZA, p. 241, 1989).

O segundo governo de Alberto Maranhão surpreende pelo dinamismo, sendo considerado, por unanimidade, como melhor administração durante a República Velha. Nem tudo, porém, foi positivo nesta gestão do oligarca potiguar que procurou, segundo alguns pesquisadores, imortalizar os membros de sua família. O município de Vila Nova teve o seu nome alterado para Pedro Velho. Além dessa homenagem, mandou fazer um busto do irmão que foi colocado no Square Pedro Velho. Numa avaliação, Itamar de Souza critica o ilustre político macaibense:

Este segundo governo de Alberto Maranhão teve três características básicas: primeiro, procurou imortalizar os membros da oligarquia apondo seus nomes em municípios, repartições públicas, monumentos, e praças; segundo, monopolizou importantes setores da economia estadual, favorecendo, assim, os amigos e correligionários, em detrimento do erário público; e, terceiro, realizou uma grande e inovadora administração com o dinheiro tomado emprestado no estrangeiro. (SOUZA, p. 129,1989).

Após deixar o governo, em 31 de dezembro de 1913, Alberto Maranhão foi eleito Deputado Federal, representando o seu estado nessa função, de 1927 a 1929. Abandonando a vida política, saiu do Rio Grande do Norte e foi morar com a família em Parati, no estado do Rio de Janeiro, onde foi juiz municipal.

Busto de Alberto Maranhão no teatro da Ribeira, em Natal.


Em 1918, publicou dois trabalhos: Na Câmara e na Imprensa e Quatro discursos históricos. Alberto Maranhão faleceu aos 71 anos, no dia 01 de fevereiro de 1944, em Angra dos Reis, sendo sepultado no outro dia, em Parati, no estado do Rio de Janeiro.


Em Macaíba, foi dado o nome de Alberto Maranhão a um conjunto habitacional, localizado nas proximidades do bairro Campo das Mangueiras, no final da década de 80. Na cidade de Mossoró existe uma avenida. Alberto Maranhão é nome da maior honraria cultural do RN, distribuída pelo governo do estado. Em 2005, o Rio Grande do Norte transladou do Rio de Janeiro para Natal, os restos mortais do governador da cultura, sendo sepultados no teatro que ostenta seu nome.