segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Artistas do repente e cordel conquistam direito à aposentadoria

Foi aprovado na Comissão de Assuntos Sociais, em caráter terminativo, o Projeto de Lei do Senado – PLS 417/09, de autoria do senador Inácio Arruda, que dispõe sobre aposentadoria por idade para repentistas e cordelistas. O senador Garibaldi Alves Filho foi o relator da matéria. Na ocasião o parecer favorável a aprovação da matéria foi lido pelo relator "ad hoc", senador Paulo Paim. O projeto segue agora para apreciação na Câmara dos Deputados.

Repentistas e cordelistas poderão requerer aposentadoria por idade.

De acordo com o projeto, repentistas e cordelistas poderão requerer aposentadoria por idade, no valor de um salário mínimo, durante dez anos, contados do dia 1º de janeiro de 2010, desde que comprovem o exercício da atividade artística, ainda que descontinua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, em número de meses idênticos à carência do referido benefício.

O senador Inácio Arruda justifica sua propositura, lembrando que os repentistas e cordelistas possuem uma importância fundamental na cultura popular e regional brasileira, mas não têm sido devidamente valorizados. Para o senador, a legislação previdenciária não pode deixar passar ao largo essa categoria profissional que, embora informal, muito tem contribuído para a formação da cultura popular do nosso país.

Fonte: Assessoria do gabinete do Senador Inácio Arruda

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Padaria Brasil: Alberto Silva e Zebina Alecrim

As cidades se destacam na sociedade pelos seus filhos proeminentes, por sua importância econômica e política. Contudo, existem espaços tradicionais nos quais emanam figuras de relevo no universo municipal. Discorrerei neste artigo sobre duas respeitáveis figuras da vida social e comercial de Macaíba, e sobre o projeto comercial que ambos realizaram e que se firma até hoje no cenário comercial de Macaíba.

Em setembro de 1902, o empreendedor Alberto Ferreira da Silva (1885-1970) investiu parte da herança paterna na instalação da primeira panificadora da cidade de Macaíba, que recebeu a denominação de padaria Brasil. Situada, desde a fundação, na rua da Conceição, no centro da cidade.

A inauguração foi festiva, com a presença da sociedade macaibense, do presidente da intendência coronel Aureliano Medeiros, da banda municipal deleitando os presentes com os dobrados em voga na época e, claro, sob as bênçãos do padre Marcos Aprígio de Souza Santiago, que estava à frente da paróquia de Macaíba no período.

A padaria Brasil passou a ser referência na cidade. Mesmo quando surgiu a padaria de Francisco Campos, na década de 30, a população continuou fiel. Porém, havia espaço para os dois comerciantes. A cidade crescia, e comportava todos os empreendimentos que desejassem se instalar na localidade.

Desde então, a padaria foi lembrada em diversas publicações. Em seu livro intitulado Macaíba, imagens, sonhos e reminiscências, o escritor macaibense Meneval Dantas (1911-2002) descreve a padaria dos tios: “A padaria Brasil, abastecia a população da cidade e dos povoados em redor, com biscoitos, bolachas, doces, palma e os pães mais gostosos da freguesia de Nossa Senhora da Conceição”. Também, Rui Santos no livro Macaíba de cada um, organizado por Jansen Leiros Ferreira, descreve: “(...) E a padaria Brasil de seu Alberto Silva, o pão doce quentinho era uma beleza (...)".

Segundo os familiares e amigos próximos, Alberto Silva possuía livros antiguíssimos com deliciosas receitas de bolos, biscoitos e pães, isso talvez explique a preferência da população. Albaniza Lima, que foi uma das contemporâneas de Alberto Silva, relata que todo fim de noite ele distribuía pães aos mais carentes. E o pão de um dia para o outro era vendido bem mais barato e ficou conhecido na cidade como o “pão dormido”.

Na década de 40, José Maria Magalhães (1910-1959), casado com Erneide Silva Magalhães (filha de Alberto), passa a gerenciar a firma. Com a morte de José Maria, seu filho Antônio Vicente Magalhães, conhecido como “Tonito”, assumiu os negócios e no ano de 1970 vendeu o comércio a José Paulo do Nascimento, conhecido por Zé Paulo e que faleceu em 1983. Este por sua vez se desfez da padaria vendendo-a no ano de 1976, a Pedro Messias da Cruz, que reformou o prédio e modernizou as novas instalações da padaria.

Hoje, as novas exigências da economia globalizada fizeram com que a padaria Brasil passasse a não vender mais apenas pão, leite, doce e bolachas. Para se manter no mercado sem perder a qualidade, foi preciso transformar o estabelecimento em um minimercado, ou centro de conveniência. Diversificando, assim, as atividades no setor.

Se faz mister relembrar a vida dos dois personagens construtores da tradicional padaria Brasil e que outrora foram figuras respeitadas e até reverenciadas municipalmente.

Alberto Ferreira da Silva nasceu em 1884, filho de Manoel Thomaz Ferreira da Silva (descendente da família Ferreira da Silva de São José de Mipibu/RN) e Maria José da Costa Alecrim, irmã do Coronel Prudente Alecrim. Investiu a herança recebida do pai, abastado senhor de engenho, na instalação de uma padaria, a qual ainda hoje tem a mesma denominação: Brasil! Falava francês fluentemente, sendo sempre o marcador oficial das quadrilhas juninas, nos seus repetidos e enfáticos anarriê, chã de dama, balancê e alavantur ...

Muito cuidadoso ao ponto de ter as suas iniciais gravadas entrelaçadas no frontispício da sua residência. Quanto ao figurino, nos fala Jansen Leiros: “Invariavelmente de branco, paletó e gravata, sapatos duas cores e chapéu de palhinha, sempre importado”.

Foi o doador do terreno, que na verdade era parte do jardim de sua casa, para a instalação do primeiro centro espírita da cidade. Por morte do seu tio e sogro, o Coronel Prudente, herdou o que foi o primeiro carro da cidade, um studebaker amarelo e com capota removível.

Militou na política local, sendo Intendente de 1917 a 1919, assumindo a chefia do executivo de 8.1.1918 à 10.8.1919, pois o Presidente João Soares da Fonseca Lima - Joca Soares estava doente. Deixou a política sem saudades, como fala o seu neto Tonito Magalhães, que cita a sua frase de fim de mandato: “Deus me livre de política! Meu Deus, nunca mais”.

A companheira de Alberto Silva foi d. Maria Zebina de Mello Alecrim, nascida no movimentado ano de 1888. Seu pai o Coronel Prudente Gabriel da Costa Alecrim, ex-intendente e deputado estadual, era abolicionista e junto ao sogro, o comendador Umbelino Freire de Mello, sócio da grande firma “Paula, Eloy e Cia”, fazia parte do Clube Abolicionista da Macaíba, e na gestão do Comendador, declarou livres os escravos na sua vila, aos 06 de janeiro de 1888.

D. Zebina Alecrim foi uma figura singular, muito tímida e retraída, vivia primeiro para a Igreja e o piano, depois, para os filhos e netos. Foi educada por freiras no Recife, sendo eximia pianista (como sua mãe D. Ana Pulchéria Pessoa de Mello Alecrim), e era nos saraus promovidos pela família, no casarão da Rua da Conceição, que a jovem Maria Zebina de Mello Alecrim deleitava os convidados com valsas sentimentais de Schubert e dos compositores nacionais, entre os quais Carlos Gomes. Esse ambiente só foi quebrado em 1910, quando casou com o primo Alberto Ferreira da Silva, com quem teve três filhos: Edison Alecrim e Silva, Emane Alecrim e Silva e Erneide da Silva Magalhães.

Os filhos deram aos casal seis netos: de Edison e Odete: Regina Coeli e Mário Gabriel (residentes no Rio de Janeiro); de Erneide e José Maria: Antonio Vicente Magalhães (Tonito), José Gilberto Magalhães (Betinho), Rosa Maria Magalhães e Alberto Neto (Betuca).

Em 12 de novembro de 1927, D. Maria Zebina foi uma das mulheres macaibenses que pioneiramente se inscreveram eleitoras, autorizadas pelo cunhado Dr. Virgilio Dantas. Foi na residência da mana Zebina, que o escritor Octacílio Alecrim escreveu o seu "Tamatião", quando passava umas férias em Macaíba.


Este casal ilustre viveu 60 anos de união conjugal, até que em 1970 faleceu D. Maria Zebina Alecrim e um mês depois, sem suportar a saudade da esposa, foi a óbito o velho gentleman, “o homem mais elegante da cidade”, respeitado pela honradez da palavra, cercado pelo carinho dos familiares.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Fundada a Academia Macaibense de Letras

Fundadores da Academia Macaibense de Letras: Na 1ª fila, da esq. p/ dir. Júscio Marcelino, Racine Santos, Rui Santos, Olimpio Maciel, Valério Mesquita, Rivaldo de Oliveira, Cícero Macedo, Anderson Tavares, João Batista Xavier e Héverton Duarte. Na 2ª fila da esq. p/ dir. Carlos Gomes, Wellington Leiros, Rivaldo de Oliveira, Jansen Leiros e Ivoncisio Meira; na frente na mesma ordem; Odiléia Mércia, Sheyla Ramalho, Maria de Lourdes Leite, Elizabeth e Nássaro Nasser.


Cidade da Macaíba, 12 de setembro de 2010, no dia em que se comemora o nascimento da poeta Auta de Souza, foi fundada a Academia Macaibense de Letras. Cidade histórica de inúmeros rebentos intelectuais, espalhados nos mais diversos campos da nossa cultura, Macaíba merecia ter uma acdemia de letras. Primeiro, para honra e glória dos seus filhos cujos nomes ornamentam as cadeiras instituídas; segundo, para destacar os individuos que em sua individualidade, lutam, verdadeiramente, desprovidos de bandeiras políticas partidárias, para projetar o nome da cidade com o relevo que ela merece dentro do cenário histórico-cultural do Rio Grande do Norte, movidos unicamente pelo amor que sentem por sua urbe.


Assim, a Academia Macaibense de Letras terá como objetivos o cultivo, a preservação e a divulgação do vernáculo, da literatura, e da atividade cultural em seus múltiplos aspectos, científico, histórico e literário, contribuindo com iniciativas úteis ao desenvolvimento cultural do município de Macaíba, do Estado do Rio Grande do Norte e do Brasil.


Diretoria Provisória


Presidente: Jansen Leiros Ferreira;


Vice-Presidente: Olímpio Maciel;


Secretário: Anderson Tavares;


Tesoureiro: Raimundo Ubirajara de Macedo.


Conselho Fiscal:


Maria de Lourdes Alves Leite;


Odiléia Mércia Gomes da Costa;


Sheyla Ramalho Batista.


Patronos e Acadêmicos:


Cadeira n.º 01 – Abel Coelho - (João Marcelino de Oliveira);


Cadeira n.º 02 - Alberto Maranhão - (Carlos Roberto de Miranda Gomes);


Cadeira n.º 03 – Augusto Severo - (Valério Alfredo Mesquita);


Cadeira nº 04 – Augusto Tavares de Lyra - (Francisco Anderson Tavares);


Cadeira nº 05 - Auta Henriqueta de Souza - (Jansen Leiros Ferreira);


Cadeira nº 06 – Clóvis Jordão de Andrade - (João Batista Xavier de Sousa);


Cadeira nº 07 – Dario Jordão de Andrade - (Ivan Maciel de Andrade);


Cadeira n° 08 - Edilson Cid Varela - (Ivoncisio Meira de Medeiros);


Cadeira nº 09 – Eloy Castriciano de Souza - (Olímpio Maciel);


Cadeira nº 10 – Estefânia Alzira Mangabeira - (Sheyla Maria Ramalho Batista);


Cadeira n° 11 - Henrique Castriciano de Souza - (Racine Santos);


Cadeira n° 12 - Hiran de Lima Pereira - (Júscio Marcelino);


Cadeira n° 13 - Enock de Amorim Garcia - (Roosevelt Meira Garcia);


Cadeira n° 14 – João Alves de Melo - (Rivaldo de Oliveira);


Cadeira 15 - João Batista de Vasconcelos Chaves - (Rui Santos da Silva);


Cadeira n° 16 – João Angyone da Costa - (Nássaro Nasser);


Cadeira n° 17 - José Leiros - (Wellington de Campos Leiros);


Cadeira nº 18 – José Melquíades de Macedo - (Raimundo Ubirajara de Macedo);


Cadeira nº 19 – Luís Tavares de Lyra - (Armando Roberto Holanda Leite);


Cadeira n° 20 - Maria de Lourdes Cid - (Maria de Lourdes Leite);


Cadeira nº 21– Meneval Dantas - (Odiléia Mércia Gomes da Costa);


Cadeira n° 22 - Murilo Aranha - (Osair Vasconcelos de Medeiros);


Cadeira nº 23 – Maria Alice Fernandes - (Héverton Duarte);


Cadeira n° 24 - Octacílio Alecrim - (Cícero Martins de Macedo Filho).

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Renard Perez - escritor

Renard Perez em sua biblioteca


Anderson Tavares e Renard Perez


Nascido em Macaíba, na rua do Pernambuquinho em 03 de junho de 1928, é filho do espanhol Jaime Quintas Perez e da potiguar Joana Geraldo Freire. É irmão de Rutênio e de Rossini Perez.


Renard Perez teve uma bela infância em Macaíba, na paisagem pacata e interiorana, a casa assobradada construída em 1931, num grande sítio no Vilar (Rua Heráclio Vilar). O mundo doméstico, o contato com a natureza nos espaços abertos do sítio e arredores os piqueniques com famílias amigas, os banhos na lagoa de Paparí e em São José de Mipibu; as aulas no Grupo Escolar Auta de Souza onde aprendeu a ler e recebeu as primeiras noções de Geografia, História e mesmo Botânica - estas últimas ministradas ao vivo em bucólicas excursões que a escola organizava.


Em 1943, sua família segue para o Ceará, instalando-se em Fortaleza. Naquela cidade, aos quatorze anos Renard desperta para as letras. Num começo de adolescência mais solitária (os dois irmãos mais velhos nos respectivos mundos) a que a vida no colégio não dava a suficiente contrapartida, Rossine enchia o cotidiano com as leituras da idade - as histórias em quadrinhos do Suplemento Juvenil e O Globo Juvenil, o Lobato para crianças, os livros de aventuras da Coleção Terramarear.

Por outro lado, seu pai Jaime Quintas Perez, imigrante espanhol (da Galícia), de formação quase apenas autodidata, era um tremendo leitor - adquiria todas as novidades em literatura de prosa (traduções, sobretudo) que apareciam nas livrarias de Fortaleza - leituras para as quais o moço em breve passava. Meio de evasão que; num caminho a bem dizer natural, desaguaria na própria criação literária - em contos meio aparentados com as histórias que lia.


A certa altura um desses contos, esquecido nas folhas do caderno escolar, foi descoberto por um colega que se entusiasmou com sua leitura e mostrou-o ao irmão marista que era professor de ambos.


Na adolescência, Renard lia os livros que encontrava na estante paterna: de cambulhada, de Blasco lbañez a Romain Rolland (Jean Christophe), passando por Gorki, Steinbeck, Richard Wright, Remarque, Richard Llewellin (Como era verde meu vale), Renné Belbenoit! (A Ilha do Diabo), e ainda Pearl S. Buck, Cronin, Maugham, Zweig, Milton, ao lado de alguns nacionais - Humberto de Campos, Lins do Rego (Riacho Doce), e o Érico Veríssimo da primeira fase.


Foi por essa época que o escritor descobriu a genialidade de Machado de Assis, não na mesma forma dos autores já citados, e nem sequer por livros seus, mas através da Biblioteca Internacional de Obras Célebres - antiga coleção de grandes volumes, que um vizinho começou emprestar-lhe em troca dos livros que lhe apanhava na estante paterna. O primeiro trabalho lido foi O Manuscrito de um Sacristão; o segundo, num novo volume, O Enfermeiro.


Renard Perez seguiu para o Rio de Janeiro, em fins de 1943, foi como a anterior para Fortaleza, conseqüência natural do trabalho paterno. Seu pai viajou duas vezes da Europa para a América em busca de trabalho - a primeira aos 14 anos, indo então para Cuba a chamado de seu avô; a segunda, bem mais tarde, para a Argentina, Uruguai é em seguida Brasil (Nordeste). Em 1920, aos 28 anos, casou-se em Natal, com Joana Geraldo Freire, de São José de Mipibu, passando a residir em Macaíba. Espírito empreendedor conseguiu atingir uma situação estável, de prosperidade (de empreiteiro em serviços de pavimentação e uma incursão paralela no comércio, acabaria como sócio de uma firma de construção civil). Minha vida até o fim da adolescência está assim subordinada à movimentação em função de seu trabalho e à conveniência da vida da família.


Somente no Rio de Janeiro, a partir de 1944, a par do ensino de Literatura no curso colegial é que volto a ter contato com Machado de Assis, e passa a ler toda a obra, agora metodicamente, bem como certos autores encontrados originariamente na Antologia Nacional. Começava, por outro lado, a acompanhar os suplementos literários, travava conhecimento com os modernos (Jorge Amado). Descobriu as Obras primas do Conto Brasileiro, de Edgar Cavalheiro, Mário de Andrade, Marques Rebelo, Aníbal Machado - revelados ali, foram outras grandes aquisições. Conheceu Graciliano Ramos, sobre o qual lera uma resenha - e que o deslumbrou, como antes o fizera Machado. E seriam eles - Machado, Mário, Rebelo e Graciliano - os grandes responsáveis pela direção que Renard iria tomar.


Foi ainda no Rio de Janeiro que Renard Perez avança na seara literária com uma pequena novela: “Quando eu morava no Norte”, publicada em 1945, e em Contos Magazine, seguida em pouco por mais dois contos na Revista da Semana, foram os novos passos nessa apaixonante aventura com que parecia abrir-se ao moço o caminho para o mundo das Letras.


Em fins dos anos 40, inícios dos 50, surgiu um movimento de reivindicação, de parte dos autores novos pela conquista de um espaço nos cadernos literários da grande imprensa, que era perpetuamente ocupados pelos ''veteranos'' - movimento que se estendeu pelo país e que resultou um surto de revistas desses “novos” - no Rio, a Revista Branca. Sensível àquela reivindicação, a escritora Dinah S. de Queiroz, que mantinha em "A Manhã" uma crônica diária sob o titulo de "Café da Manhã", ofereceu esse espaço em determinado dia da semana para uma crônica desses "novos", recebendo o autor quantia correspondente à sua. Assim aparecia, em setembro de 1949, a "Crônica dos Novos", no Café da Manhã" que se prolongaria por um ano e meio, mas já começando a ter, a partir do terceiro mês, uma página dominical no corpo do jornal - espaço em que atuavam, com Renard e uns poucos mais, Fausto Cunha, Samuel Rawet, Luís Canabrava, Jones Rocha, Nataniel Dantas. Movimento ainda que, sem falar no gesto de generosidade que o fez nascer, e no sentido da divulgação, muito valeria no campo de aprendizado no sentido profissional e no do companheirismo.


Foi em 1951, já desfeito o grupo do "Café da Manhã", que Renard Perez publicou seu primeiro livro. Tinha publicado mais quatro contos desde a minha entrada no grupo, um deles classificado num concurso da Revista Branca; um outro citado no "Parecer da comissão Julgadora" constituída por Sérgio Milliet e Antonio Cândido, no concurso de livro no gênero promovido pelo jornal Tentativa, de Atibaia, SP; tinha as crônicas do “Café da Manhã”. Convertera em novela um romance de caráter psicológico em que vinha trabalhando - o drama, em ambiente de pensão, de um estudante envolvido num caso de consciência. Tornou-se O Beco. Foi editado pela Revista Branca, o desenho de capa é de Santa Rosa, numa edição de 500 exemplares. Era abril de 1952.


O livro teve uma crítica razoável, até dezembro sete artigos, o primeiro já na semana de lançamento, assinado por Willy Lewin. De citar, ainda, os de Fábio Lucas, Oswaldino Marques, Fausto Cunha. Essa crítica pode ser definida nestas frases de Samuel Rawet, membro da Comissão que aprovou a publicação: “Das duas partes, a segunda está melhor realizada, com mais densidade emocional e mais contenção de linguagem”; e esta: “Renard Q. Perez deixa-nos, no fim da leitura, uma boa impressão e uma certeza por suas possibilidades de ficcionista”. Fausto, que conhecia os contos do autor ainda recentes, enfatizou essa produção ulterior. O artigo, no Letras e Artes, se intitulava "Renard Q. Perez, um Escritor".


Incursionando pelo jornalismo, Renadr Perez teve um breve período na revista Manchete - sempre jornalismo literário – seja na imprensa e no rádio, aí na condição de funcionário do Estado e atuando na Raquete Pinto. Esteve desde 1953, por trinta e três anos, fazendo nessa rádio programas de caráter cultural.


Na Revista Manchete Renard Perez não ultrapassou os cinco meses. Não se adaptou ao ambiente, à própria função, tendo em vista a natureza das reportagens que lhe cabia fazer (ainda assim, fez sete assinadas). Em todo esse tempo não deixou de colaborar em jornais e publicações literárias - Jornal do Brasil, Paratodos, Jornal de Letras, até que foi chamado por Moacyr Werneck de Castro para a Última Hora, na qualidade de colunista literário. Ficou aí, com seção diária, de abril de 1961 a julho de 1962 - período do qual possui, como o da Revista da Semana, as melhores lembranças. Em 1963, assumiu a chefia-de-redação da Leitura, onde passou dois anos e conseguiu fazer um trabalho de renovação, havendo para lá levado nomes como Otto Maria Carpeaux, Joaquim Cardoso e Marques Rebelo, sangue novo como Heitor Cony e um Fernando Py. Foi sua última experiência no setor.


Na imprensa escrita, a publicação de seu segundo livro, Os Sinos, pelo Jornal de Letras, aproximou-o de José Condé, que organizava a página literário do “Correio da Manhã”. A seu convite Renard fez nela, de 1955 a 1958, uma série de reportagens de caráter biográfico (em número de 64) - Escritores Brasileiros Contemporâneos, parte da qual, com outra posterior, seria reunida em obra de igual título (1ª e 2ª séries, 1960/1965: 2ª ed. rev. 1970/71, Ed. Civ. Bras.).


Ainda em 1958 (agosto) Foi trabalhar, já com carteira profissional, na Revista da Semana, a essa altura em decadência e onde, por abandono de função por parte do novo redator chefe (que lhe convidara), ocupou o lugar até seu fechamento (janeiro de 1959). Sempre interessado na coisa literária e sem fugir do espírito da revista, procurou dar, àquele ambiente, a melhor acolhida. Renard Perez convidou para ali colaborar nomes como Carlos Drummond, Jorge Amado (que voltara há pouco para o Brasil e relançava o Paratodos) e Aníbal M. Machado.


Na obra literária de Renard Perez, os temas dominantes são relativos ao cotidiano, com ênfase no comportamento humano, de elementos da pequena classe média, da gente do povo na sua individualidade. Com seus conflitos (e alegrias). O amor e o desamor. Um íntimo de repente captado; a beleza (ou fealdade) secreta.


Afastado do Nordeste em termos físicos, Natal aparece em sua obra (como Macaíba, Fortaleza) o mais das vezes de forma subjetiva, através de suas vivências aí.

O romancista, novelista e sobretudo contista Renard Quintas Perez reside em Copacabana, onde o visitei em julho de 2010. Sobre a sua concepção de literatura disse: É à maneira de expressão de meu sentimento de ver e viver a vida.


Sobre sua cidade natal afirma: “Nasci em Macaíba e aí vivi até os seis anos, voltando oito anos mais tarde, numas férias. Depois disso, só tornaria a vê-la quatorze anos depois. Procurei, então, meus lugares de infância. E verifiquei, fascinado, que quase tudo se encontrava como no meu tempo.


Assumiu, essa visita, a maior importância para mim. Porque, vendo a cidade como há quatorze, vinte e dois anos, era como se ela restituísse algo que me parecera perdido. Algo que a vida, a cidade grande ameaçavam tirar. Foi como uma volta a mim mesmo.


Desde então, sempre que um cansaço do hoje, uma saudade do passado me chegam, já sei, é tempo de visitar Macaíba. E volto a ela, e encontro os doces cenários amigos. Suas ruas, o rio, o sítio onde me criei, a igreja. As próprias pessoas – me parecem – são as de meu tempo. E novamente acontece o encantamento. Aquela tranqüilidade me aquece, atua reconfortante dentro de mim”.


Sua bibliografia é a seguinte:


O Beco (novela), de 1952;


Os Sinos, de 1954;


Escritores Brasileiros Contemporâneos, 1ª série, de 1960;


O Tombadilho, de 1961;


Escritores Brasileiros Contemporâneos, 2ª série, de 1965;


Começo de caminho: O áspero amor, (romance), de 1967;


Chão Galego, de 1972;


Irmãos da Noite, de 1979;


Trio (conto), de 1983.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A tragédia de Dina

Dina, em 1933. (acervo: Anderson Tavares)




O escritor Meneval Dantas, em seu livro de reminiscências sobre Macaíba, resgata a história trágica de uma jovem querida por toda a Macaíba de 77 anos passados. Geralda Medeiros Rocha, Dina (*22-06-1916 +18-05-1933) era filha do Antônio Cabo ou Antônio da Rocha Bezerra (*06-07-1884 +30-03-1956) e Emília Medeiros da Rocha. O casal teve 10 filhos, sobrevivendo Dina e Antonieta Medeiros Rocha, com a qual conversei, em 2007, sobre a trágica morte de sua irmã.

Dina foi uma jovem bonita, alegre e bastante comunicativa, sendo, por isso bem relacionada no seio da sociedade macaibense. Teve participação ativa em vários movimentos da igreja católica local, destacando-se como cantora nas missas da matriz, de cuja padroeira Nossa Senhora da Conceição era devota.

Consegui apurar os nomes das melhores amigas de Dina: Joanete Moura, Dália Mendonça, Albaniza Lima e Irene Monteiro. Dina, como já foi dito, era uma jovem bonita, possuía uma beleza invulgar e namorava o jovem Nestor Lima.

Segundo sua irmã, Dina possuía os sonhos possíveis para as garotas de sua época; queria estudar no Colégio da Imaculada Conceição e ser professora em sua província.

A trágica passagem da história de minha terra, contou-me D. Antonieta, teve em Dina a personagem principal no dia em que ela convidou outras amigas para tomar banho no açude do sítio Salermo, pertencente à Joca Leiros. Esse açude era a diversão de Macaíba naquela época, sempre reunindo sobre as frondosas copas de árvores ali existentes diversas pessoas para momentos de descontração.

Em depoimento, Nestor Lima me falou que estava no café Gato Preto na manhã de 18 de maio de 1933, quando Dina passou próximo ao local se dirigindo a rua do Cajueiro para seguir até o sítio Salermo e acenou para ele.
No sítio, as garotas tomavam banho quando Dina começou a se afogar descendo um desnível que levava a uma parte do açude perigosa, tida por funil. Ela afundava e submergia enquanto as amigas, desesperadas, tentavam retirá-la da água.

Após conseguirem retirá-la, correram com Dina seminua do sítio Salermo para a sua residência que ficava na rua da Cruz e lá chegaram as 10:00 horas. Dina ainda estava viva e a irmã Antonieta, então uma menina de 12 anos, ainda conseguiu desesperadamente abrir os olhos da irmã, cujas pupilas “ainda não estavam dilatadas”.

Infelizmente, Macaíba ainda não dispunha de clínicos residentes na cidade, e o médico Ricardo Barreto foi chamado, mas só chegou às 19h. Dina havia falecido às 15h.

O sepultamento aconteceu no cemitério de São Miguel às 10h da manhã seguinte, com grande acompanhamento e sob a consternação geral da cidade que chorava a moça alegre e querida por todos.