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quarta-feira, 18 de abril de 2012

Fernando Gomes Pedroza e a indústria algodoeira no RN

                      Fernando Gomes Pedroza, macaibense de Guarapes.
                                                      

A História do progresso das grandes nações é feita pelo trabalho e a pertinácia de seus filhos. E esta é uma história de trabalho assim. Começa em 1915, quando um jovem, Fernando Gomes Pedroza, é encontrado em Baixa Verde, no Rio Grande do Norte, dirigindo um campo experimental de algodão, situado no Riacho Seco.

Uma experiência em todos os sentidos: muito de ideal e absoluta pobreza de recursos, já que o Ministério da Agricultura a que estava afeta, pouca assistência lhe dava, além dos seiscentos mil réis do ordenado mensal de seu chefe, recebido de raro em raro, naquelas lonjuras do tempo.

Pedroza fora para ali viver como autêntico pioneiro. Casara em São Paulo e para ali trouxera, a conviver com seus sonhos e dificuldades, uma Toledo Piza. Dona Branca. Do estabelecimento do casal na região, naquele remoto lugar do interior, formar-se-ia uma tradição.

O antes e o depois.

Antes, a confusa tradição, o tumulto do plantio e a incógnita da colheita: o quase inexistente beneficiamento. Ninguém pensava em tipos ou em qualquer espécie de seleção, vigorando os mesmos processos de compra de outrora, do tempo do lombo de burro.

A presença de Fernando Pedroza iria mudar tudo e marcar a nova história econômica do Estado.

Num exemplo pessoal de empenho e dedicação, de saber fazer, ele começou a ser visto por toda a parte, no campo, junto com os homens que despertou para o trabalho, com eles calejando as mãos e manejando arados, plantando, discutindo, morando em barracas; como um deles, seguindo a tradição familiar onde avultavam homens vitoriosos. Seu avô, Fabrício Gomes Pedroza, paraibano, foi um deles, vindo em 1847 para o Jundiaí, em Coité, que iria transformar em Macaíba, espalhando determinação à sua volta.

Ali, Fabrício realizaria três casamentos, erguendo na curva do rio Potengi, no alto de um morro, a Casa Grande dos Guarapes, sede do seu trabalho, fornecendo para 50 léguas ao redor, centralizando quase toda a produção açucareira da província, alicerçada em vinte navios com linha direta para a Inglaterra. O filho, o segundo Fabrício, ali nasceu e tomou o seu lugar.

Fernando também nasceu em Guarapes, em 30 de março de 1886, filho de Fabrício Gomes Pedroza II e de Isabel Cândida de Albuquerque Maranhão, educando-se na mesma Inglaterra para onde ia o açúcar de suas terras. E foi lá, mais propriamente em Liverpool, que lhe foi dado estudar o mercado do algodão, ouvindo as reclamações e as críticas dos importadores e vendo a massa confusa e suja que era mandada daqui para lá.

Ao voltar ao Brasil não quis ser negociante no Rio, como era o desejo paterno. Antes preferiu o interior e a dedicação ao algodão, cujo futuro entreviu na sua estada européia.

A recusa do filho a seus desejos, abalou seu pai, que, tentando curvá-lo, retirou-lhe todo e qualquer auxílio. Fernando foi ao Ministro da Agricultura. Convenceu quem tinha a convencer e com os 600$000 do ordenado lançou-se à conquista de Baixa Verde. E ali ficou até à morte, fiel a dois amores: Dona Branca e à terra em que acreditava.

Em Baixa Verde conheceu João Câmara e nele reconheceu o companheiro ideal para as duras batalhas que enfrentariam, possuindo de si apenas o capital de duas férreas forças de vontade. O entendimento e a união dessas duas forças foi fácil, rápido e óbvio.

Fernando Gomes Pedroza envolveu-se numa guerra: a aclimatação do Sea Island do Mocó e Herbaceum, contra a estiagem, a distância de elementos de trabalho, a lentidão da eterna burocracia ministerial. A primeira safra foi devastada pela seca. A segunda não ultrapassou 300 quilos por hectare. Nada, porém, o faria desistir, nem as dificuldades com os homens, nem as asperezas da terra e do clima.

Esperava talvez milagres e o trabalho os fez. Milagre foi plantar e colher algodão com uma queda pluviométrica inferior a 80 milímetros o que motivou uma utilização diária e constante de cultivadores, com a qual se realizou o primeiro ensaio de cultura seca no Brasil.

Gente entusiasmada acorreu a cooperar, como o técnico norte-americano Edward Charles Green - o doutor Green - como o povo o chamava, de grande valia na seleção e de enorme estímulo em tomo de uma esperança teimosa que a miopia funcional não enxergava.

Deixando de ser funcionário público, Fernando passou a trabalhar sozinho, sem abandonar o seu algodão que tanto o apaixonara. E fixou-se na Barriguda, na Serra Verde, plantado centenas de hectares de um novo tipo, o Upland, batizado em português como Verdão.

O ano de 1917 marca uma ascensão decisiva na vida de Fernando. Por intermédio do doutor Green, conhece outro norte-americano. Clarence Wharton, um jovem de sua idade, que faleceria em Southampton, em 1922, com apenas 36 anos de vida.

Os dois tomaram-se íntimos e sócios. Um escritório comercial apareceu, tendo Green na parte técnica e instalado num quartinho asfixiante do Hotel Internacional, na rua do Comércio, hoje Chile, na capital potiguar. Em 1918, a firma Wharton, Pedroza Cia. é uma realidade e breve simbolizaria o próprio vigor do mercado da região, embora o capital continuasse a ser medido mais pela vontade, o conhecimento, a energia e a coragem, do que pelo dinheiro. Aí foi posto em prática o velho sonho que era um programa: o algodão fará o mercado, afirmava diariamente Pedroza. O problema estará na seleção das sementes e na melhoria do maquinário que, naquela ocasião, não dispunha nem de cevadores mecânicos, nem de limpadeiras.

E a firma partiu para a audácia: importação foram feitas. Aperfeiçoou o trabalho. Inovou na maneira de colher o algodão: em dois sacos, um para cada lado, de tipos diversos. Que se evitasse a folha seca, o sujo de areia, o garrancho.

Era preciso padronizar os tipos para a compra, o que significava exportações maiores para a Inglaterra, para os seus insaciáveis teares. E a Wharton, Pedroza criou os tipos: alfa, beta, gama, correspondendo ao algodão de primeira, de segunda, de terceira, segundo a fibra e a homogeneidade, tipos que pouco a pouco se firmaram no mercado: o Seridó, de fibra longa; o Sertão, de fibra média e o Herbáceo, de fibra curta. Em 1933 o Governo Federal - quatorze anos depois da inovação dos arrojados pioneiros - tornava enfim obrigatória essa padronização nos tipos de exportação.

Da boa semente, o bom fruto. Do modesto escritório, cresceu a mais perfeita rede comercial então conhecida, com as pessoas certas nos lugares corretos, agentes nos municípios de produção conhecida ou iniciada. Gente que registrou nome no reconhecimento à sua obra, multiplicadora de áreas de plantio, estimuladora de um trabalho constante, produtivo, e útil, estimuladora do interesse pela certeza e limpidez das transações financeiras, oriundas do trabalho correto e da rentabilidade desses esforços: Ezequiel Mergelino de Souza, em Santa Cruz: Florêncio Luciano, em Parelhas e Jardim do Seridó: Celso Dantas, no Caicó: Antônio Bezerra e Vivaldo Pereira, em Currais Novos; Adonias Galvão, em Flores (Florânia); João Pinheiro de Meio, em Santana do Matos; Francisco Fernandes, no Assú; Antônio Telmo e José Inácio Pereira do Lago, em Lages; Francisco Gonzaga Galvão, em Angicos; Tomás Resende, no Acari e João Severino da Câmara, em Baixa Verde.

Novas práticas comerciais agilizavam o aumento da produção, enquanto Fernando expandia as atividades tanto agrícolas como pastoris, transformando a Fazenda São Joaquim em verdadeira estação experimental entregue à competência de técnicos, em busca de novos métodos e aperfeiçoamentos científicos, instalando igualmente uma fábrica de óleo de caroço de algodão na pequena vila de São Romão, que hoje, orgulhosamente, se chama Fernando Pedroza.

Em fins de 1925, a Cia. Brasileira de Linhas para Cozer (hoje a Algodoeira São Miguel) adquire, por influência de Fernando, a Fazenda São Miguel, anexa à São Joaquim, com Edward Roque à frente e também organiza estações experimentais na região, visando a melhoria da fibra de algodão a utilizar em suas máquinas. E o resultado de todo esse esforço não se faz esperar: a 6 de novembro de 1925, a São Miguel adquire, de Wharton & Pedroza, o primeiro lote de fardos de algodão para exportação.

A morte de Wharton transforma a firma em S.A.. Anos mais tarde Pedroza se retira. Os nomes dos dois, porém, assegura probidade e confiança, e Wharton, Pedroza continua a firma, mesmo sem eles. Pedroza voltaria mais tarde, antes porém, queria consagrar-se à sua velha fazenda ao seu paraíso.

A Usina São Joaquim espelha o seu vigor de sempre. Construída em 1929, no povoado de São Romão, até aí um conglomerado de pequenas casas de taipa com capela e feira, acabou por influir decisivamente em seu destino, como núcleo e fator de seu desenvolvimento. Comprando e beneficiando algodão, fabricando óleo, torta, pasta e outros produtos derivados, atraiu a riqueza para a região, civilizando e semeando progresso.

Ali, na praça principal, no ex-povoado que Fernando fez cidade, a 11 de setembro de 1938, inaugurava-se o seu busto, homenagem ao patrono falecido dois anos antes, em  março de 1936. Homenagem ao homem sólido, de fisionomia enérgica, cuja palavra valia por um contrato, sempre ao lado dos desbravadores, daqueles que, como ele, sempre acreditavam no futuro. Homenagem ao homem cuja vida foi uma sementeira de realizações e de ideias, um idealista e homem de sociedade, um progressista na mais ampla acepção do termo, fundador - com Juvenal Lamartine e outros amigos - do Aeroclube de Natal, corolário daquela aventura de dois anos antes, quando adquiriu um Curtiss Air-Boat para suas viagens ao Recife e ao Rio de Janeiro.

O escritor João Amorim Guimarães - em “Natal do meu tempo” lembra-lhe a vida como um atestado de trabalho, energia e patriotismo. Um fidalgo, a merecer uma estátua em bronze puro, desta vez na maior praça de Natal ou o nome a distinguir a grande estrada de automóveis de Natal ao Seridó, sertão a dentro, o seu sertão que ajudou a erguer-se.

Seus descendentes honram o seu nome. De seu casamento com Branca Piza Pedroza, nasceu Fabrício que também foi industrial e morreu num desastre de aviação; nasceu Sílvio, que foi prefeito de Natal, deputado e governador do Estado; Fernando, empresário e ex-prefeito de Angicos, que doou áreas de suas terras para a instalação de Barreira do Inferno, e Elza, esposa do aviador Graco Magalhães Alves.


Pelo trabalho desenvolvido na antiga comunidade de São Romão, Fabrício Pedroza teve  inaugurado seu busto em bronze em 1938, assim como foi denominado patrono da cidade criada pela Lei nº 6.301, de 26 de junho de 1996, cujo gentílico é fernandopedrozense. Fernando Gomes Pedroza é mais que um grande nome: representa a semente maravilhosa, vencedora do chão difícil que só a audácia, a insistência e o trabalho correto, persistente e organizado. Conseguem fazer germinar.

Rogo a atenção dos poderes executivo e legislativo macaibense, para que reconhecendo os méritos industriais do ilustre filho do município, possam homenageá-lo oficializando seu nome na ZPE ou no Centro Industrial Avançado de Macaíba.


sexta-feira, 13 de abril de 2012

Tributo a Alice de Lima e Melo

Professora Alice de Lima e Melo aos 52 anos.



O estudo historiográfico da educação deve abrir espaço também para a compreensão de práticas e histórias de vida de professores. Segundo o escritor Antônio Nóvoa, esses estudos podem“produzir um outro tipo de conhecimento, mais próximo das realidades educativas e do cotidiano dos professores”. De acordo com ele, a história da educação nas últimas décadas vem questionando a abordagem tradicional, uma vez que ela não privilegia as experiências dos atores educativos, suas vidas e projetos pessoais.

Baseado na reflexão de Nóvoa percebi que era possível, por meio das práticas e histórias de vida da professora Alice de Lima e Melo, reconstituir parte da história da educação primária no município de Macaíba.

Numa sociedade patriarcal, na qual a educação era privilégio dos homens, algumas mulheres venceram barreiras e tiveram acesso á educação, indo na contra da mão da história, principalmente no meio rural, distante dos centros urbanos. Nesse contexto, destaca-se a professora Alice Lima, nascida na cidade de Macaíba em 11 de fevereiro de 1916, filha de Liberalino Cordeiro de Lima (Mestre Carneiro) o único arquiteto e engenheiro da cidade no início do século.

Desde menina, Alice Lima teve acesso às primeiras letras, devido à visão pedagógica de sua mãe Joaquina Hermelinda Andrade de Lima (D. Quina), professora emérita de gerações de macaibenses. Após ser alfabetizada, Alice Lima seguiu para o Grupo Escolar Auta de Souza em busca de ampliar seus conhecimentos.

Professora por vocação, junto à mãe D. Quina, alfabetizou uma legião de macaibenses. Muito religiosa participou do movimento Filhas de Maria, auxiliando nos trabalhos de catequese da matriz. É de Alice Lima a imagem talvez única, de uma mulher trajando o hábito das Filhas de Maria.

O escritor Valério Mesquita, ex-aluno de Alice Lima assim se referiu a professora em crônica:

Fui seu aluno antes de ingressar no Colégio Marista. Alice se caracterizava pela modéstia e pela seriedade com que enfrentava os seus desafios. Com a professora Alice me preparei para enfrentar o pesado ensino dos Irmãos Maristas, assim considerado na época.

Casou-se com João Muniz de Melo, filho do casal José Muniz de Melo (um dos primeiros fotógrafos de Macaíba) e Eliza Cavalcanti de Albuquerque. Alice e João Muniz foram os pais de Liberalino Itamar, José Luciano e Ângela Maria, os quais se desdobraram em nove netos e cinco bisnetos. Alice Lima teve os seguintes irmãos: Paulo (falecido criança), Lenira, professora Luzanira, Eunice (Manice), Estela e Albaniza Lima, todas conhecidas nos círculos sociais e religiosos de Macaíba.

Na década de 50, Alice de Lima e Melo foi nomeada secretária geral da Prefeitura de Macaíba, cargo que acumulava todas as secretarias existentes atualmente, e nessa função permaneceu até o seu falecimento. Com o assentimento das Forças Armadas, era a pessoa responsável pelo alistamento militar no município.

D. Alice de Lima e Melo faleceu aos 52 anos, no dia 24 de maio de 1968, depois de prolongados padecimentos. A prefeitura municipal custeou-lhe o funeral, sendo sepultada no cemitério de São Miguel de Macaíba.

Na gestão do prefeito Geraldo Pinheiro foi inaugurado o Clube de Mães Alice de Lima e Melo. A rua lateral da prefeitura de Macaíba tem seu nome concedido pela Câmara Municipal atendendo a um requerimento nosso. Infelizmente, até hoje a prefeitura de Macaíba não se dignou a colocar a placa, fato já recorrente na cidade.

A professora Alice de Lima e Melo foi para o momento histórico em que viveu uma educadora que conquistou novos espaços, ultrapassando os limites do lar. Recordá-la através destas linhas é um ato de justiça a uma mulher, mãe e educadora macaibense.



sábado, 31 de dezembro de 2011

O santeiro de Jardim




Ao contrário da arte erudita, a arte popular é uma produção espontânea na qual não há espaço para o regime de produção formal e acadêmico. Quando algum tipo de transmissão de conhecimento existe, ocorre no máximo informalmente, com um mestre artesão que faz o papel de mestre-iniciador.


Na arte popular existe um vasto espaço para a inventividade e para os saberes pessoais e tradicionais. A imaginação é muito mais livre tanto na forma final do trabalho como nos meios que ele inventa para resolver os problemas de como fazê-lo.



Como afirma J. A. Nemer, “há um alto grau de desafio aos cânones tradicionais da atividade plástica” já que esses cânones são conhecidos “senão através de observação superficial”. Assim, a carência de informação aliada a uma curiosidade fértil abre caminho para a criação.


Natural de Jardim do Seridó, cidade do sertão do Rio Grande do Norte, Geicifran Francisco de Assis Azevedo, 23 anos, filho do conhecido sanfoneiro e também artesão "Chico de Manoel de Rita", desde criança já se destacava de seus amigos por fabricar os próprios bonecos feitos de argila de um riacho próximo, os quais depois eram pintados com tinta guaxe.


Contudo, foi a partir do ano de 2003 que Geicifran passou a fazer imagens sacras esculpidas em madeira (umburana), destacando-se por possuir um estilo primitivista, com tendências próprias dentro de um imaginário popular. Em seu atelier o artista exibe esculturas de santos, cenas do cotidiano sertanejo, bandas de músicas e outras representações com a mesma temática, cada qual com sua inspiração, estilo e suporte.


Sobre quantas peças havia feito o mestre artesão, em sua simplicidade, afirmou que “mais de cem e menos de mil”, para completar dizendo que foi em torno de 500 peças, entre imagens sacras, bandas de música, procissões, dança dos negros do Rosário e cenas do cotidiano sertanejo.


O envolvimento com a cultura de sua terra o fez trombonista da Banda de música “Euterpe Jardinense”, e foi exatamente convivendo na sede da banda que o artista teve os primeiros contatos com a arte do mestre santeiro Júlio Cassiano, que fabricava representações de bandas musicais. Outra influência foi o mestre Vitalino, conhecido santeiro pernambucano.


A arte esculpida na madeira, eterniza o mestre, dá à ele vida além da sua vida. Os mestres santeiros que através de suas peças tocam profundamente o espírito dos fiéis são exemplo da vida que se tira da madeira. Geicifran Azevedo é um exemplo potiguar dessa assertiva. A arte popular é a viva expressão da criatividade do nosso povo. Através da sua fantasia o artista reinventa a realidade, estabelecendo íntima relação entre o real e o simbólico.


O jovem mestre artesão Geicifran Azevedo possui atelier na Rua Celso Ferreira de Morais, COHAB, bairro que fica na saída de Jardim do Seridó para Natal. Seu contato é 9914-7652.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Nosso amigo Coló


Coló em sua padaria, em 1999, durante entrevista ao jornalista Rômulo Stânrley.

Nada tão certo, na condição humana, do que passarmos todos pelas sombras da morte. Segundo a visão cristã, a morte não importa numa derrota, mas no trânsito do tempo para a eternidade. Daí porque o Apóstolo Paulo, certo na nossa ressurreição final, ousou perguntar: "Onde está ó mortea tua vitória"? (I Cor. 15-55). Estas considerações me acorreram ante a notícia da morte de Flaudiano Geraldo, comumente conhecido por Coló.

A geografia humana e sentimental de Macaíba está repleta de figuras queridas por todos na cidade. Coló foi uma dessas pessoas. Durante vários anos foi proprietário da panificadora União, uma das mais tradicionais de Macaíba. Dessa padaria saíram muitos pães doados a pessoas carentes da cidade que recorriam a ele que era, reconhecidamente, um homem bom e justo. Disso deu-nos prova um popular que falou à beira de seu túmulo recordando a benevolência.

Coló foi fundador do Grêmio Estudantil Tavares de Lyra, do Colégio Comercial, juntamente com Neto Soares, outro importante comerciante da cidade, militando na política estudantil e que o levou a se canditar para um cargo na câmara municipal na década de 80. Não logrou êxito nesse intento devido ter sido impresso na cédula de votação o nome Flaudiano Geraldo, de maneira que as pessoas chegavam buscando “Coló” e não encontravam.

Era um entusiasta do esporte municipal, fundou e manteve por muito tempo o time União de futebol de salão. Memorialista de nossa terra, gostava de recordar figuras que elevaram o nome de Macaíba na história.

Querido por todos, Coló já está inserido na memória popular que lhe outorgou, sinceramente, o nome de um conjunto e de uma praça. Oficialmente conjunto São Geraldo e praça Cel. Joca Soares. Porém, para o povo de Macaíba é conjunto de Coló e praça de Coló, devido as terras do primeiro pertencerem à sua família e, relativamente ao segundo, era a praça onde se localizava sua padaria.

Segundo o jornalista Rômulo Stânrley, Coló era filho do casal José Geraldo (já falecido) e Severina Tomé, nascido no dia 5 de outubro de 1946. Natural de São José de Campestre, veio para Macaíba a convite de sua tia Chiquita, quando tinha apenas 12 anos. Quando completou 16 anos, assumiu uma padaria com seus três irmãos: Dida, Dudu e João. Por conta da sociedade familiar, batizou o estabelecimento de Padaria União.

Amigo de sua primogênita Anaíse desde a infância, convivi com Coló em momentos de alegria e de tristeza. Gostava de ouvi-lo falar sobre Macaíba, uma cidade que ele amou profundamente e na qual sempre acreditou. Nosso amigo Coló faleceu no dia 12 de junho do corrente, aos 64 anos. Fica aqui consignada a nossa sincera homenagem a esse personagem importante da geografia sentimental de nossa terra.

Na imagem abaixo, propaganda eleitoral de Flaudiano Geraldo no início dos anos 1980. Coló foi candidato pelo PDS. Quase em cima de seu nome, pintaram, de vermelho, o nome de Romeu, candidato pelo PT. (Foto acervo Anderson Tavares).


terça-feira, 31 de maio de 2011

Augusto Tavares de Lyra


Ministro Tavares de Lyra. (Foto: acervo Instituto Tavares de Lyra)

Augusto Tavares de Lyra é uma figura solar no universo histórico potiguar. Nomeia uma avenida no bairro da Ribeira, em Natal; um bairro residencial em Macaíba, avenidas no Rio de Janeiro (Flamengo, Botafogo, Jardim Botânico e Laranjeiras), São Paulo e Bahia. É patrono da principal condecoração da prefeitura de Macaíba e do mérito eleitoral no Tribunal Regional Eleitoral do RN. Patrono do Fórum de Macaíba, onde também é nome de Grêmio estudantil no Colégio Estadual “Dr. Severiano”. Não obstante ter sido historiador, escritor e político de renome nacional, ele permanece desconhecido das novas gerações.

Augusto Arthur de Lyra Tavares, este o seu nome de batismo, que mais tarde, quando estudante no Recife, o modificou para Augusto Tavares de Lyra, nasceu na Vila da Macaíba, na noite de Natal de 1872, filho do coronel Feliciano Pereira de Lyra Tavares (*1843 +1910), comerciante e político e de Maria Rosalina de Albuquerque Vasconcelos (*1852 +1899), compondo uma prole de oito irmãos, sendo quatro mulheres; Inês Tavares Alecrim, Maria Augusta, Maria Adélia e Maria Alice de Lyra Tavares, e quatro homens; Dr. Luiz Tavares de Lyra, Cel. Feliciano de Lyra Tavares Filho, Senador João de Lyra Tavares e Major José Antônio de Lyra Tavares, este último fundador da família Tavares de Macaíba, do qual eu descendo em linha direta.

Casou-se em Natal, em 1902, com Sophia Eugênia de Albuquerque Maranhão, filha do Senador Pedro Velho e de Petronila Pedroza, constituindo uma família de seis filhos: Sophia Augusta de Lyra Tavares, Pedro Velho Neto, Augusto Tavares de Lyra Filho, Madre Cora Tavares, Carlos Tavares de Lyra e Madre Carmem Maria Tavares de Lyra.

Tavares de Lyra fez seus estudos em Macaíba, Natal e terminou-os em Recife, onde bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em dezembro de 1892. Foi Doutor em Direito pela faculdade do Rio de Janeiro, em 1915, na qual foi empossado professor. Após sua formatura, abriu escritório em Natal, na rua 13 de maio (Princesa Isabel) e foi redator do Jornal A República, onde assinava a coluna Em vários tons, onde já em 1893, Tavares de Lyra defendia a reforma educacional e a formação do professor.

Iniciou sua vida pública como Deputado Estadual aos 22 anos, não tomando posse pelo fato de ter sido eleito também Deputado Federal pelo RN de 1894 a 1904, destacando-se como líder da sua bancada.

Eleito Governador do seu estado em 1904, aos 32 anos, criou o Banco do Natal, posteriormente denominado BANDERN e promoveu o desenvolvimento da indústria açucareira, salineira e algodoeira. No tocante a educação, equiparou o Atheneu potiguar ao colégio Pedro II.

Renunciou ao governo do Estado em 1906, por insistência de Pedro Velho, para assumir a pasta de ministro da Justiça e Negócios Interiores, na presidência de Afonso Pena, quando oficializou a ortografia Brasileira, entre outras coisas, permanecendo nesse ministério até 1909.

Ainda como ministro da Justiça, em 1907, Tavares de Lyra elabora um projeto de reforma do ensino por entender que a educação deveria ser abordada sob múltiplas faces. Tal reforma caracteriza-se pelo pioneirismo na ideia da intervenção direta e imediata da União na educação. Naquela época, o país mudava economicamente do modelo agrário para o industrial e era necessário capacitar mão de obra, o que também motivou o presidente Afonso Pena encaminhar o projeto para discussão e apreciação pelo Congresso Nacional.

De 1910 a 1914, foi senador da república pelo Rio Grande do Norte, sendo líder do governo Hermes da Fonseca, embora fosse o mais novo dos senadores. Foi membro das comissões de Constituição e Justiça, de Diplomacia e de Finanças.

A 15 de Novembro de 1914, assumiu o Ministério da Viação e Obras Públicas, e seria o titular da pasta até o fim do mandato de Wenceslau Brás, foi ainda nesse período ministro interino da Fazenda em duas ocasiões. Neste ministério, avaliou Alcino Guanabara a personalidade de Tavares de Lyra destacando ser o mesmo: “um homem calmo, de espírito justo, suave nas maneiras, sabendo firmemente o que quer, sem preocupações de vaidade pessoal, não mercadejando aplausos, contentando-se em ser julgado pelos seus atos, como eles o merecem, é efetivamente um bem precioso para o governo”.

Por fim, foi nomeado ministro, depois presidente do Tribunal de Contas da União, tomando posse a 30 de Novembro de 1918, foi relator da primeira prestação de contas de um Presidente da República. Através desse ministério, aposentou-se em 1940.

Por uma questão de dois meses para desincompatibilizar-se por haver sido Ministro de Estado até 15 de novembro de 1918, não foi escolhido para disputar a presidência da República, após a morte de Rodrigues Alves. Segundo ainda o deputado José Ferreira de Souza: duas ou três vezes, em momentos graves, foi lembrado como candidato de conciliação ao mais alto posto da República. Já na sucessão de Arthur Bernardes, quando o senador Mello Viana falou no candidato ideal, falava-se: Aí está a moldura. O quadro é Tavares de Lyra.

Tavares de Lyra pertenceu ao grupo de brasileiros que fez parte dos três poderes da República. Executivo: Governador do Estado, Ministro da Justiça, Ministro da Viação e Obras Públicas, Ministro da fazenda. Legislativo; Deputado Estadual, Deputado Federal, Senador da República. Judiciário; Ministro e Presidente do Tribunal de Contas da União.

Como intelectual produziu incansavelmente. Sua bibliografia alcança cerca de 70 volumes, hoje muitos raridades, destacando-se a primeira História do Rio Grande do Norte de 1921.

Em 1952, teve seu nome inscrito no livro do Mérito Nacional pelos relevantes serviços prestados a Nação Brasileira, na ocasião do recebimento do diploma no Palácio do Catete, o presidente Getúlio Vargas afirmou: o Ministro Tavares de Lyra é uma relíquia da Pátria!

Por fim, no dia 22 de Dezembro de 1958, no Rio de Janeiro, instalado em um apartamento alugado e repousando em uma cama obtida por empréstimo, o macaibense ministro Augusto Tavares de Lyra fechava os olhos ao tempo e os abria para a eternidade, deixando o legado imperecível de um nome limpo e honrado, uma vida que no dizer do escritor Luís da Câmara Cascudo foi “uma linha reta, limpa e clara”.