terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Câmara Cascudo monarquista

Luís da Câmara Cascudo com algumas ordens culturais recebidas durante sua vida. Foto: acervo Instituto Tavares de Lyra.

Com a abertura de o arquivo epistolar do escritor Luís da Câmara Cascudo aos pesquisadores, tive a felicidade de ser o primeiro a consultar tão importante acervo, composto de 27.000 cartas.

Na era dos e-mails, o suporte físico para as correspondências desapareceu. Na contracorrente, a carta ganha status de objeto de valor, justamente pela nostalgia dos elementos que já não existem mais, como a caligrafia, o timbre, os desenhos.

Dentre as inúmeras missivas recebidas pelo escritor, me detive sobre vinte e duas correspondências, entre cartas, bilhetes e cartões de felicitações. Os remetentes são Dom Pedro de Orleans e Bragança, Príncipe do Grão-Pará, primogênito da Princesa Isabel do Brasil, o Marechal Conde D’eu e os príncipes imperiais Dom Pedro Gastão e Dom Pedro Henrique, este último, Chefe da Casa Imperial Brasileira de 1920 a 1981.

Câmara Cascudo foi um monarquista convicto e declarado nos primeiros tempos de sua ação literária. Sobre este tema, Cascudo escreveu “Lopez do Paraguay”, 1927; “Conde d’Eu”, 1933; “O Marquês de Olinda e seu Tempo”, 1938 e “O Príncipe Maximiliano no Brasil”, 1977, além de várias Actas Diurnas relativas a assuntos da Monarquia ou de seus mais proeminentes representantes.


Dom Pedro de Orleans e Bragança foi príncipe do Grão-Pará, e como Príncipe Imperial do Brasil renunciou aos seus direitos dinásticos a coroa brasileira para casar-se com a condessa checa Elizabeth Dobrzensky de Dobrzenicz. Visitou o Rio Grande do Norte em 1927, sendo recebido no “Principado do Tirol” pela família Cascudo. “Peço-lhe dê muitas lembranças nossas a seus pais e outros amigos de Natal, de que guardamos muito boas recordações”, afirmou Dom Pedro numa carta de 1930.

Gastão de Orleans - Conde D'Eu e o filho Dom Pedro de Orleans e Bragança - Príncipe do Grão-Pará, mantiveram correspondência ativa com Cascudo. Fotos: Acervo Casa Imperial do Brasil.

O príncipe parecia atento aos movimentos político-sociais do Rio Grande do Norte quando afirma em carta de 1931: “A cidade deve ter tomado muito incremento com a importância que tomou vindo a ser o porto para as vias aéreas da Europa. Espero que no estado do Rio Grande do Norte esteja tudo agora apaziguado depois da revolução e que não tenha sofrido com a crise”.

A correspondência é parte essencial da obra de Câmara Cascudo. Não apenas porque explica e ilumina revelações biográficas, mas pela riqueza de ideias, elaborações estéticas, projetos participantes, lampejos e intimidades do pensamento em transe de um homem que foi uma das expressões mais altas e completas da cultura potiguar.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Colégio Imaculada Conceição: a importância da preservação

Sítio Cucuí em formato original. Local comprado pelas freiras dorotéias com a ajuda de comerciantes de Natal e da família do governador Alberto Maranhão. Foto: acervo de Domingos Guará.

Colégio Imaculada Conceição já ampliado. Foto: acervo do CIC.


A Avenida Deodoro da Fonseca, no trecho do bairro da Cidade Alta, comporta alguns exemplares arquitetônicos muito importantes para a configuração espacial de Natal, como o casarão do comerciante Irineu Pinheiro com estilo Art Nouveau e a antiga sede do Hospital Infantil Varela Santiago, ambos já devidamente preservados por meio do instituto do Tombamento.

Atualmente, foi solicitado a Fundação José Augusto o tombamento do prédio do Colégio Imaculada Conceição e se inicia uma campanha para a preservação do Cinema Rio Grande, de tantas tradições em nossa cidade. Tombados e preservados os prédios do Colégio da Imaculada Conceição e do Cinema Rio Branco conservarão para as novas gerações o tempo histórico de onde emergem os dois edifícios, conservando-se uma imorredoura lembrança para tantos quantos tiveram a felicidade de conviver nos dois exemplares arquitetônicos.

Desde 1937, a paisagem urbanística da cidade do Natal habituou-se a conviver e a contemplar Colégio Imaculada Conceição, prédio de linhas sóbrias, projetado pelo engenheiro Otávio Tavares. Pelo complexo de prédios que o compõem passaram gerações e gerações de alunos durante 111 anos de história educacional, orientados pelos princípios pedagógicos de Santa Paula Frassinetti, através das irmãs de Santa Dorotéia e abnegados profissionais.


A proteção do patrimônio arquitetônico urbano está diretamente vinculada à melhoria da qualidade de vida da população, pois a preservação da memória é uma demanda social tão importante quanto qualquer outra atendida pelo serviço público. O tombamento não tem por objetivo “engessar” ou “congelar” a cidade: esse termo, aliás, é um instrumento de pressão, largamente utilizado para contrapor interesses individuais ao dever que o poder público tem em direcionar as transformações urbanas que se fazem necessárias. 

Tombar não significa cristalizar ou perpetuar edifícios ou áreas urbanas, inviabilizando qualquer obra que venha contribuir para a melhoria da cidade. Preservação e renovação são ações que se complementam e, juntas, podem revalorizar imóveis ou bairros que se encontrem deteriorados.