Diante da aproximação da exumação e do traslado do corpo de Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, do Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro, para o Cemitério de São Miguel, em Macaíba, Rio Grande do Norte, algumas pessoas perguntam-me sobre os acontecimentos post mortem do aeronauta macaibense em Paris e o seu traslado da capital francesa para o Brasil.
Após a explosão do balão dirigível Pax, o corpo de Augusto Severo foi embalsamado pelo renomado Dr. Bensande e envolvido num retalho da seda do envoltório do balão, sendo conduzido para a sua residência em Paris, à Rua Galilée, nº 63, onde permaneceu entre os dias 13 e 16 de maio, em câmara ardente montada na pequena sala de visitas.
No
dia 17 de maio de 1902, foi celebrada a primeira missa de corpo presente em
memória de Augusto Severo, na igreja de San
Pierre de Chaillot. Após a missa, o corpo do aeronauta foi depositado no
cemitério de Passy, onde ficou até o embarque para o Brasil, depositado no
jazigo da família do Visconde Ferreira de Almeida.
Em
29 de maio de 1902, partiram da gare Quai
d’Orsay, em Paris, Nathália Severo, seus filhos e Palmira Cassina, sua
irmã, com destino ao porto de Bordéos. Por fim, a 30 de maio de 1902, o paquete Brésil, da Companhia Messageries Maritimes seguiu de Bordéos
com destino ao Brasil, aonde chegou no dia 16 de junho de 1902.
O
nome de Augusto Severo figura para sempre na história social parisiense, sendo
um dos brasileiros que nomeia rua, junto com Santos Dumont e Marielle Franco, que
é nome de um jardim público.
Chegando
ao Brasil, o corpo de Augusto Severo foi recebido por Augusto Tavares de Lyra e
levado para a capela do Arsenal de Guerra, carregado por homens da maruja do
Arsenal, e colocado sobre um catafalco, “ricamente paramentado e rodeado de
tocheiros e de inúmeras coroas, tendo na sua cabeceira um crucifixo de
Jacarandá e prata, organizado por seu irmão o Senador Pedro Velho e que
pertencera a sua veneranda mãe”.
Nesse
momento, os parentes e amigos presentes, desejando ver o morto, pediram para
ser aberto o caixão de “madeira branca, envernizada, dentro do qual havia um
outro de zinco hermeticamente fechado”.
Não
sendo encontrada a chave do esquife de madeira, foi este arrombado e então, por
um quadrado de vidro, colocado a altura do rosto do pranteado morto, foi ele
contemplado pelas pessoas presentes.
Um
jornalista anotou: “o caixão, apesar de ser de faia, é demasiado simples, com
argolas de metal ordinário e além de tudo fechado a parafuso. Como único
adorno, tem na tampa a seguinte inscrição em uma placa de metal branco: Augusto Severo de Albuquerque Maranhão,
deputado federal da República dos Estados Unidos do Brasil, inventor do balão
Pax. Nasceu em Macahyba em 11 de janeiro de 1864 e morreu em Paris a 12 de maio
de 1902”. E descreve o que viu pelo vidro do caixão: “O rosto do
desventurado aeronauta está sereno e o peito da camisa bordada manchado de
sangue. Severo veste terno de casaca preta. Tem sobre o peito um pequeno
invólucro e uma fotografia”.
Destaca
outro jornalista: “Retirada a tampa do caixão, via-se o rosto de Augusto
Severo, sob o vidro, numa pequena abertura feita no envoltório de zinco. Tinha
a fisionomia serena e a boca ligeiramente aberta”.
O
então Deputado Federal Augusto Tavares de Lyra, deixou as seguintes notas: “o
caixão é todo de madeira de lei, tendo aos lados seis pegadores de metal
branco. O cadáver achava-se dentro de uma segunda caixa de zinco, tendo uma
abertura com vidro na altura do rosto. Sobre o caixão de zinco, grande
quantidade de coroas e grinaldas vindas de Paris”. E continua: “o rosto de
Augusto Severo estava bem conservado, sereno, notando-se, entretanto, ligeiras
manchas violáceas nas faces. Os seus negros e vastos cabelos emolduravam-lhe o
rosto, caindo sobre a testa. O corpo veste terno de casaca preto, tendo sobre o
peito uma fotografia e um pequeno invólucro”.
Da capela do Arsenal da Marinha o corpo de Augusto Severo foi conduzido para ser velado no salão nobre da Câmara dos Deputados, transformado em câmara ardente. No dia 18 de junho, pela manhã, foi levado para a Igreja da Candelária, onde ocorreram as exéquias solenes e de lá seguiu em grande préstito para o Cemitério de São João Batista, em Botafogo.
O
terreno para o sepultamento, adquirido por seu amigo o coronel Carlos Leite
Ribeiro, presidente da comissão executiva das exéquias e monumento, que
legalizou a compra, em nome da mesma comissão, foi depois doado para o Centro
Norte Rio-Grandense, ocupado pelo jazigo n. 72 F, do quadro 10 de carneiros,
com uma superfície de 2 metros e 20 centímetros de comprimento por 80
centímetros de largura, de acordo com a medida tomada pelo construtor contratante
da obra e com o feitio do caixão, que encerra os despojos do morto.
Uma
numerosa turma de operários do cemitério trabalhou na construção do carneiro e
nas fundações do monumento, confeccionadas em lajões de alvenaria “com uma profundidade
de 7 metros, de acordo com o respectivo regulamento”, segundo os jornais e 3
metros, segundo o deputado Tavares de Lyra.
Posteriormente,
no dia 18 de setembro de 1904, foi erigido e inaugurado o monumento em mármore.
Construído através de uma subscrição popular, o túmulo de Augusto Severo está
localizado numa Alea onde jazem diversas personalidades da história do Brasil,
a exemplo de José de Alencar, Barão de Cotegipe, Clarisse Lage Índio do Brasil,
Conde de Araguaia, Almirantes Saldanha da Gama e Wandenkolk.
Trata-se
de uma bela concepção artística. Encimada por uma coluna piramidal recoberta de
mármore, tem ela na sua base um medalhão com a efígie de Augusto Severo e dois
baixo relevos representando uma cena do balão Pax, alando-se aos ares e o outro
com a frase em latim: Sidera vincere conatus, vicil mortem. No
pedestal do monumento, até os anos de 1970, jazia a coroa flores envoltas numa
âncora, que lhe foi oferecida como tributo de gratidão pelos operários do
Arsenal da Marinha.
A
subscrição popular foi uma iniciativa da comissão composta do Contra-Almirante
Justino Proença, Dr. Joaquim Ferreira Chaves, Dr. Oscar Godoy, Coronel Fonseca
e Silva, Coronel Carlos Leite Ribeiro, Alcindo Guanabara, Capitão José Villas
Boas, Francisco de Barros e Francisco Marques.
Diante
das informações aqui coligidas, temos os seguintes pontos:
1.
O Corpo de Augusto Severo foi embalsamado e encontra-se em dois caixões, um
externo de madeira faia e outro de zinco hermeticamente fechado. Seria
interessante que, pelo menos o caixão de zinco, fosse conservado dentro de
outro, novo e assim sepultado, quando de sua possível exumação;
2. Em cima do caixão externo existe uma placa com o nome, profissão, lugar e data de
nascimento e lugar e data de falecimento de Augusto Severo;
3.
O túmulo foi construído pelos operários do próprio cemitério de São João
Batista e o monumento piramidal de mármore edificado depois de uma subscrição
popular que durou dois anos arrecadando o valor;
4.
O terreno do túmulo foi comprado por um amigo pessoal de Augusto Severo – o
Coronel da Guarda Nacional Carlos Ribeiro Leite – que era presidente da
Comissão das Exéquias e do Monumento. Encerradas todas as solenidades, o
Coronel Carlos Leite Ribeiro deixou o túmulo sob a responsabilidade do Centro
Norte-Rio-Grandense do Rio de Janeiro.