Convidado pelo acadêmico potiguar Murilo Melo Filho visitei a sede da Academia Brasileira de Letras. Em companhia do presidente do centro Norte-riograndense, Dr. Francisco Campelo, chegamos ao palácio “Austregésilo de Athayde”, edifício de 28 andares, encravado no centro do Rio de Janeiro. O prédio é espaço para atividades culturais da ABL e local onde se situa a Diretoria e a Biblioteca Rodolfo Garcia. Na sala da tesouraria, escritório do imortal potiguar Murilo Melo Filho, fomos recepcionados por ele que em meio as suas múltiplas atividades como gestor da academia, separou um tempo para apresentar-me as dependências do palácio “Austregésilo de Athayde” e do Pettit Trianon.
Contou-nos Murilo que em 1970, o presidente da república, general Emilio Garrastazu Médici, fez a doação do terreno e do pavilhão da Inglaterra para a ABL. O Pavilhão da Inglaterra, remanescente da exposição de 1922, foi demolido rapidamente e em seu terreno a ABL construiu um prédio de 28 andares com salas comerciais para serem alugadas.
O prédio em estilo moderno brutalista continua agregando vários elementos famosos dos arquitetos como áreas livres junto à rua e os brises, esses virados para a fachada da Rua de Santa Luzia. Foi inaugurado em 20 de julho de 1979. Garantindo definitivamente a independência financeira da academia.
Dentro do moderno prédio, Murilo Melo Filho nos apresentou sua maior obra dentro da ABL - A Biblioteca Rodolfo Garcia que foi construída na gestão do acadêmico Alberto da Costa e Silva e inaugurada em 22 de setembro de 2005 na presidência do acadêmico Ivan Junqueira. Murilo Melo Filho que ficou encarregado da organização da referida biblioteca só fez uma exigência, que o nome dado ao novo espaço fosse do imortal potiguar Rodolfo Garcia.
Instalada no 2º andar do Palácio Austregésilo de Athayde, a Biblioteca Rodolfo Garcia ocupa uma área de 1.300m², dividida em setores de atendimento ao público, técnico-administrativo e guarda do acervo, além de dispor de um espaço para exposições.
A Biblioteca Rodolfo Garcia atende a comunidade em geral, e em especial a pesquisadores graduados, com um acervo de aproximadamente 70.000 volumes. Centrado em filosofia, filologia, linguística, literatura, história e ciências humanas, o acervo é formado pelas coleções Geral, de Referência, de obras raras dos séculos XIX e XX - com destaque para a Brasiliana e Camiliana -, e por coleções particulares pertencentes à Agliberto Xavier, Alzira Vargas do Amaral Peixoto, Arthur Vautier, Ary de Andrade, Carlos Magalhães de Azeredo, Celso Vieira, Fernando Nery, Franklin de Oliveira, Frédéric Mauro, Marcos Carneiro de Mendonça e Silvio Neves. O acervo vem sendo enriquecido por importantes doações, como as efetuadas pelos Acadêmicos Alberto da Costa e Silva, Alberto Venancio Filho e Josué Montello.
Saindo do palácio seguimos pelo jardim e junto à entrada do Pettit Trianon, encontra-se um dos mais conhecidos símbolos da Casa, a escultura em bronze de Machado de Assis, de autoria de Humberto Cozzo.
Já no Pettit Trianon vão surgindo, a cada passo, obras de arte instaladas no palacete Frances: o Saguão, com piso em mármore, lustre de cristal francês e peças de porcelana de Sèvres, conduz ao Salão Nobre, ao Salão Francês e à Sala Francisco Alves. O andar térreo compreende, também, a Sala dos Poetas Românticos, a Sala Machado de Assis e a Sala dos Fundadores.
No Salão Francês, falou-nos Murilo Melo, o Acadêmico eleito cumpre a tradição de permanecer sozinho, em momentos de reflexão, antes da cerimônia de posse. A seguir, Acadêmicos especialmente designados buscam o novo confrade e o introduzem no Salão Nobre, onde será empossado na Cadeira para a qual foi eleito.
Além das posses, realizam-se no Salão Nobre as Sessões Solenes e Sessões Ordinárias comemorativas.
No lado oposto ao do Saguão, a Sala dos Poetas Românticos abre-se para um belo pátio e reverencia Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Fagundes Varela e Gonçalves Dias, imortalizados em bustos de bronze.
Na Sala Machado de Assis, organizada pelo Acadêmico Josué Montello, destacam-se objetos pessoais do escritor, como: livros de sua biblioteca, a escrivaninha onde trabalhava e um belo retrato a óleo de autoria de Rodolfo Bernardelli.
A Sala dos Fundadores e a Sala Francisco Alves, onde são realizados os lançamentos de livros dos Acadêmicos, abrigam importantes obras de arte e peças decorativas do acervo da Academia.
No segundo andar do Petit Trianon, estão a valiosa Biblioteca Acadêmica Lúcio de Mendonça, a Sala de Sessões e o Salão de Chá, onde se reúnem os Acadêmicos, às quintas-feiras.
Uma grande reprodução dos Estatutos da Academia, de 1897, assinados por Machado de Assis, Joaquim Nabuco e membros da primeira Diretoria, está afixada na Sala de Sessões, que também possui dois painéis com retratos dos fundadores e dos patronos das 40 Cadeiras da ABL.
O antigo Pavilhão Francês – Pettit Trianon é tombado pelo Instituto Estadual de Patrimônio Cultural (INEPAC) da Secretaria Estadual de Cultura em 1987.
Ainda no prédio do Pettit Trianon destaca-se a Biblioteca Acadêmica Lúcio de Mendonça, que teve sua criação oficial em 13 de novembro de 1905 por proposta de Rodrigo Octavio, seu primeiro diretor, sob a presidência de Machado de Assis.
Academia Brasileira de Letras recebe, desde sua fundação, doações de coleções particulares de acadêmicos, de personalidades do mundo literário e cultural e de bibliófilos. Fazem parte do seu acervo primeiras edições de obras clássicas da literatura mundial, além de um grande número de obras raras dos séculos XVI a XX, destacando-se a edição de Os Lusíadas, de 1572, e um raríssimo exemplar das Rhythmas, impresso em Lisboa, no ano de 1595, de Luís de Camões.
A Biblioteca Acadêmica Lúcio de Mendonça atende aos Acadêmicos e pesquisadores com um acervo bibliográfico de aproximadamente 20.000 volumes, formado pelas coleções: Acadêmica, ABL, Referência, Camoniana, Periódicos e obras raras dos séculos XVI a XVIII, além de coleções particulares de Alberto de Oliveira, Afrânio Peixoto, Domício da Gama, Machado de Assis, Manuel Bandeira e Olavo Bilac.
Instalada no 2º andar do Petit Trianon, ocupa uma área de 250m², dividida em três ambientes. Além de livros, possui um acervo museológico composto por móveis de época, esculturas e quadros de grandes pintores.
Durante todo o percurso da visita, destacou-se o acervo museológico da ABL que é formado por obras de arte, mobiliário de época e peças de arte decorativas, assim como objetos de uso pessoal dos Acadêmicos. Nas coleções de pintura e escultura destacam-se obras de Portinari, Rodolfo Bernardelli, Gomes Carollo, Manuel Santiago, Leão Veloso e Bruno Giorgi.
Grande parte deste acervo está em exposição permanente no Petit Trianon Outras peças encontram-se nas dependências do Centro Cultural da Academia.
Contudo, o ponto alto da visita deu-se no arquivo da ABL que possui uma grande variedade de documentos textuais e iconográficos. É composto por correspondências, discursos, originais de obras literárias, fotografias e periódicos. Esses documentos, acumulados pela Academia desde a sua fundação, em 1897, recebem tratamento de acordo com as normas arquivísticas contemporâneas.
No arquivo, tive a oportunidade de receber das mãos de Murilo Melo Filho, os originais do livro “Esaú e Jacó” de Machado de Assis. Oportunidade certamente única.
O arquivo é composto por duas linhas de acervo: o Arquivo dos Acadêmicos, com a documentação pessoal dos membros efetivos, patronos e sócios correspondentes e o Arquivo Institucional, com a documentação administrativa e funcional. Notícias e textos literários publicados em jornais e revistas formam a Hemeroteca, outra valiosa fonte de pesquisa sobre os Acadêmicos e a Academia.
Na despedida, Murilo Melo Filho presenteou-me com livros autografados, documentos referentes ao general Lyra Tavares e, sobretudo, palavras de parabéns, de encorajamento e força para continuar com minhas pesquisas sobre minha terra e minha gente.