sábado, 22 de agosto de 2009

O Gato Preto

A história do “Gato Preto” começa em 1924 com a inauguração de um café de propriedade do major Lídio Marinho de Oliveira onde se reuniam os membros do Grêmio Literário “Tobias Monteiro”, dirigido pelo jovem Francisco Freire da Cruz. Estava situado no marco zero da Macaíba, no conhecido Largo das Cinco Bocas, confluência das ruas Da Cruz, Prudente Alecrim, Coronel Batista, Afonso Saraiva e Baltazar Marinho.

Em 1926, o prédio foi arrendado a um paraense de nome Severino, de quem não se tem maiores informações. Em 1933, o prédio foi comprado pelo major Almir Freire que o cedeu ao seu amigo José Sólon que passou a vender caldo de cana. Contudo, o estabelecimento foi fechado pelo delegado Filadelfo Pessoa a mando do recém empossado prefeito Dr. Teodorico Freire, numa represária ao Sr. Zé Sólon já que este era amigo do Sr. Alfredo Mesquita, político da oposição.

Somente em 1937, o local volta a funcionar e a denominar-se de Bar Gato Preto, nome dado pelo dono do prédio, Sr. José Maria Magalhães, em alusão a uma cachaça em voga na época. O novo locatário era o Sr. Gustavo Lima, que devido o fechamento do estabelecimento de Zé Sólon em 1933, foi beneficiado com o aumento da clientela em seu café transformado em bar.

No período da Segunda Guerra, Gustavo Lima mantinha no Bar uma amplificadora. Em 1939, administraram o bar Gato Preto os amigos José Figueiredo da Silva (Zé Distinto) e Antônio Correia da Silva (Antônio Pelado).

Posteriormente, foram locatários do bar os senhores Alfredo de Almeida, Manoel Proeiro, Raul Morais, Magnus Tinoco, Aprígio Fundileiro, José Leite da Costa (Dedinho) e Antônio Alves de Assis.

José Maria Magalhães vendeu o imóvel a Dedinho, que por sua vez o passou a Antônio Alves de Assis em 1959. O imóvel permaneceu em posse da família até 1998 quando foi vendido por um de seus filhos, Djalma de Assis - considerado na cidade o último dono do “Gato Preto”.

Em 1976, o bar encontrava-se fechado. Mas foi alugado por “Seu” Vital que instalou no local um salão de jogos e resgatou o antigo nome com um pequeno acréscimo: A volta do Gato Preto.

No principio da década de 80, o prédio foi subdividido em quatro partes: o bar Gato Preto, o depósito da secretaria de obras, o depósito de cereais e a barbearia.

Grande foi a surpresa na cidade quando em 05 de novembro de 1999 as máquinas iniciaram a destruição do prédio para dar lugar a um armarinho, pertencente a Robson Garcia. Alguns aplaudiram, outros tantos protestaram. Seu Vital mudou-se para o prédio do antigo Cine Cometa, na rua Pedro Velho, e continuou a saga do “Gato Preto” até 05 de junho de 2001, quando alegando não ter condições de manter o negócio, encerrou mais um capítulo da história do bar.

Conheci o Bar “Gato Preto” já em um cenário profuso e difuso, tecido de conversas banais, de palavras soltas, malandras e perdidas, boatos e chafurdos soprados pelo errante vento da esquina. Tudo coisas fugidias: prateleiras, garrafas solitárias, sinucas, bilhares. Todos os seus notívagos são, agora, incertos, dispersos e derradeiros.

Embora modificado fisicamente, o seu espírito vive. Basta contemplá-lo e deixar-se envolver na sua atmosfera densa. Era um bar, com todos os seus habitantes: figuras opacas, empíricas, etílicas. Todos reduzidos a humanidade comum.

Um comentário:

  1. Major Antônio de Andrade e Dona Consuelo de Andrade são meus Bisavós,fico feliz por fazer parte dessa história ainda,parabéns ao escritor !

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