Túmulo de Lourdinha Barreto. Foto: Anderson Tavares de Lyra.
Maria de Lourdes Barreto de Oliveira
*11-02-1926
+12-04-1943
Este artigo não
descreverá um dos muitos personagens ilustres da cidade da Macaíba. Essa pessoa
teve uma vida comum e rápida. Porém, ela incorporou-se ao imaginário macaibense
exatamente após a morte. Desde criança que ouço estórias sobre uma jovem
bonita, falecida muito cedo e cuja alma “aparecia” sentada na escadaria de
acesso ao busto do velho Mesquita, na Praça da Saudade, em frente ao Cemitério
de São Miguel da Macaíba.
O espírito da
jovem, dizem, já colocou medo em muitos transeuntes da Rua do cemitério –
oficialmente Rua Governador Dinarte Mariz. A estória mais divulgada diz
respeito a um padeiro que jurava ter visto a jovem. Ao vê-la, foi ao seu
encontro e ela se dirigiu para o cemitério, transpassando o portão. O homem
apavorado correu deixando para trás sua bicicleta e um balaio com os pães.
Outra feita da
jovem alma, pediu a um rapaz que voltava de uma festa, que a acompanhasse até
sua casa, ao que o jovem atendeu e seguiram em animada conversa até o portão do
cemitério, quando ela agradeceu e entrou. O rapaz sofreu um desmaio de tanto
pavor que lhe infringiu aquela visão fantasmagórica.
Intrigado com a
suposta assombração, fui ao cemitério em busca de mais elementos sobre a jovem.
Depois de indagar ao coveiro o lugar do túmulo, ele me apontou um jazigo azul que
fica a direita de quem entra no campo santo. Confirmei com antigas zeladoras do
cemitério e todas foram unanimes em apontar o jazigo da “jovem sem nome”, retratada
com a mão apoiando o seu queixo. Não há indicação de nome, nem as datas de
nascimento e de morte, nem mesmo outras fotografias de parentes inumados ali.
Chegando em casa e
comentando o meu insucesso em obter os dados sobre a aquela bela moça,
conversei com a minha avó Nira Dalva Tavares, que de pronto lembrou-se e me
legou alguns dados. Falou que a jovem era Maria de Lourdes Barreto, comumente
conhecida por Lourdinha Barreto, era filha de Mariinha e Sérgio Barreto, e
tinha ainda os irmãos Agenor, Luís e Paulo. A família morava na rua do Vintém
ou rua Frei Miguelinho, numa casa hoje pertencente aos herdeiros de Oscar
Pinheiro.
Minha avó contou-me
ainda que a jovem Lourdinha faleceu de febre tifo*, mas não conseguiu lembrar o
ano, porém garante que foi depois de 1940. Disse que foi um enterro muito
concorrido em Macaíba e que toda a cidade ficou abalada com desaparecimento da
jovem. Com as poucas informações que tinha procurei nos livros de assentamentos
da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Macaíba o seu termo de óbito. Sem
sucesso.
Três anos se
passaram desde que reuni os dados que minha avó repassou e não consegui avançar
na pesquisa. Recentemente, pesquisando no desaparecido jornal A Ordem sobre o
macaibense Antônio Leiros Coelho, encontrei a notícia completa do falecimento
da jovem Lourdinha Barreto. Segundo o jornal, Lourdinha faleceu a 12 de abril
de 1943, com 17 anos, nascida em 11 de fevereiro de 1926. Era filha do casal
Sérgio e Maria Barreto de Oliveira. “O sepultamento verificou-se na tarde do
mesmo dia com numeroso acompanhamento de pessoas amigas. Um grupo de jovens
conduzia grinaldas de flores naturais”. Discursou a beira da sepultura o sargento
Antônio Leiros Coelho. A família de Lourdinha, profundamente marcada por sua
morte, retirou-se de Macaíba e se estabeleceu na cidade de Lagoa de Velhos, no
interior do Rio Grande do Norte.
A partir de agora a
personagem esquecida e sobre quem muitas lendas foram construídas durante todos
esses anos de anonimato, fica apresentada aos macaibenses. Ela teve resgatado seu nome: Maria de Lourdes Barreto de Oliveira. Data de nascimento: 11 de fevereiro
de 1926. Data de falecimento: 12 de abril de 1943 Requiescat in pace.
*(Febre tifoide é
uma doença infectocontagiosa, causada pela bactéria
Salmonella enterica typhi).