sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Derrotado no país de Mossoró

A cidade, que conta hoje com 234 mil habitantes, tinha, em 1927, um número de almas dez vezes menor, mas era desenvolvida, contando com comércio forte e diversificado, quatro jornais e energia elétrica. Muitos não acreditaram na notícia de que o mais famoso bandoleiro preparava-separa dar o bote em suas riquezas. O prefeito Rodolfo Fernandes tratou de preparar a resistência. Na noite de 12 de junho, a animação na cidade por causa do baile promovido pelo Humaytá Futebol Clube deu lugar à correria. Lampião já estava atacando a vila de São Sebastião (hoje município de Dix-Sept Rosado) e em poucas horas entraria em Mossoró.

Quem pôde, escapou de trem, de carro, cavalo ou mesmo a pé. Os que ficaram trancaram-se em casa, esperando o pior. A defesa da cidade ficou a cargo de cerca de 150 homens, espalhados em locais estratégicos, como a estação ferroviária, a Igreja de São Vicente e a própria casa do prefeito Rodolfo Fernandes.

Na manhã de 13 de junho, dia de Santo Antônio, Lampião ainda envia um bilhete, onde propõe o pagamento de 400 contos de réis em troca de deixar os mossoroenses em paz. O prefeito responde que a cidade tinha o dinheiro, mas que ele fosse buscar. Às 16h, chovia fino na cidade quando começou o tiroteio. Os historiadores divergem sobre o número de cangaceiros que atacaram Mossoró. O contingente varia de 50 a 150, mas todos estavam bem armados e certos de que conseguiriam ficar com uma parte do saque.

Em menos de uma hora de luta, Lampião, que via o desenvolvimento do combate de dentro do cemitério, manda o pessoal bater em retirada. O "invencível" cangaceiro admitia a derrota. No campo de batalha, ficou o corpo do cangaceiro Colchete, com o crânio estourado por uma bala. Outro importante "cabra" do bando, Jararaca, foi baleado quando tentava ficar com os despojos do morto. Ele ainda fugiu e se escondeu embaixo de uma ponte, mas foi denunciado quando pediu ajuda a uma pessoa que passava pelo local. Durante a fuga em direção ao Ceará, acossado pelas volantes, pelo menos mais um cangaceiro, Moreno, morreria em conseqüência de ferimentos.

No dia 15 de junho, já em Limoeiro, no território cearense, Lampião foi convidado a entrar na cidade, com o pedido de que não cometesse saques. É recebido como autoridade pelo prefeito, padre e juiz, com direito a banquete em hotel e passeios de automóvel. O fotógrafo Francisco Ribeiro de Castro conseguiu convencer Lampião a reunir o grupo para um registro. O chefe fica na fila da frente, ajoelhado, tendo atrás os prisioneiros e o restante do bando. Os filmes foram enviados para revelação em Mossoró, onde o crédito das imagens passou a ser identificado erroneamente como do jornalista potiguar José Octávio, dono do laboratório.

O ataque frustrado a Mossoró custou caro a Lampião. Acossado pelas forças de cinco estados - Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Ceará e Alagoas - ele segue em direção ao São Francisco. De líder de grande bando, está acompanhado agora apenas de cinco homens, desmuniciado e sem provisões. Em agosto de 1928, ele cruzou o rio, iniciando a sua última etapa de vida, onde ganharia mais uma alcunha no novo território. De Virgulino a Lampião, passando pelo Capitão da patente dada em Juazeiro do Norte, passaria a ser conhecido pelos pobres sertanejos baianos como "O Homem".

"Estando eu até aqui, o que pretendo é dinheiro. Já foi um aviso para o senhor aí. Se por acaso resolver mandar-me a importância que nós pedimos, evito a entrada aí; porém, não vindo essa importância, eu entrarei até aí. Penso que, a Deus querer, eu entro, e vai haver muito estrago. Por isso, se vier o dinheiro, eu não entro aí. Mas mande resposta logo. Virgulino Ferreira, Capitão Lampião."

O ataque a Mossoró foi o ponto culminante de uma longa marcha que envolveu três grupos de cangaceiros montados a cavalo. Lampião e Sabino saíram de Pernambuco, cruzaram a Paraíba e se encontraram com os chefes de bando Vinte-e-dois e Massilon no Ceará. De lá, voltaram para a Paraíba e entraram no Rio Grande do Norte, realizando saques e praticando assassinatos. Após o fracasso em Mossoró, a fuga se deu através do Ceará, onde os bandos se dispersaram. Lampião iniciou sua rota para a Bahia.

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