sábado, 12 de setembro de 2009

Auta de Souza, poeta.




Na data dos 133 anos de Auta de Souza, relembramos alguns traços da poetiza macaibense.


Do caráter simbolista da poesia de Auta de Souza pode-se duvidar; está, no entanto, ligada ao simbolismo, mais que a qualquer outro movimento literário, pelo espírito religioso.


Otto Maria Carpeaux




A citação do Carpeaux é curiosa porque remete a temática de Auta de Souza a um movimento estético, o que é uma impropriedade. O fato é que entre o Simbolismo e o Neo-Romantismo pregava a poetisa, atribuindo-se-lhe coisas tais como "misticismo lírico" e "espiritualismo cristão" Embora Tristão de Atahyde fale em poesia cristã refere-se com mais propriedade quando fala que a poesia de Auta de Souza é simples, com "um sentimento de absoluta pureza".



Como naquela fase de transição, final do século XIX, Parnasianismo e Simbolismo no Brasil ainda eram atropelados pela verve romântica tradicional de nossos escritores, é nessa linhagem que melhor se configura a poesia de Auta de Souza, acentuando ainda Tristão de Athayde que ela "fez versos para si e para aqueles que mais de perto a cercavam".



Nunca sonhou com a glória literária" mas "no coração dos simples" "encontrou a mais terna repercussão. Auta de Souza tem vida breve, morta no dia 7 de fevereiro de 1901, atacada de tuberculose, a mesma doença de um irmão seu, o também poeta Henrique Castriciano, mas este superou o mal e viveu vida mais longa. Auta nasceu em Macaíba, Rio Grande do Norte, no dia 12 de setembro de 1876. A morte sempre a acompanhou de perto: perde cedo os pais e foi criada pela avó materna, e um irmão, de 12 anos, também morre.



Os estudos foram feitos no Recife, no Colégio de São Vicente de Paula, de religiosas francesas, o que a levou a dominar o francês e até chegar a escrever algumas poesias neste idioma. Mas a tuberculose estava à espreita, atacada ,foi em 1890, ano de sua volta com a avó para Macaíba. Em 1892, seu irmão Castriciano publica o primeiro livro de poemas, Iriações. "Dela nada se encontra nesse período", observa Raimundo de Menezes.



A atividade literária de Auta de Souza; a partir de 1893, quando passa a escrever intensamente e a participar de clubes literários e a colaborar em jornais e revistas de Natal Outra morte no seu caminho: o namorado. Reúne seus poemas, feitos entre 1893 e 1897 e lhes d o título provisório de Dálias. O livro vai acabar nas mãos de Olavo Bilac, que lhe faz o prefácio com o título de O horto - ficou apenas como Horto, quando editado em Natal em 1900. Oito meses depois morre Auta de Souza.

Prece do Centenário

Senhor,

Aqui estamos, um século depois do nascimento daquela que soube transmutar a dor e o sofrimento em sementes de prece, de amor e de alegria. AUTA DE SOUZA, menina gentil, símbolo e motivação, que manteve, até hoje, sobre a nossa terra e a nossa gente a chama da perseverança e do otimismo, recebe a nossa prece enternecida, por ser-mos gratos pela orientação contida em sua incomparável poesia, que demonstrou as gerações que se seguiram, que, acima da dor, do sofrimento, do infortúnio e do desalento, está a fé que tudo redime gerando compreensão, justiça e felicidade.

Senhor, daí-nos a PAZ de AUTA, daí-nos o estoicismo, a força e capacidade para sorrir, mesmo quando nossas almas chorarem. Redime as nossas impurezas, aproxima os casais, aproxima os homens separados pelo orgulho ou pelo ódio.

“É NOITE JÁ. COMO EM FELIZ REMANSO,DORMEM AS AVES NOS PEQUENOS NINHOS.....VAMOS MAIS DEVAGAR...DE MANSO E MANSO,PARA NÃO ASSUSTAR OS PASSARINHOS."

Senhor, quando a nossa volta tudo começar a ruir com os nossos ideais, daí-nos a certeza de que estarás conosco e de que conosco permanecerás até que um novo dia renasça da noite espessa e fria, até que o sol volte a brilhar, sem que a escuridão domine as nossas vidas.

“AO LONGE, A LUA VEM DOURANDO A TREVA....TURÍBULO IMENSO PARA DEUS ELEVAO INCENSO AGRESTE DA JUREMA EM FLOR."

E, por fim, senhor, evita por todos os meios possíveis que a arrogância nos domine, se apodere de nós, sufocando a humildade que nos é tão vital como o ar que respiramos, pois a não ser assim, senhor, não teria sentido a nossa existência, porquanto não legaríamos nada de útil aos nossos filhos, que precisam crescer CRENDO e sendo LEAIS, DILIGENTES, HUMILDES, SOLIDÁRIOS E HUMANOS.


UM MACAIBENSE.

1976

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