Não creio que em dia de concorrência compulsória o cemitério possa atrair o sentimento dos crentes; o ar festivo ali ao vivo, em Dia de Finados, não permite à solidão aprofundar-se. Nenhuma data é tão imprópria ao desfolho das saudades que florescem nos canteiros ocultos dentro do coração humano.
Mesmo à beira de um túmulo querido, quando a contrição parece ungir-se no fervor de úmidas confidênias transmitidas ao frio de uma lápide, torna-se difícil a plenitude do silêncio. O vaivém da algazarra intensifica-se ao longo das aléias a ponto de desfigurar a presença do campo-santo. O ar de festa envolve os ciprestes, que só deveriam inspirar a meditação.
Não creio que alguém possa ir ao cemitério, em Dia de Finados, para avivar as imagens dos mortos inesquecíveis. Ali nos deveria valer a paz ascética, então perdida. Ela nos dá a impressão de possuir um dom capaz de purificar nossos penares e de garantir nosso retorno ao bulício mundano com as ilusões desvitalizadas. Com as ilusões desvitalizadas é que nos comunicamos com os mortos.
A memória do ente querido acompanha-nos sem enregelar-se ou sem pesar como uma mármore de sepultura; aquece-nos a alma nos momentos de desesperança. Não há quem possa cultuar a memória de um ente amado com as flores do Dia de Finados, cujo preço em dobro comprova a profanação mercantil do culto.
Haverá de inexistir lógica no sentimento de quem se entrega no cemitério a mandamento de calendário, submisso à herética celeuma de turbas ociosas. São Lucas alertou-me com uma pergunta de evangelho mantida no versículo 5, do capítulo 24; "por que buscais entre os mortos quem está vivo?". Melhor é não ir ao cemitério em dia de comunhão festiva e ignorar o preço das flores que a procura convencional faz crescer em Dia de Finados.
Ou Anderson, tenho a liberdade de chama-la assim apesar de não o conhecê-lo, más, concordo em gênero número e gráu em todas as palavras que expressastes acima quando fala na algazarra das pessoas que acham que cemitério é refúgio de encontrar pessoas que a muito tempo não se ver e é um motivo a mais de chegar até a gargalhadas como se estivessem em um local festivo, e quan dizes das flores de altíssimos preços é isso mesmo está pela hora da morte mesmo literalmente que já está no calendário dos aproveitadores.
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