Essa semana,
chegando para a missa, contemplei o mausoléu do jovem Francisco Freire da Cruz,
nome de rua em minha terra, Macaíba. Em 2010, completou-se o centenário da sua
morte, ocorrido na cidade do Rio de Janeiro. Esse esboço procurará evidenciar a
curta trajetória do macaibense, falecido ainda tão jovem e que até hoje continua reverenciado em sua aldeia.
A família Freire chegou a Macaíba durante a corrida comercial que se verificou com a fundação da feira e do povoado por Fabrício Pedroza. O patriarca da família, Manoel Joaquim Freire, oriundo de São José de Mipibú, chegou na
florescente povoação já casado com Inês Emiliana Freire, sua parente.
Dentre os muitos
filhos provenientes destas núpcias, contava-se Isabel Freire que casou com
Francisco Severiano da Cruz e tiveram os seguintes filhos: Isabel Freire da Cruz (Madrinha Beleza) e
Francisco Freire da Cruz, nascido em Macaíba aos 09 de fevereiro de 1881.
D. Isabel Freire da Cruz foi a primeira mulher em Macaíba a possuir um comercio. Seus negócios constituíam-se de um armazém que vendia ferragens e de uma loja que comercializava roupas e chapéus no melhor estilo francês. Ao falecer deixou uma considerável fortuna que foi administrada pelo pai, Manoel Joaquim Freire, tutor dos netos, que não raro respondia em juízo os desvios de dinheiro da herança.
Desde muito cedo, Francisco da Cruz destacou-se no meio social de sua cidade, participando do Grêmio Literário “Tobias Barreto”, escrevendo poesias e crônicas para diversos periódicos do Pará, do Rio de Janeiro e de Natal, notadamente “A República”, do qual foi correspondente em Macaíba. Foi um orador solicitado nas diversas manifestações públicas ocorridas na cidade.
Tão logo alcançou sua maioridade civil, Francisco da Cruz requereu
ao juiz de direito de Macaíba a sua parte na herança materna, com o objetivo de
entrar numa faculdade. O jornal “A República”, de sábado, 14 de maio de 1904,
traz uma nota de despedida de Francisco da Cruz que estava de viagem para a
cidade de Fortaleza, no Ceará, para estudar Direito. Não consegui maiores
informações sobre a vida de Francisco da Cruz na capital cearense, o certo é
que mudou de lá para Belém do Pará e, posteriormente, para o Rio de Janeiro onde deu
continuidade aos estudos, ao que tudo indica, interrompidos anteriormente, por
motivos de saúde.
Ainda em Belém, Francisco da Cruz casou-se por procuração com uma jovem carioca chamada Praxedes Ovalle, pertencente a uma nobre família chilena, fato que ensejou sua mudança para o Rio de Janeiro onde passou a residir na rua das Laranjeiras 398, bairro do Flamengo, envolveu-se com o Instituto dos Surdos Mudos e com a Sociedade Nacional de Agricultura, além de ter dado continuidade aos seus estudos em direito. Era quartanista quando faleceu devido um “excesso de gripe” no dia 10 de agosto de 1910. Eis o termo de óbito de Francisco da Cruz:
N. 741. Aos
dezesseis dias de agosto de mil novecentos e dez, nesta Capital Federal, em
cartório compareceu Godofredo Coelho, com vinte e seis anos de idade, solteiro,
do comercio, morador a Rua das Laranjeiras 398 e exibindo atesto do doutor
Miguel Couto declarou que (...) na casa referida faleceu hoje a uma hora da
madrugada seu cunhado Francisco Freire
da Cruz, filho legitimo de Francisco Severiano da Cruz e de dona Isabel
Freire da Cruz, branco, com vinte e oito anos e acadêmico de direito, do Rio
Grande do Norte. Casado com Praxedes Ovalle da Cruz, não deixou filhos, vai ser
sepultado no Cemitério de São João Batista e nada mais disse e lido assina. Eu,
Oscar Borges escrivão juramentado escrevi. Olympio da Silva Pereira. Oscar
Borges. Godofredo Coelho. (Livro de óbitos n. 56, da 4ª Circunscrição do Rio de
Janeiro (Flamengo), p. 149v).
Sua morte tão prematura abalou a todos. Foi sepultado no mesmo dia, as 17:00 horas, no cemitério de São João Batista, onde o acadêmico Celso Lemos proferiu discurso de despedida. A Faculdade de Direito do Rio de Janeiro ficou em luto por oito dias. Posteriormente, D. Isabel Freire da Cruz (Madrinha Beleza), trouxe os restos mortais do pranteado irmão e sepultou-os no mausoléu da família, na matriz.
Em Macaíba, terra natal de Francisco Freire da Cruz, existia no Largo das Cinco Bocas um cruzeiro, erguido por volta de 1880, que significava o marco zero da cidade. Por isso, a artéria que segue daquele ponto para oeste da cidade, era chamada de Rua da Cruz. Aproveitando o topônimo, a Intendência Municipal determinou homenagear o jovem Francisco, que era Cruz, sem retirar o antigo e histórico nome. Assim, até os presentes dias, os macaibenses ora dizem Rua da Cruz, ora Rua Francisco da Cruz.
Muito bom! 👏 👏 👏 👏 👏 👏 👏 Pena faz não ser trabalhado nas és o las de nossa cidade, a nossa própria história.
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