terça-feira, 30 de março de 2010

Perfis - Cel. Feliciano Pereira de Lyra Tavares

Cel. Feliciano Pereira de Lyra Tavares, com a farda da Guarda Nacional. (Acervo Anderson Tavares/ FJN)

Uma vez estudadas as árvores genealógicas ascendentes, descendentes e colaterais do Cel. Feliciano de Lyra Tavares, apresentamos um esboço biográfico, dentro do que foi possível averiguar na documentação proveniente de sua época. A apresentação deste esboço inédito, configura-se ainda numa homenagem desta sexta geração de seu sangue, neste ano que assinala o centenário de morte.

Nascido aos 15 de novembro de 1843, na cidade de Nazaré da Mata, província de Pernambuco. Sendo filho do casal Francisco Pessoa de Araújo Tavares e Maria da Silva e Vasconcelos. Neto paterno de Antônio Tavares da Silva e Pônciana Cândida de Lyra e materno Francisco Gomes de Araújo e Ana de Sá da Fonseca Pessoa.


Francisco Tavares, pai de Feliciano, era conhecido pela alcunha de Chico de Marotos, e teve participação na Rebelião Praieira em 1848 quando proporcionou abrigo aos revolucionários em seu Engenho Marotos. Por este motivo teve suas terras confiscadas pelo governo por um bom período até o perdão real. Ele havia adquirido este engenho em 1832, possuindo uma influência política considerável na região de Nazaré da Mata.


Ainda criança, Feliciano presenciou as perseguições pelas quais passou sua família por ter apoiado a revolução. Casou ainda bem moço com sua sobrinha Maria da Silva Tavares, da qual ficaria viúvo após o parto do primogênito José Antônio. Sem contar senão com o próprio trabalho, Feliciano Tavares empregou-se como lojista no comércio de Goiana, onde passou a residir à rua Direita, ao lado da Matriz de São Pedro.


Em Goiana, Feliciano de Lyra Tavares conheceu sua segunda esposa a sinhazinha Maria Rosalina de Albuquerque Vasconcelos, filha do coronel João Batista de Albuquerque Vasconcelos e Inês da Veiga Pessoa. Do matrimônio houve os filhos Inês, nascida em 1870 e João de Lyra Tavares, nascido em 1871.


Não logrando sucesso comercial naquela praça, o agora Major da Guarda Nacional Feliciano de Lyra Tavares aceita convite de seu primo o Fabrício Gomes Pedroza, para se estabelecer no povoado da Macaíba, comercialmente ascendente. Feliciano já estivera algumas vezes no povoado, junto com alguns irmãos casados na família de Fabrício. Aceito o convite, rumou com os sogros, a mulher e os três filhos para Macaíba a fim de tentar a recuperação financeira que não encontrou em Goiana.


No Rio Grande do Norte instalou-se primeiramente em Utinga, depois adquiriu a propriedade Guanduba, hoje município de São Gonçalo do Amarante/RN, onde plantava e criava. Ergueu morada na povoação da Macaíba, na rua Dr. Pedro Velho, próximo ao sogro, já forte liderança política da localidade. Residência ao bom estilo português com comércio na parte inferior e casa na parte superior. Ali nasceria em 1872, o filho Augusto Tavares de Lyra. Feliciano já havia então sido elevado à categoria de coronel da Guarda Nacional e militava na política local apoiado por seu sogro cel. Batista, a quem entregou o filho Augusto para ser educado. Já o primogênito José Antônio teve por padrinhos Eloy Castriciano de Souza e sua irmã, Maria Concórdia de Souza, aos quais foi entregue para criação. Em 1875 nasceu Feliciano Filho. Em 1880, temos Luis.

O Cel. Feliciano já estava totalmente absorvido pela política, sendo vereador e militando no Partido Liberal chefiado pelo compadre Eloy. Os anos de 1881, 1883 e 1886, fecharão a prole de nove filhos, com os nascimentos respectivamente de Maria Augusta, Maria Alice e Maria Adélia.


Inicialmente a vida em Macaíba foi bastante difícil. Maria Rosalina de Lyra Tavares que havia sido criada com a melhor educação para a época; não obstante tocar piano, falar inglês, frances e bordar, fazia tapiocas e doces para serem vendidos por sua escrava forra – Bela – na feira local para ajudar no orçamento doméstico. Foi o saldo destas vendas que proporcionaram ao seu filho Tavares de Lyra, o tratamento dos olhos com o famoso oftalmologista Moura Brazil, no Rio de Janeiro, entre 1887-89.


Como político Feliciano de Lyra Tavares governou Macaíba de 1882 a 1885 e teve como vereadores os senhores Cel. João Batista de Albuquerque Vasconcelos, Comendador Umbelino Freire de Gouveia Mello, Ismael César Duarte Ribeiro, Enéas Américo de Medeiros e o Cel. Manoel Joaquim Teixeira de Moura. Durante seu mandato, sem recursos suficientes para empreender as melhorias necessárias ao bom desenvolvimento da vila, fez o que esteve ao seu alcance sem onerar os cofres públicos. Era o tempo em que os grandes locais investiam de seus próprios bolsos quantias que favoreceriam a coletividade.

Nesse contexto, o coronel Batista e o deputado Eloy Castriciano de Souza dispunham de prestigio junto ao governo provincial e garantiram muitas verbas para o governo de Lyra Tavares. Com essas ajudas, o Cel. Feliciano pode empreender uma reforma na velha ponte da Macaíba e despendeu dinheiro na construção da matriz. Paralelamente exerceu várias vezes, o cargo de Juiz Municipal em Macaíba, cargo inclusive que lhe valeu a excomunhão por parte do vigário local, pois Feliciano realizou o primeiro casamento civil de São Gonçalo do Amarante, à época pertencente juridicamente à Macaíba, fato que desagradou a Igreja. A excomunhão foi noticiada por toda a imprensa estadual, que solidarizou com o infortunado juiz.


Ainda relativamente à política, foi sempre um conciliador nos momentos de exaltação entre os partidos Liberal e Conservador, para um melhor andamento das necessidades locais. Foi um abolicionista ferrenho, membro do Clube Abolicionista “Padre Dantas”, onde engajou todos os filhos. Como um republicano fiel, descendente dos revolucionários de 1848, foi sonhador da República, companheiro devotado de Pedro Velho, despendendo altas somas com a edição de jornais e boletins republicanos na cidade da Macaíba, fato que o levou a ruína financeira.


Com a proclamação da república, curiosamente, abandonou a política. Acompanhou de perto a vida partidária dos filhos José Antônio de Lyra Tavares, em Macaíba, João Lyra e Tavares de Lyra no âmbito nacional. Sempre conselheiro acatado. Orgulhoso dos rebentos ilustres que lhe honraram o caráter democrático.


Em 1899, perdeu a valorosa companheira de uma vida, Maria Rosalina aos 45 anos. Em 1905, segue para Natal em companhia das filhas, passando a residir na avenida Rio Branco, onde hoje encontra-se as Lojas C&A. Deixou sua única propriedade aos encargos do filho José Antônio que permaneceu na cidade. O jornal “A República” noticiando o fato afirmava: “Na sociedade Macahybense deixou o coronel Lyra Tavares um vácuo impreenchível”.


Na capital, suas últimas atividades foram: secretário da Junta Comercial e juiz substituto seccional da capital. No principio de 1910, distribuía em Natal e Macaíba aos partidários, os discursos impressos por ocasião das homenagens dos políticos nacionais, ao filho ilustre. Foi neste período que apareceu as manifestações dos primeiros sintomas de um câncer.

Rapidamente foi consultar os médicos do Recife, quando agravou-se seu estado de saúde. De volta para o Rio Grande do Norte teve uma piora considerável no Estado da Paraíba, tendo que ir para casa de seu filho senador João de Lyra Tavares, quando então cercado por sua família, faleceu aos 23 de setembro de 1910.


O Estado do Rio Grande do Norte decretou luto. O comercio fechou as portas. A família recebia as condolências pelo desaparecimento de um vulto tão proeminente. Foi sepultado na Paraíba com enorme acompanhamento, sendo posteriormente seus restos mortais trasladados para o jazigo da família na Matriz de Macaíba, onde repousa ao lado da esposa extremada.


Feliciano Pereira de Lyra Tavares foi um personagem impar na pequena história local. Pertenceu a um tempo em que os homens públicos gastavam o que tinham para firmar-se na política e uma vez obtido êxito, da política nada ganhavam por seus trabalhos desempenhados, tendo em vista serem gratuitas as funções públicas no passado.


Porém, é forçoso admitir que esse recorte de nossa política, foi o tempo em que mais se fez pelo desenvolvimento de nossa terra, foi o tempo em que mais aflorou os vultos proeminentes da administração pública. Sem recursos certos, desempenharam verdadeiros milagres com o pouco que dispunham, elevando Macaíba ao melhor patamar econômico e político de tempos pretéritos, jamais recuperados.

Um comentário:

  1. O meu nome é José João de Lima, natural de Areia-Pb, meu pai é João José de Lima, meu avô José Euclides de Lima, minha avó Paulina Tavares de lima, ambos de Nazaré da Mata-Pe.
    será que somos parentes (85)9994-6498

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