Revejo-o, na ampla sala onde recebia a todos vestido de pijama de algodão, os cabelos assanhados, sentado numa cadeira de balanço e fumando um charuto. Disseram-me que eu tomei-lhe a benção e que ele sorriu abençoando-me, seguido de um gesto de afago em minha cabeça.
Posteriormente, após encantamento de Câmara Cascudo, retornei com minha tia, funcionária da Fundação José Augusto e que iria trabalhar na manutenção do valioso acervo bibliográfico do escritor. Os navegos de minha memória me remetem então a presença da d. Dáhlia Freire Cascudo, chamando-me para lanchar pastel com coca-cola, momentos nos quais eu conversava com ela e com a Anália, antiga servidora da casa.
Tarde de 05 de março passado, transpus os arcos do portão do antigo casarão 377, para um encontro com a história e um mergulho nas recordações da infância e da juventude que muito animaram o meu espírito. O sobradinho totalmente restaurado está aberto ao público que conhecerá a rotina simples do nosso esteta através de suas coleções de Etnografia Africana, etnografia Indígena, arte sacra católica, arte popular brasileira, arte popular estrangeira, iconografia, mobiliário, pinacoteca, alfaias, comendas e objetos pessoais.
Tive a honra de ser recebido por Daliana Cascudo – neta primogênita e guardiã da memória avoenga. Revi o antigo azulejo português com a frase em latim: “Inveni portum. Spes et fortuna, valete. Sat me lusisti. Ludite nunc alios”. (Encontrei meu porto. Esperança e fortuna, adeus. Muito me iludistes. Ide iludir a outros, agora.), verdadeira divisa cascudiana, decifrada para minha curiosidade ainda infantil.
Na sala de entrada, à memória fotográfica de ilustres convivas, com destaque para o meu primo/tio João de Lyra Tavares Filho e, sobretudo, para meu deleite monarquista a pequena galeria de fotos da família imperial do Brasil. Cascudo foi um monarquista fiel!
Percorri todas as dependências possíveis de visita da casa-museu onde o mestre Cascudo viveu durante 40 anos, produzindo sua gigantesca obra literária que tanto nos enche de orgulho. D. Dáhlia – a “flor sem espinhos” ganhou um pavilhão com seu nome que está harmonicamente inserido no ambiente arquitetônico da casa e guarda o acervo bibliográfico do nosso folclorista, além de funcionar como espaço cultural.
O LUDOVICUS – Instituto Câmara Cascudo, pontifica como iniciativa séria e de alto valor cultural. Os descendentes de Luis da Câmara Cascudo honram a memória do mestre empreendendo este trabalho pioneiro, dedicado e inovador. No LUDOVICUS Cascudo vive!! Viva Cascudo!!
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