Pedro Velho
No próximo dia 27
de novembro ocorre os 160 anos de nascimento de Pedro Velho de Albuquerque
Maranhão, o chefe da propaganda republicana, o organizador das novas
instituições, o seu primeiro governador eleito, o chefe da quase unanimidade do
seu povo por 18 anos a fio, sem um minuto sequer de quebra ou apoucamento do
seu prestígio que inabalável se conservou até ao dia de sua morte aos 9 de
dezembro de 1907. Pedro Velho descendia de nobre estirpe, de uma daquelas
famílias ilustres que, desde o período colonial, por motivo de serem
proprietários da terra uma, por motivo de maior cuidado com a educação dos seus
componentes outras, sempre detiveram, através de muitos dos seus filhos, os
postos de comando político e direção social. Os Albuquerque Maranhão foram, no
nordeste, um dos ramos mais mais férteis dentre tais grupos familiares.
No Rio Grande do
Norte os Albuquerque surgiram e afirmaram varonilmente, através da história,
com Jerônimo de Albuquerque, o seu primeiro capitão-mor, e com André de
Albuquerque Maranhão, famoso na revolução republicana em 1817, duas figuras
máximas na história do nosso estado, no período embrionário da formação da
nacionalidade.
Nascido aos 27 de
novembro de 1856, na Rua do Comércio, atual Rua Chile, n. 178 (Correios), no
bairro da Ribeira, em Natal, filho de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão e
de Feliciana Maria da Silva Pedroza. Era neto paterno de Izabel Cândida de
Albuquerque Maranhão (de Nazaré da Mata/PE) e Pedro Velho do Rego Barreto e
materno de Fabrício Gomes Pedroza (fundador da cidade de Macaíba e da Firma
Fabrício & Cia., em Guarapes) e de Maria da Silva e Vasconcelos.
Segundo Luís da
Câmara Cascudo, Pedro Velho foi batizado na capela de Nossa Senhora da
Conceição, no engenho Jundiaí, em Macaíba, aos 26 de junho de 1857, sendo
padrinhos seus tios maternos Francisco Gomes Pedroza e Maria da Cruz Pedroza. Oficiou
o ato o vigário Bartolomeu da Rocha Fagundes.
Sua meninice se desenvolveu entre os municípios de Natal, Macaíba e
Canguaretama, notadamente no engenho Jundiaí e em Guarapes. Foi alfabetizado
pelo professor Antônio Ferreira de Oliveira.
Fez o seu curso
secundário ou de preparatórios, a princípio em Recife e depois na Bahia, no
famoso Colégio Abílio, dirigido pelo Barão de Macaúbas, passando, concluída a
formação ginasial, a frequentar a Escola de Medicina daquela Província, da qual
se transferiu para o Rio de Janeiro no terceiro ano acadêmico.
Foi aluno dos mais
distintos, e, após brilhante defesa de tese em que versou o problema das condições patogênicas das palpitações do
coração e dos meios de combatê-las, recebeu a sua carta de doutor em
medicina em 1881. Retomou então a sua terra natal, onde, além do sacerdócio
médico, passou a exercer o apostolado educacional.
Fundou o Ginásio
Norte-Riograndense, juntamente com os irmãos Amaro Barreto e Augusto Severo, que funcionou de 1882-1884, modelar estabelecimento de ensino secundário, diz um dos seus
biógrafos, Tavares de Lyra e, mediante concurso, conseguiu a cadeira de
História Geral e do Brasil no Ateneu Norte-Riograndense, o instituto oficial de
ensino secundário que ainda hoje serve a formação espiritual da mocidade
potiguar.
Como professor,
Pedro Velho não limitava a sua ação, como faz a generalidade dos que ensinam no
Brasil, a ministrar as noções e o conhecimento da matéria de sua cadeira.
Identificava-se com os seus alunos, assistia-os de perto, era um verdadeiro
educador, compenetrado de que a sua função era alta e lhe cabia exercer
verdadeira paternidade espiritual. A vida e os progressos dos seus discípulos
vivamente o interessavam e eram por ele acompanhados com o maior carinho, e
disso dá testemunho eloquente esta carta por ele dirigida em 17 de janeiro de
1883 ao Cel. Miguel Soares, pai do seu aluno, Theodulo Soares de Câmara,
depois, e por sua vez, um grande educador com que o Rio Grande do Norte contou
para a preparação mental e moral das gerações novas que se aprestavam para o
serviço da terra:
Prezado patrício
e amigo Sr. Miguel Soares,
Durante o
passado ano escolar tive o prazer de dirigir o ensino literário e a educação moral
de seu bom filho e caro discípulo meu, o menino Theodolo - um belo espírito e
melhor coração.
Por sua
constante aplicação ao trabalho e não menor, para seu exemplar proceder esse aluno
soube merecer solidas simpatias, não só minhas, como de todo o corpo docente do
Ginásio - Dispondo dos recursos intelectuais que possui, e aparelhado, como
está pela compreensão já bastante lúcida do nosso sistema de ensino, o Theodolo
pode bem fazer uma belíssima carreira literária – o que porém eu, amigável e
sinceramente lembrar (e é este um dos motivos de minha carta) é que seria de máximo
interesse para o aproveitamento do rapaz, que ele não perdesse as primeiras
explicações, e para isso convém apresentá-lo a matrícula logo na abertura dos
cursos, que terá lugar, segundo rezam os estatutos do colégio, no dia 02 de
fevereiro próximo. P. e amigo obrigado. Dr. Pedro Velho.
Pedro Velho, pelo
seu tipo físico, alto, forte, farta cabeleira, porte elegante, sempre muito bem
vestido, e pela sua inteligência privilegiada e irradiante, inspirava simpatia
a quantos dele se aproximavam, desde logo conquistados pela afabilidade do seu
trato e pelo seu modo de ser como homem e como intelectual.
Espírito aberto às
conquistas do progresso e da civilização, desde muito mo o deixou-se empolgar
pelas ideias liberais que então despontavam no Brasil. Como era natural, em seu
torrão natal alistou-se desde logo nas fileiras dos que pugnavam ela liberdade
dos escravos, causa a que serviu na imprensa e na tribuna, com os recursos de
uma veemente combatividade e de uma indormida pertinácia.
De resto, o meio potiguar
era propício a campanha redentora, que irrompia em todos os recantos da
Província, em Mossoró, no Seridó, em Natal, por toda a parte. De tal eficiência
foi o movimento, acelerado pela fundação da Sociedade Libertadora
Norte-riograndense, em 19 de janeiro de 1888, a que com alma e ardor se filiou
Pedro Velho, de tal eficiência foi o movimento emancipacionista, repito, que,
ao se decretar em maio daquele ano, a extinção da nefasta instituição, já o Rio
Grande do Norte não possuía senão pouco mais de três centenas de escravos. Mas
Pedro Velho não podia se deter no caminho da sua marcha pelas públicas
liberdades na vitória abolicionista. Passou a pelejar então por outra conquista
a da instauração da República.
Imaginou e pôs em
execução naquela hora dois instrumentos poderosíssimos: fundou um partido
político e um jornal.
Convite original para a sessão de fundação do Partido Republicano no RN, distribuído em 1889. Assinado por Pedro Velho, Hermógenes Tinôco, João Avelino, Augusto Severo e João de Albuquerque Maranhão das Estivas.
Eis aqui a ata de
fundação do Partido Republicano, cuja primeira comissão diretora ou executiva
coube a Pedro Velho presidir:
Às 12 horas do
dia 27 de Janeiro de 1889, teve lugar nesta capital, na residência do cidadão
João Avelino Pereira de Vasconcelos, a primeira reunião do partido republicano
nesta província, após os movimentos revolucionários, tragicamente afogados no
sangue dos patriotas de 1817 e 1824.
Presentes
muitos cidadãos, e achando-se sobre a mesa um grande numero de adesões de correligionários,
que motivos poderosos impediram de comparecer á Capital, foi convidado para assumir
a presidência da assembleia o Dr. João de Albuquerque Maranhão servindo-lhe de secretario
o Rev. Vigário José Paulino de Andrade e o cidadão Juvêncio Tassino de Menezes.
Obtendo então a
palavra o Dr. Pedro Velho expôs os fins da reunião e submeteu á aprovação dos cidadãos
presentes as bases da lei orgânica do partido, as quais foram unanimemente aceitas.
Continuando, o
orador lembrou a criação de um jornal ou revista que desse conta dos progressos
do partido no país e especialmente que se mandasse tirar uma grande edição das
obras de propaganda de Assis Brasil e Silva Jardim, para distribuição gratuita
entre o povo, e animou os correligionários vindos do interior a que promovessem
a criação de clubes locais em seus respectivos municípios. Passou então a fazer
a leitura de um manifesto, cuja redação foi aprovada, resolvendo a assembleia
que fosse mandado a impressão, afim de ser distribuído largamente na província.
Usaram ainda da
palavra outros cidadãos, todos de acordo com as ideias emitidas pelo Dr. Pedro
Velho.
Em seguida
procedeu-se a duas eleições: a primeira tinha por fim constituir uma comissão
executiva provisória, até que no Congresso do partido se nomeie o diretório anual.
Esta comissão
ficou composta dos cidadãos seguintes: Dr. Pedro Velho, João Avelino Pereira de
Vasconcelos, Dr. Hermógenes Joaquim Barbosa Tinoco, Dr. João de Albuquerque
Maranhão, Vigário José Paulino de Andrade, Fabrício Gomes de Albuquerque
Maranhão, José de Borja Nogueira e Costa, Antônio Minervino de Moura Soares e Manoel
Onofre Pinheiro, os quais dentre si deverão escolher presidente,
vice-presidente, tesoureiro e secretários.
A segunda
eleição tinha por fim constituir a diretoria do Centro Republicano da capital,
que ficou assim composta: Presidente Dr. Hermógenes Joaquim Barbosa Tinoco,
Vice-presidente Manoel Pereira da Silva Veiga, tesoureiro Manoel Alves de
Souza, 1º Secretario Benedito Ferreira da Silva, 2º Secretario José Joaquim das
Chagas Junior.
Terminada a
reunião, e fez entre os cidadãos presentes uma bolsa para ocorrer às despesas
mais urgentes, telegrafando-se ao presidente do Conselho Federal do Rio de
Janeiro sobre a reunião e seus resultados.
E para constar
se lavrou a presente ata em que todos assinaram. João de Albuquerque Maranhão,
presidente. Vigário José Paulino de Andrade, 1º Secretário Juvêncio Tassino
Xavier de Menezes, 2º secretário.
Proclamada a
República, aos 15 de novembro de 1889, dois dias depois Pedro Velho era, por
aclamação popular, empossado no governo do nosso Estado, constituindo desde
logo o seu secretariado que ficou formado pelas seguintes figuras de maior
relevo naquela ate então Província do
Império:
Exterior - José Moreira
Brandão Castelo Branco;
Interior - José
Benardo de Medeiros;
Justiça - Amintas José da Costa Barros;
Agricultura,
Comércio e Obras Públicas - João Avelino Pereira de Vasconcelos;
Fazenda - Luiz
Emídio;
Guerra – Capitão
Felipe Bezerra Cavalcanti;
Marinha - Capitão
Tenente Leôncio Rosa.
Como se vê, era um governo
quase que de um país, pois havia secretários da Guerra, da Marinha e até do
Exterior. Era um reflexo de certas ideias que vieram à tona nos primeiros dias
do novo regime, para alguns de cujos dirigentes a federação implicava em uma
dupla soberania - a da União e a dos Estados. Campos Sales, por exemplo, era
adepto dessa doutrina.
Em Guarapes, Macaíba, Pedro Velho e Ferreira Chaves jogam gamão sob o olhar das mais altas autoridades potiguares.
Esse primeiro governo
de Pedro Velho durou poucos dias, substituído que foi por nomeação do Governo
Provisório Nacional por Adolfo Gordo que, a 7 de dezembro, se empossava na
administração Norte-riograndense.
O historiador Rocha
Pombo referindo-se ao governo de Pedro
Velho, afirma:
Durante os poucos
dias de seu governo, revelou-se o Dr. Pedro Velho como homem público, dando
provas de altas qualidades políticas e muito prudente, de grande tolerância,
mas firme e enérgico, ponderado e seguro.
Mais tarde, no
primeiro período governamental do novo regime, Pedro velho volta à direção
administrativa do estado, já agora regularmente eleito.
A sua administração
cabia dificílima tarefa, qual a de dar os lineamentos do novo arcabouço
político, traçando os rumos a seguir sob a nova ordem institucional. Não tardou
muito que as dissenções partidárias surgissem, dessa vez sob a chefia do
Senador José Bernardo. No início dessas divergências em 20 de março de 1892,
Pedro velho escreveu a José Bernardo, no intuito evidente de encontrar fórmula
a meios de evitar a separação:
Gabinete do
Governador do Estado do Rio Grande do Norte
José Bernardo,
Você estava
hemorroidário como os diabos, quando escreveu a sua carta de 5, sobre certas
minudências políticas conversaremos aqui (pois eu conto que você virá até o dia
15 ou 20 de abril), e confio que concordaremos em gênero, numero e grau, como
sempre. Não convém andar às tontas, nem violentamente. Atos que achei feitos
você bem vê, com o seu tino de velho experiente, que não posso nem devo
desfazer, senão de acordo.
Os novos espero que ficarão
direitinhos. Não como aliados, mas como soldados decididos do partido. Esteve
comigo o Gurgel: não me pareceu presumido, antes muito razoável. E, aqui para
nós, seu Zé, nós precisamos do homem, sob pena de sermos forçados a fazer uma
política artificial em certos municípios, o que não é nem prudente, nem
democrático. Isto sem falar na sua expressão: fazer do ladrão, fiel...
Antônio Joaquim
é o dono de São Miguel, onde não se arredará uma palha sem audiência dele.
O velho Luís
Manuel é o mesmo homem de Caraúbas; uns atritos que encontrei hão de
dissipar-se.
Para o Triunfo
não tenho feito nada senão pelos Jacomes.
No Patu os
nossos amigos serão considerados.
Somente
Agostinho, (que aliás eu muito estimo) pode magoar-se com a entrada dos outros;
mas você conhece aquele inferno de Pau dos Ferros e avalia da tortura que me
tem custado.
O T. Gomes já
deve saber que foi nomeado promotor. Não o fiz juiz municipal porque já havia
declarado que não nomearia nenhum. Até o Manuel José Pinto, que sofreu por
nossa causa, ficou sem Santana; mas demiti um irmão o Alberto, que encontrei
promotor da Macaíba, para acomodá-lo.
O Ovídio é
realmente cacete; mas tem escrito e telegrafado. A malandrice de não vir para o
congresso é antiga. Você tem teiró (aliás justificado) com o cidadão da Picada.
Conto,
sobre organização do estado, preparar as coisas de maneira que no 1º de julho
(2º semestre do ano) entre a máquina toda a funcionar: magistratura (cuja lei
não estará preparada antes da sua passagem; intendências (que espero sejam
eleitos a 31 de maio); juízes de paz; novo corpo de segurança; instrução
reformada.
Agora entramos
no capítulo grave da minha substituição no Congresso.
O meu
candidato, o candidato natural do partido era o Manoel de Castro. Mas, chegando
aqui, consultei o Fernando Lobo, que me respondeu, há dias, dizendo que
Nascimento estava incompatível.
Então, pensando
maduramente, e passando em revista o nosso pessoal, lembrei-me do Manoel, e,
por ora, tenho nele fixadas as minhas vistas. Estava nisto, preparando-me para
fazer consultas prévias, antes de apresentá-lo, quando ontem recebi, por telegrama,
as instruções que juntas lhe remeto. Urge, portanto resolvermos, e é por isso
que lhe peço a sua opinião. Entre outros escreverei também ao Gurgel, que (a propósito)
dizem ter renunciado a vice governança por pretender substituir-me...
A minha carta a
ele é delicada, mostrando certa confiança, lembrando o Manoel Dantas e fazendo
umas considerações sobre capacidade intelectual, confiança, dedicação ao
partido requeridas do meu substituto na Câmara, considerações que o porão em
embaraços, se ele quisesse responder-me pedindo o logar.
Enfim
esperemos, tendo a prudência, que não exclui a firmeza.
Um único a quem
comuniquei a minha lembrança, fez-me ver que parecia muito Silvino. Mas
convenci-o da sem razão, fazendo-o concordar em que o correligionarismo é um
conceito mais alto do que o parentesco, para os verdadeiros políticos.
Se V. tem
melhor ideia, me transmita com urgência, até com urgência, até pelo telégrafo.
Talvez haja candidatura mais convincente; e, com franqueza não encontrei. E
vamos liquidar este caso, para que eu possa marcar o dia da eleição.
Um abraço
Natal,
20-03-1892
Do amigo, P.
Velho.
Não obstante, o
rompimento se verificou. Nada conseguiu evitá-lo e durou cinco anos. De resto,
tais divergências eram inevitáveis. É que José Bernardo vinha de uma retumbante
vitória eleitoral, na última eleição da monarquia, vitória que, o sagrara chefe
de extraordinário prestigio. Pedro Velho, por sua vez, era o líder de toda a
propaganda republicana, o governador do Estado, o representante legítimo do
pensamento novo, e, como se sabe, as direções partidárias só comportam um
condutor e chefe. Mas o dissídio durou pouco mais de um quatriênio, quando, por
volta de 1898, ocorreu a cisão do Partido Republicano Federal, com o rompimento
de Glicério com o governo Prudente de Morais, José Bernardo e Pedro Velho
ficaram ao lado de Glicério. Foi o passo decisivo para a união na política
estadual, que em breve se deu, voltando os dois chefes potiguares à harmonia
dos dias iniciais da República.
Em banquete
oferecido a José Bernardo em Natal, em janeiro de 1901, Pedro Velho dizia:
É certo que num
trecho da jornada as vicissitudes da vida partidária bifurcaram o caminho e os
nossos rumos divergiram. Mas, por mim o afirmo e creio bem que no coração de
José Bernardo a impressão será idêntica - se o desgosto da temporária separação
foi cruel e amarga, o íntimo júbilo com que novamente nos demos as mãos, para
prosseguir em nossa tarefa de leais servidores do Rio Grande do Norte,
constitui o melhor penhor e o mais sólido cimento da nossa união presente e
futura!
Volto ao Governo de
Pedro Velho para dizer que do ponto de vista da economia da ex-Província,
transformada em estado autônomo, pouco foi a ele possível fazer: é que os
recursos financeiros eram parcos, diminutos, insignificantes. Indiscutível
é também que foram lançados com firmeza os alicerces sobre os quais devia
assentar a organização local republicana e que o poder público, sob a direção
do chefe da propaganda republicana, se conduziu sempre com serenidade e
segurança, gerando um ambiente de harmonia e de paz social.
Casa construída por Amaro Barreto, em Natal e que ficou para o filho Pedro Velho.
É dever salientar que,
mesmo sem ser governador, Pedro Velho, enquanto existiu, influiu decisivamente
nas administrações de seus correligionários, trazendo-lhes não só apoio e
prestígio, como também ideias novas e progressistas.
É assim de sua
iniciativa o plano de remodelação da Capital do Estado, que a ela deu um
aspecto da cidade nova.
A vida parlamentar
de Pedro Velho não foi das mais intensas. Dela participava mais como condutor
político, agindo nos bastidores do que como participante dos debates de
plenário.
Não lhe faltavam
dotes oratórios, mas o que ele representava antes de tudo era uma força de direção
e de comando.
As famílias de Pedro Velho e Tavares de Lyra em viagem do Rio para Natal. Foto de Manoel Dantas.
Desembarque de Pedro Velho. Caes Tavares de Lyra. Foto Manoel Dantas.
Por lhe
reconhecerem essas qualidades excepcionais é que os mais prestigiosos chefes
republicanos iam pedir-lhe o conselho, o aviso, a ajuda nas horas mais difíceis
dos conciliábulos partidários: Quintino Bocaiuva, Glicério, Manoel Vitorino,
Pinheiro Machado, todos dele se aproximavam nos momentos das grandes resoluções,
porque sabiam que as suas sugestões eram inspiradas sempre em um idealismo
sadio e puro, firmados, como bem disse Tavares de Lyra: na sua fortaleza moral, na firmeza dos seus princípios, no seu
devotamento às ideias, na sua lealdade aos amigos.
Por ser essa a
personalidade de Pedro Velho é que Alcindo Guanabara dele pôde dizer com
verdade e justiça, ao traçar o seu perfil, quando do seu falecimento em 1907:
Eu o conheci em
fases diversas desse período difícil e doloroso da consolidação da República.
Para geração de hoje, isso já é a história... Posso, pois, dar a essa geração
um depoimento instruído pela observação, pela experiência e pela ação comum.
E este
depoimento, para ser exato, há de ser a glorificação daquelas virtudes
superiores, que são a lealdade, o devotamento, o respeito pelos companheiros, a
afirmação incessante de um caráter límpido como o cristal da rocha.
O terreno que
então pisávamos era vacilante e inseguro.
Como na
natureza, onde todas as forcas se debatem, todos os cataclismas se produzem,
irrompem vulcões, desviam-se rios e surgem correntes, cruza os ares o raio e
céu e terra se contorcem convulsos antes que o terreno se firme, adquira
solidez, cubra-se de relva verde e permita a vida, assim no mundo político esses
cataclismas que são as revoluções conturbam o meio, anarquizam os sentimentos,
geram o despotismo, semeiam a desordem, e todos que nele se envolvem ou são
colhidos por eles lutam braço a braço e corpo a corpo com todas as forças em
rebeldia até que a ordem se restabeleça, a autoridade se afirme e a liberdade
saneie a atmosfera.
Nessas horas de
luta impessoal o caráter se reavigora; a coragem, a energia, o desprendimento,
a abnegação são as armas de combate e o preço da vitória.
Todas
concorriam no nosso saudoso amigo: sempre o vi inacessível às sugestões,
superior ao aliciamento, firme nos seus propósitos, fiel aos seus ideais, como
às suas amizades, e dominado desse fogo que nos arde no peito e que nos leva a não
ter desfalecimentos no empenho de revigorar a autoridade e de assegurar a
liberdade para que triunfem os preceitos morais e sociais por cujo amor
afrontamos as tempestades da política.
Brando no
trato, suave na palavra, eminentemente simpático, um olhar penetrante que a
miopia tornava mais agudo, uma cabeleira abundante que lhe dava o traço da
energia e da decisão pronta, o Senador Pedro Velho temperava a rigidez do
caráter com essa feição de bonomia, que tanto atrai e seduz.
Era
pessoalmente charmeur.
O trato intimo
com ele nunca deixara o travo da banalidade: pontilhava a conversa de
observações pessoais, deixava infiltrar-se nela o muito que sabia e derramava
em torno de si essa bondade, que era, em seu coração um oceano.
(...) Esse
homem teve até o último dia de sua vida a paixão do trabalho, a luta pelas suas
convicções, o respeito pelos seus companheiros, a energia necessária para
defender sem fraquezas o seu pensamento, a sua fé e a sua obra.
Não foi um
destruidor cedo e apaixonado. Não esquecia as palavras do pensador francês, que
disse um dia, com admirável sabedoria, que, se
para derrubar um carvalho de nossas florestas não era preciso mais do que um
pulso e um quarto de hora, para substituí-lo era preciso um século...
Pedro Velho era
realmente um condutor de homens, era um chefe.
E por que assim
era, e por que assim realmente foi, é que conseguiu ser, por 18 anos
consecutivos, desde a proclamação da República até o dia de sua morte, o chefe invencível
das hostes republicanas no Rio Grande do Norte. Nunca houve em qualquer época
da história daquele estado da Federação, um homem que gozasse de tanto prestígio.
Ainda 12 dias antes
do seu falecimento, a totalidade dos municípios em que se repartia administrativa
e politicamente manda a Pedro Velho através de suas entidades a seguinte e
comovedora homenagem de solidariedade e de estima:
Exmo. Sr.
Senador Pedro Velho de Albuquerque Maranhão.
É a vez do povo
do Rio Grande do Norte, pelo órgão das suas municipalidades, que vem trazer a
Vª Excª n'esta modesta mensagem, as mais afetuosas expressões do seu aplauso.
Numa data que,
preciosa para a família, tornou-se pela força natural das coisas, preciosa para
o Estado inteiro, partem de todos os extremos d'este, de Natal a S. Miguel e de
Macau Jardim, os votos de nosso afeto com as homenagens da nossa admiração.
E nem é tanto
ao chefe político incomparável, cuja habilidade e carinho quase têm feito dum
partido uma família e cuja influência poderosa e benéfica todos sentimos para harmonizar
a força e para fortalecer a união que nos desvanece, não e somente ao chefe que
se dirigem hoje àquelas homenagens e aqueles votos, sobretudo ao organizador do
estado ao indefesso batalhador republicano a que principalmente deve o Rio
Grande do Norte o seu desenvolvimento e o seu prestigio no seio da federação, é
ao lúcido espírito que entre nos tem concebido e realizado tantos
melhoramentos, que essas manifestações mais especialmente se dirigem.
É ao organizador
do Estado que os seus trinta e sete municípios rendem a homenagem de inaugurar
na sala das sessões dos seus edis como hoje inauguram todos, um modesto quadro
que, pondo-lhes ante os olhos a efígie de um grande trabalhador e de um grande patriota,
anime-os no trabalho e fortaleça-os no patriotismo.
Que esta
sincera e espontânea manifestação dos nossos aplausos, por tal meio expressa,
traga a Vª Excia. a certeza da nossa gratidão, já que os valiosíssimos serviços
que há prestado não são d'aqueles que se poderiam pagar com outra moeda.
Deus dê ainda a
Vª Excia. muitos e felizes dias para a fortuna de sua família, para regozijo de
seus amigos e para o bem e o progresso do Rio Grande do Norte.
27 de Novembro
de 1907.
Assinaram o
documento todos os presidentes das 37 intendências do Rio Grande do Norte. Pelo
que fica exposto, e documentadamente comprovado, até aquele ano, jamais
qualquer outro homem público dentre quantos contou o Rio Grande do Norte para o
serviço de sua direção dispôs de tanta força, e por tão longo espaço de tempo.
Mas de onde
decorria ou decorreu todo o prestígio de Pedro Velho, ouvido e acatado pelos
chefes nacionais pela totalidade do Rio Grande do Norte, isso durante 18 anos
sem intermitências? Passo a palavra a José Augusto Bezerra de Medeiros, que
assim se expressa:
Responderei que
de um conjunto de qualidades excepcionais, todas elas repousando sobre uma
grande e sólida base moral:
a - De uma
grande inteligência, feita de claridades e alicerçadas em boa cultura.
b - De um raro
dom da palavra que fez com que o maior dos nossos oradores, Ruy Barbosa,
ouvindo-o em uma saudação feita de improviso, classificasse-o de "admirável
orador" e falasse na sua "maravilhosa eloquência".
c - De um
idealismo que nunca o abandonou e fez com que se entregasse de corço e alma a todas
as grandes causas liberais que, em sua época, agitaram e empolgaram o país,
como e o caso da propaganda abolicionista e o da evangelização republicana.
d - Do seu apego,
do seu acendrado amor ao seu pequeno Estado natal, o Rio Grande do Norte, cujos
rumos políticos orientou sempre pelo caminho mais digno e mais livre, pouco se
preocupando com o êxito ou com a derrota, na convicção inabalável de que só a verdade
e a justiça devem interessar ao autêntico homem público, ao servidor da
coletividade.
Acrescento ainda a
sua fidelidade aos compromissos assumidos e à palavra empenhada, de que é irrefragável
demonstração esta carta escrita ao Senador José Bernardo de Medeiros em 9 de fevereiro
de 1898:
Natal,
9-02-1898.
Outro assumpto,
confidencial e melindroso.
Você conhece
melhor do que ninguém como eu pensava sobre candidaturas á presidência da
republica. Antes da cisão sempre pensei no Campos Salles e continuo a pensar,
como também no Rosa como demonstração de boa vontade aos
neo-quinzenovembristas.
Acresce que, quanto
ao primeiro as impressões que dele tinha como governo eram as mais gratas.
Quando eu não passava de um debutante em política, sempre me atendeu e procurou
servir; e fe-lo, estou certo, por considerar-me, como em verdade me reputo, um
bom, leal e esforçado amigo da república. Senti não poder conversar com ele,
quando estive ultimamente no Rio.
Dada a cisão
(Não me arre endo no que respeita ao Prudente: não foi amigo como cem e está sendo
inimigo como 500) um candidato de acordo com Pinheiro, Vitorino e outros passou
a ser o Julio. Lembra-se como falei claro e firme ao Glicério, que me parecia
estar marombando.
Acho que o C.
Salles é, por muitos títulos, capaz de governar honrada e dignamente o Brasil;
vejo com lástima a miséria de certos safardanas que procuram bajular o eminente
paulista sem o estimar nem comungar com o seu progresso; reconheço que a
eleição do Lauro, em que nunca podemos acreditar, vai ser uma fiasqueira ridícula
– mas repugna-me em absoluto desonrar compromissos buscando protestos, sem
fundamento sério e digno para um tal proceder.
Não fui patrono
da candidatura do Lauro como outros que já o deixarão no mato sem cachorro;
confesso mesmo na intimidade que ainda o não achava adulto para o cargo;
aborreci-me com a trapalhada da convenção,mas assinei.
Os homens políticos
que têm responsabilidade e algum valor intrínseco não podem ser saltimbancos;
do contrario ninguém, em tempo a algum poderá confiar neles. São os meus velhos
moldes de aldeia, e ainda os reputo os melhores.
Estou longe do centro
político; o nosso P.R.F. Já me cheira a partido em debandada, embora o P.R. também
se me afigure inviável; não pude trocar com Pinheiro, cuja estima e solidariedade
tanto aprecio, uma só palavra depois de solto; acho-me enfim sob a impressão
exclusiva de proceder de um modo que me não morda a consciência, deixando de
cumprir uma palavra empenhada, muito embora outros o não façam.
Ótimo e nada
desairoso seria que o Lauro, diante do quase abandono em que se acha, desistisse
de uma candidatura, que nunca despertou entusiasmos e que já agora e fraquíssima.
Enfim, logo que
receber esta, telegrafe informando-me do que souber.
Os nossos
amigos todos firmes e cada vez mais disciplinados.
Augusto Tavares
de Lyra, presente, manda-lhe lembranças.
Do prezado
amigo
Pedro Velho.
Chegada ao Rio de Janeiro. Ao lado o genro Tavares de Lyra e o irmão Alberto Maranhão.
Eloy de Souza,
discípulo e amigo de
Pedro Velho, define muito bem o chefe
na fidelidade a sua palavra: nunca
ninguém disse Pedro Velho deu a palavra de honra, - mas apenas – Pedro Velho
deu a palavra.
De sua impecável
probidade pessoal de que é atestado a pobreza de bens materiais em que sempre
se debateu e de que e uma afirmação esse trecho de carta que em 05 de outubro
de 1901, dirigia ao seu amigo, Senador José Bernardo:
Vou solicitar
da sua velha amizade um pequeno obsequio meio reservado. Sabe bem que eu não
posso dar dote a Sophia; mas desejaria dar-lhe, no dia do casamento uns cobres
modestos, para os alfinetes do 1º ano de casada. Para isto resolvi obter umas
notas novas de cada um dos bilhetes do Tesouro atualmente circulação, e
lembrei-me de você para executar o modesto plano. Do meu ultimo subsidio a
receber ai, que espero em Deus seja a 32
de Dezembro, retire o que for preciso para arranjar uma nota de 500$, uma de
200$, uma de 100$ até 500 reis e remeta-me as ditas notas novinhas para eu dar
à noiva. Perdoe-me este aborrecimento. Mas Você, também muito extremoso com os
seus filhos, compreende essas coisas.
Sempre,
P. Velho.
Em resumo:
Fulgurante inteligência, boa cultura, rara eloquência, sadio idealismo,
devotamento por seu rincão natal, fidelidade à palavra empenhada e aos compromisso
políticos, impecável probidade pessoal - eis que
caracterizou Pedro Velho e eis o segredo de seu prestígio que jamais conheceu ocaso.
Foi casado com a
sua tia materna Petronila Florinda Pedroza, filha do terceiro casamento de seu
avô Fabrício Gomes Pedroza com a sua tia Luíza Florinda Barreto de Albuquerque
Maranhão, irmã de Amaro Barreto. O casamento foi celebrado na então corte do
Rio de Janeiro, aos 27 de abril de 1881 na matriz de São José, próxima ao Paço
Imperial, conforme certidão que segue:
Aos vinte e
sete de abril de mil oitocentos e oitenta e um, nesta Matriz, consta a provisão
do Ilmo. Monsenhor Vigário Geral, da qual consta a dispensado impedimento de
consanguinidade com segundo grau da linha transversal, cumpridas as exigências
impostas, assisti ao Sacramento do matrimônio que, perante mim e as testemunhas
bacharel Joaquim Jerônimo Fernandes da Cunha Filho, José Seabra e Cristiano C.
Coutinho, celebraram, Juxta Tridentinum
e Constituição do Bispado, Dr. Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, filho de
Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão e Feliciana Maria da Silva Albuquerque,
com Petronila Florinda Pedroza, filha de Fabrício Gomes Pedroza e Luíza
Florinda Pedroza, ambos os contraentes naturais da província do Rio Grande do
Norte e moradores nesta freguesia, de que se fez este assento. O Coadjutor
Ignácio Ferreira Campelo. (Livro de casamentos da Freguesia de São José, n. 07,
p. 145).
Conforme aponta a
neta primogênita do casal, Sophia Augusta Tavares de Lyra, até a República –
lutas, incertezas e filhos. Um após o outro:
F1. Sophia Eugênia Tavares
de Lyra *Natal/RN 21/01/1882 +Rio de Janeiro/RJ 29/12/1964, casada em Natal/RN
em 21/01/1902, com Augusto Tavares de Lyra, filho de Feliciano de Lyra Tavares
e Maria Rosalina de Albuquerque Vasconcelos;
F2. Dalila Rosa Paes
Barreto *Natal/RN 21/01/1883, casada aos 21/02/1903, com o primo paterno Sérgio
Paes Barreto *Recife/PE 14/01/1879 +Rio de Janeiro/RJ 27/09/1962, filho de
Juvino César Paes Barreto e Inês Augusta Maranhão Paes Barreto;
F3. Mário Amélio de
Albuquerque Maranhão *Natal/RN 03/04/1884 +Natal/RN 21/11/1944, casado;
F4. Gastão Edgard
de Albuquerque Maranhão *Natal/RN 26/09/1885 +Rio de Janeiro/RJ 25/08/1921,
médico, casado no Rio de Janeiro/RJ 10/05/1913 com Josefina de Aguiar Maranhão
*Rio de Janeiro/RJ 13/01, filha do Cel. Feliciano Benjamim de Souza Aguiar;
F5. Ernesto
Frederico de Albuquerque Maranhão *Natal/RN 22/12/1886, oficial da inspetoria
das estradas, casado em 22-12-1909 com Ana Dulce de Moura *1894 +1975;
F6. Amaro Barreto
de Albuquerque Maranhão Neto *Natal/RN 03/02/1888;
F7. Carlos Edgar de
Albuquerque Maranhão *Natal/RN 30/03/1889;
F8. Carmem Maria de
Albuquerque Maranhão *Natal/RN 10/04/1890;
F9. Pedro Velho de
Albuquerque Maranhão Filho *Natal/RN 01/08/1892 +Natal/RN 22/04/1911;
F10. Paulo Júlio de
Albuquerque Maranhão *Natal/RN 28/06/1893, +Rio de Janeiro/RJ 05/09/1965,
casado no Rio de Janeiro com Celina dos Reis Maranhão +Rio de Janeiro/RJ
18/01/1964;
F11. Camilo Flávio
de Albuquerque Maranhão *Natal/RN 28/02/1895;
F12. Clóvis Nilo de
Albuquerque Maranhão *Natal/RN 05/03/1896;
F13. Aurélio Túlio
de Albuquerque Maranhão *Natal/RN 21/08/1900.
Pedro Velho faleceu
repentinamente em seu camarote no paquete Brasil, ancorado no porto do Recife.
Assistiram-lhe a morte Manoel Dantas e Domingos Barros. Segue a transcrição do
óbito, lavrado um ano depois.
Número 3.141.
Aos 18 dias do mês de dezembro de 1908 no meu cartório compareceu o Bacharel
Sérgio Paes Barreto e disse que no dia 09 de dezembro de 1907, às seis horas e
quinze minutos da tarde faleceu de síncope cardíaca seu sogro, o Senador Pedro
Velho de Albuquerque Maranhão, natural do estado do Rio Grande do Norte, com
cinquenta e um anos de idade, de profissão médica, casado com dona Petronila
Florinda de Albuquerque Maranhão, de cujo matrimônio deixou onze filhos, de
nomes: Sophia Tavares de Lyra, Dalila Paes Barreto, Mário Barreto de
Albuquerque Maranhão, Gastão Edgard de Albuquerque Maranhão, Ernesto Frederico
de Albuquerque Maranhão, estes maiores, Carlos Eduardo de Albuquerque Maranhão,
Pedro Velho Filho de Albuquerque Maranhão, Paulo Júlio de Albuquerque Maranhão,
Camilo Flávio de Albuquerque Maranhão, Clóvis Nilo de Albuquerque Maranhão e
Aurélio Túlio de Albuquerque Maranhão, menores. Disse mais ele, declarante, que
o finado é filho legítimo de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão e de dona
Feliciana de Albuquerque Maranhão, já falecidos, e que o óbito do referido seu
sogro foi verificado pelo doutor Martins Costa no Necrotério Público na
freguesia da Boa Vista, Segundo Distrito Municipal do Recife, para onde foi
removido a fim de ser embalsamado e transportado para o estado do Rio Grande do
Norte e ser ali inumado no Cemitério Público da capital: que finalmente o
referido óbito deu-se a bordo do paquete nacional Brasil, de onde foi removido.
Este termo foi lavrado em virtude de uma petição e despacho na mesma exarado
pelo doutor Joaquim dos Santos Lessa Júnior, juiz deste distrito, na qual ele
declarante pedia fosse o presente termo, tendo junto a mesma petição o atestado
passado pelo referido doutor Martins Costa, cujo teor do despacho é o seguinte:
Registre-se. Recife, 18/12/1908. Lessa Júnior. E para constar lavrei o
presente, em que assino com o declarante. Eu, Antônio Augusto da Câmara,
escrivão o escrevi. O escrivão Antônio Augusto da Câmara. Sérgio Paes Barreto.
(Livro de Registro de Óbitos do Segundo Distrito do Recife/PE, n. 39, p. 186v).
Navio em que morreu Pedro Velho
Eça armada em uma igreja como lembrança do falecimento de Pedro Velho.
Nas residências da família inicia-se uma verdadeira romaria da dor. As
pessoas vão, pouco a pouco, apresentando aos familiares as expressões de seu
pesar. O comércio cerra as portas em luto. Todos as repartições públicas,
consulados e associações culturais hasteiam bandeiras a meio mastro. Nas
igrejas, os sinos começam a dobrar finados. Pedro Velho foi velado no palacete
da Assembleia Legislativa – atual sede da OAB.
O corpo de Pedro Velho foi sepultado no jazigo de seu cunhado Juvino
César Paes Barreto. Seus restos mortais foram retirados de lá quando do
falecimento de sua irmã Inês Maranhão Paes Barreto. Segundo Cascudo, “puseram
os ossos de Pedro Velho em um jazigo sem lápide, o grande nome riscado
descuidosamente no barro sem caiação”. Foi então que Câmara cascudo publicou um
artigo intitulado: onde anda Pedro Velho? A família então sepultou os restos
mortais numa parede da sacristia da antiga Sé. Em 1936 os deputados Cincinato
Galvão Ferreira Chaves e Pedro de Alcântara Matos solicitaram, através de
projeto de lei, a construção de um mausoléu para Pedro Velho no cemitério do
Alecrim.
Imagens do velório e cortejo fúnebre de Pedro Velho. Fotos de Manoel Dantas.
Finalmente, dentro das comemorações pela passagem dos cinquenta anos de
fundação do jornal A República, a 01 de julho de 1939, o monsenhor Alfredo
Pegado celebrou missa diante dos restos mortais de Pedro velho, então
depositados numa urna funerária, que, ao final, foram conduzidos pelo
Interventor Rafael Fernandes, Eloy de Souza, Virgílio Dantas e Juvenal
Lamartine até uma carreta, puxada pelos escoteiros, até o cemitério Alecrim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário