Dr. Amaro Cavalcanti
Nascido no sítio Logradouro, em 15 de agosto de
1849, na época pertencente ao município do Caicó e, atualmente, ao de Jardim de
Piranhas, no Seridó Potiguar. Filho do professor Amaro Soares de Brito e de Ana
Barros Cavalcanti.
Amaro, filho legítimo de Amaro Soares de Brito, e de Ana de Barros
Cavalcanti, naturais e moradores desta Freguesia, nasceu aos 15 de agosto de
1849, e foi batizado, nesta Matriz, com os santos óleos, aos vinte e cinco de
outubro do mesmo ano, pelo Reverendo Coadjutor Francisco Justino Pereira de
Brito, de minha licença. Foram padrinhos o Padre Domingos Pereira de Oliveira e
Alexandrina de Barros Cavalcanti, casada, moradores nesta Freguesia; de que
para constar mandei fazer este assento em que assino. Cônego Vigário Manoel
José Fernandes. (Livro de Batismos da Paróquia de Santana de Caicó, 1848, p.
189 – fora de ordem).
Segundo seu amigo e compadre Augusto Tavares de
Lyra, que escreveu uma biografia do conterrâneo, foram assim os primeiros anos
de Amaro, entre o RN e o Ceará:
A princípio, a sorte não lhe sorriu. Tinha a sede de saber e a falta de
recursos paternos não lhe permitira que, ultimado seu curso de primeiras
letras, fizesse estudos regulares e sistematizados de humanidade. Apenas teve o
auxílio de um ou outro professor particular.
As dificuldades, porém, nunca o intimidaram. Fez-se autodidata, devorando
os livros que lhe caiam em mãos por aquisição ou empréstimo e, aos poucos, por
si mesmo, foi cultivando como pôde sua poderosa inteligência. Ainda
adolescente, viu-se obrigado a ganhar a vida e começou a mourejar no comércio,
especialmente de gado, viajando pelo interior da sua e das províncias vizinhas.
Com essas viagens o que ia aprendendo, ao mesmo tempo que ensinava,
descortinaram-se aos seus olhos novos os mais amplos horizontes. Por volta de
1870 ou 1871, disputou e obteve em concurso a cadeira de latim da cidade de
Baturité, no Ceará. Ali se estabeleceu, ensaiando suas primeiras armas na
imprensa, familiarizando-se com o foro, publicando seus primeiros trabalhos,
granjeando relativa notoriedade. (LYRA, p. 336, 1951).
Ainda sobre essa época, é interessante destacar um
artigo assinado por XX, publicado no jornal O
Imparcial, do Rio de Janeiro, na edição do dia 17 de janeiro de 1918, onde
o articulista busca uma resposta para Amaro ter deixado de usar o Brito e
adotado do Cavalcanti. Segundo o artigo,
(...) Amaro Cavalcanti pertence, realmente, à família Brito, do Rio
Grande do Norte, e o seu nome, até 1868, era Amaro de Brito. Foi com ele que se
lavrou a sua nomeação para promotor de uma comarca do Ceará (creio que a do
Aracati), onde se deram os acontecimentos de que resultou semelhante mudança de
nome.
O caso foi simples. Amaro de Brito, que tinha por esse tempo uns 25 ou
26 anos, apaixonou-se loucamente por uma menina da família Feitosa, do alto
Jaguaribe, e pediu-a em casamento, por intermédio do juiz de direito. Os
Feitosas acharam que esse pedido era um desaforo, e resolverem vingar-se,
matando o juiz, como efetivamente mataram, e combinando uma surra em Amaro, que
consideravam um atrevido.
Felizmente a notícia chegou aos ouvidos do distinto moço, que tratou
imediatamente de fugir, abandonando o Aracati, e depois o Ceará, com o falso
nome de Amaro Cavalcanti (...).
O articulista certamente escreveu esse artigo numa
tentativa de denegrir a imagem de Amaro, tendo em vista que até o advento do
código civil de 1916, todos assinavam como bem entendiam os seus nomes, por
vezes, nos deparamo-nos em pesquisas históricas com irmãos assinando cada um,
sobrenomes distintos.
Seu primeiro emprego foi de professor de
humanidades. Em 1872, passou em concurso para professor de Latim do Liceu
Oficial do Ceará, província que lhe comissionou para estudar o sistema de
instrução elementar nos Estados Unidos. Ali formou-se em direito pela Union
University, em Albany, capital de Nova York.
Retornou ao Brasil, fixando-se no Rio de Janeiro,
onde habilitou-se para exercer a advocacia. Em 1881, foi nomeado inspetor geral
da instrução pública do Ceará e diretor do liceu do mesmo estado. No ano de
1883, retornou ao Rio de Janeiro como representante do Ceará e relator de umas
das comissões do Congresso de Instrução ali realizado sob a presidência de sua
alteza o Marechal Conde D’Eu. Até 1884 lecionou no Imperial Colégio Pedro II, na
cadeira de latim. Neste mesmo ano foi eleito deputado à Assembleia Geral do
Ceará.
Com o golpe militar de 1889, que instaurou a
República no Brasil, Amaro Cavalcanti foi nomeado um dos vice-governadores do
Ceará. Em seguida, foi eleito senador para o Congresso Constituinte, onde foi
membro da comissão dos 21; trabalhou até 1894 nas sessões ordinárias. Findo o
mandato, foi nomeado ministro plenipotenciário do Brasil no Paraguai.
Destacando a sua atuação como Senador da República
pelo RN, assim se expressou Augusto Tavares de Lyra:
Senador à Constituinte de 1891 pelo Rio Grande do Norte, sua terra
natal, assinalou-se naquela assembleia pelo brilho e operosidade com que
colaborou na feitura da Constituição, o mesmo sucedendo na primeira legislatura
do Senado, quando se destacou em numerosas iniciativas e discussões sobre
alguns dos mais palpitantes problemas nacionais da época: reforma monetária,
questões orçamentárias, confissões religiosas, reorganização de serviços
públicos, discriminação de rendas, bancos de emissão, estado de sítio, tantos
outros. (LYRA, p. 352, 1951).
Eleito Deputado Federal pelo Rio Grande do Norte em
1896, renunciou antes de tomar posse, em 1897, para assumir o Ministério da
Justiça do presidente Prudente de Morais. Exerceu o mandato até 1898.
Durante a administração do Barão do Rio Branco na
pasta do Exterior, Amaro Cavalcanti foi nomeado consultor jurídico, sendo
delegado do Brasil na terceira Conferencia Internacional Americana, reunida no
Rio de Janeiro. Em 1906, foi nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal,
cargo no qual foi aposentado em 1915. Seguiu então para Washington, como
delegado do Brasil a Conferencia Financeira Pan Americana.
O ano de 1917 marcou a nomeação de Amaro Cavalcanti
para membro do Tribunal Arbitral de Haya, representando o Brasil. Igualmente,
foi designado prefeito do Distrito Federal por nomeação do presidente Wenceslau
Brás. Com o fim do mandato de prefeito, foi nomeado ministro da Fazenda, cargo
desempenhado por pouco tempo, pois que renunciou com a morte do presidente
Rodrigues Alves que o havia convidado a fazer parte de seu ministério.
Cartão do ministro Amaro Cavalcanti ao ministro Tavares d Lyra, onde se lê: "Queira examinar o projeto feito para dizer-me a sua opinião. Com amizade Amaro Cavalcanti - Ministro da Fazenda. 25-12-918".
Casou a primeira vez, ainda no Ceará, com
Henriquieta Ferreira Catão, com quem teve a filha Luzia Cavalcanti Linhares.
Viúvo constituiu família com Eponina de Souza Ferreira, com quem teve as filhas
Vera Cavalcanti de Caracas casada com Raul de Caracas, engenheiro, e Arminda
Cavalcanti Taylor (Mindinha) falecida em Madri, Espanha, no dia 11/08/1919, casada
com o diplomata Carlos Frederico Taylor.
Eis o termo de seu matrimônio:
Aos oito de
novembro de mil oitocentos e noventa recebi uma provisão e nela constava uma
certidão em que consta que aos trinta de outubro do corrente ano, na Igreja de
São Francisco de Paula desta Capital o Reverendo Dr. Joaquim Sampaio Castelo
Branco, de minha licença, pelas sete horas da tarde, assistiu ao sacramento do
matrimônio que nas palavras de presente contrairão Doutor Amaro Cavalcanti, viúvo, natural do Estado do Rio Grande do Norte e
morador nesta Freguesia de São João desta cidade e D. Eponina de Souza Ferreira filha legítima de João Carlos de Souza
Ferreira e de D. Orminda Barreto de Souza Ferreira, nascida e batizada na
Freguesia da Candelária desta cidade e residente nesta Freguesia da Lagoa.
Foram habilitados na forma dos Cânones, sendo testemunhas Leandro Caetano de
Araújo, Dr. João da Mata Machado, Manoel do N. Alves (...) e o Barão de Araújo
Ferraz, que assinarão na referida (...), que fica arquivada nesta igreja, de
que fiz este assento. Vigário Monsenhor Francisco Martins da Mota. (Paróquia de
São João Batista da Lagoa (Atual Botafogo), p. 76 do Livro de Matrimônios de
outubro de 1887 a novembro de 1897).
Rememorando
o amigo, o historiador Augusto Tavares de Lyra relembra a aproximação de ambos,
por um determinado período afastados devido as contingências políticas no Rio
Grande do Norte:
Conheci-o pessoalmente quando deputado federal pela primeira vez. Não
tivemos grandes expansões e, talvez por militarmos então em arraiais opostos da
política local, nossas relações ficaram sendo por alguns anos muito
cerimoniosas e de mera cortesia. A cordialidade de que se revestiram mais tarde
veio lentamente e só foi completa de 1905 em diante, devido, entre outros, a um
fato que vem de molde relembrar. Era eu governador do Rio Grande do Norte e,
tendo falecido seu queridíssimo irmão padre João Maria, um verdadeiro apóstolo
da caridade, cuja morte enlutou o Estado inteiro entendeu de tributar-lhe,
interpretando, particular e oficialmente os sentimentos unânimes de sua
população, as mais carinhosas homenagens de dor e de pesar. Meu gesto
sensibilizou-o sobremodo e nossas almas se abriram de todo. No ano seguinte,
ele ministro do Supremo Tribunal Federal e eu ministro da Justiça, - nos
aproximamos de vez. Precisávamos ser muito amigos, dissera-me em sua primeira
visita; e, realmente, o fomos, a tal ponto que, ao demitir-se do ministério em
junho de 1909, por motivo do falecimento do preclaro presidente Afonso Pena,
escrevia-me de Paris, onde se achava, cativante missiva, em que se lê, a par de
lisonjeiras e generosas referências a merecimentos que não tenho, esta passagem
que diz tudo: escreva-me certo de que
quero continuar a ser maior amigo do Tavares de Lyra do que era do Ministro da
Justiça ... Não repetia uma frase convencional. Dizia o que sentia. Era
sincero. E nos doze anos que se seguiram, até que o levou a lei inexorável de
contingência humana, nossa identificação foi absoluta. Inequívocas e
irrecusáveis as demonstrações que demos um ao outro, na intimidade e nas
posições que ainda viemos a ocupar, do bem que nos queríamos.
Faleceu pela manhã do dia 28 de janeiro de 1922, um
sábado, em sua residência da Rua D. Carlota, nº 46, bairro de Botafogo. Fazia
alguns meses que se encontrava doente e sob os cuidados do Dr. Miguel Couto.
Amaro Cavalcanti solicitou por escrito a sua família que seu enterro fosse em
caixão de 3ª classe e que se efetua-se em sepultura rasa, no cemitério de São
João Batista, às 3 horas da tarde.
Certidão
de óbito
Nº 167 – Aos vinte e oito dias do mês de janeiro, do ano de mil
novecentos e vinte e dois, no Rio de Janeiro, no meu cartório compareceu Mário
de Cavalcanti, casado, brasileiro, com trinta e sete anos, e residente a Rua
Marques de Olinda sessenta e sete, e exibindo atestado firmado pelo Dr. Miguel
Couto, e declarou que no dia vinte e oito do corrente, às duas e meia da manhã,
em a rua D. Carlota, quarenta e seis, faleceu vitimado por orlite e miocardite
crônica – Sincope Cardíaca – Amaro Cavalcanti, masculino, branco, casado, do
Rio Grande do Norte, e com setenta anos, cujo corpo vai para o cemitério de São
João Batista. E de como disse, assinou este. Mário Cavalcanti.
Escritor
de extensa obra, Amaro Cavalcanti deixou os seguintes trabalhos publicados:
1. A Religião, Ceará, 1874;
2. A meus discípulos, (polêmica religiosa), Ceará,
1975;
3. Livro popular, Ceará, 1879; Nova York, 1881;
4. Educação elementar nos Estados Unidos, Ceará,
1881;
5. Notícia cronológica da educação popular no
Brasil, Ceará, 1883;
6. Ensino moral e religioso nas escolas públicas,
Rio de Janeiro, 1882;
7. Meios de desenvolver a instrução primária nos
municípios rurais, Rio de Janeiro, 1884;
8. The brasilian language
and its agglutination, 1884;
9. Finances du Brésil, 1889;
10. Resenha financeira do Império, 1890;
11. Reforma monetária e bancária, 1891;
12. Política e finanças, 1892;
13. O meio circulante nacional, 1893;
14. Elementos de finanças, 1896;
15. Tributação constitucional, 1896;
16. Regime federativo, 1900;
17. Unidade de direito processual, 1901;
18. Direito das obrigações, 1901;
19. O arbitramento no direito internacional, 1901;
20. A justiça internacional, 1902;
21. Taxas proibitivas nas tarifas aduaneiras, 1903;
22. Responsabilidade civil do estado, 1905;
23. Trabalhos na Terceira Conferencia Internacional
Americana, 1906;
25. The federal judiciary
in Brazil end the United States of American, 1911;
26. Pan-American Questions,
1913;
27. La codification du
Droit International Americain, 1914;
28. A vida econômica e financeira do Brasil, 1915;
29. A neutralidade e as restrições do comercio
internacional na guerra europeia, 1916;
30. A sociedade das nações, 1920.
Descendência
de Amaro Cavalcanti e Henriquieta Ferreira Catão
F.1 Luiza Cavalcanti Linhares *08-06-1887 +15-09-1969,
casada com José Linhares *Baturité/CE 28-01-1886 +Caxambú/MG 26-01-1957, que
governou o Brasil de 29-10-1945 a 31-01-1946;
N.1
Amaro Cavalcanti Linhares *01-09-1917, casado com Lucy Maria Ferreira
Constantino *19-01-1926;
N.2
José Carlos Linhares casado com Vera Marina Goulart Machado Linhares,
diplomata;
N.3
Léa Linhares Vilela *13-06-1914, casada com Fernando Machado Vilela.
Bn.
Maria Luíza Linhares Vilela *10-12-1946 +22-06-1997.
Amaro
Cavalcanti e Eponina de Souza Ferreira
F.2 Vera Cavalcanti de Caracas casada com Raul de Caracas;
N.4
Paulo Amaro Cavalcanti de Caracas *Rio de Janeiro/RJ 1913 +Rio de Janeiro/RJ 30-05-1951,
engenheiro, solteiro.
N.5
Lila Cavalcanti Caracas casada dia 05-09-1938 com Álvaro Milanez.
F.3 Arminda Cavalcanti Taylor casada com o
diplomata Carlos Frederico Taylor +Rio de Janeiro/RJ 20-07-1947.
N.6 Carlota Maria Cavalcanti Taylor;
N.7 Carlos Frederico Cavalcanti Taylor;
N.8 Amaro Cavalcanti Taylor.
este Sr Amaro não se casou com Maria Albuquerque irmã de Dendé Arcoverde?
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