sexta-feira, 13 de abril de 2012

Tributo a Alice de Lima e Melo

Professora Alice de Lima e Melo aos 52 anos.



O estudo historiográfico da educação deve abrir espaço também para a compreensão de práticas e histórias de vida de professores. Segundo o escritor Antônio Nóvoa, esses estudos podem“produzir um outro tipo de conhecimento, mais próximo das realidades educativas e do cotidiano dos professores”. De acordo com ele, a história da educação nas últimas décadas vem questionando a abordagem tradicional, uma vez que ela não privilegia as experiências dos atores educativos, suas vidas e projetos pessoais.

Baseado na reflexão de Nóvoa percebi que era possível, por meio das práticas e histórias de vida da professora Alice de Lima e Melo, reconstituir parte da história da educação primária no município de Macaíba.

Numa sociedade patriarcal, na qual a educação era privilégio dos homens, algumas mulheres venceram barreiras e tiveram acesso á educação, indo na contra da mão da história, principalmente no meio rural, distante dos centros urbanos. Nesse contexto, destaca-se a professora Alice Lima, nascida na cidade de Macaíba em 11 de fevereiro de 1916, filha de Liberalino Cordeiro de Lima (Mestre Carneiro) o único arquiteto e engenheiro da cidade no início do século.

Desde menina, Alice Lima teve acesso às primeiras letras, devido à visão pedagógica de sua mãe Joaquina Hermelinda Andrade de Lima (D. Quina), professora emérita de gerações de macaibenses. Após ser alfabetizada, Alice Lima seguiu para o Grupo Escolar Auta de Souza em busca de ampliar seus conhecimentos.

Professora por vocação, junto à mãe D. Quina, alfabetizou uma legião de macaibenses. Muito religiosa participou do movimento Filhas de Maria, auxiliando nos trabalhos de catequese da matriz. É de Alice Lima a imagem talvez única, de uma mulher trajando o hábito das Filhas de Maria.

O escritor Valério Mesquita, ex-aluno de Alice Lima assim se referiu a professora em crônica:

Fui seu aluno antes de ingressar no Colégio Marista. Alice se caracterizava pela modéstia e pela seriedade com que enfrentava os seus desafios. Com a professora Alice me preparei para enfrentar o pesado ensino dos Irmãos Maristas, assim considerado na época.

Casou-se com João Muniz de Melo, filho do casal José Muniz de Melo (um dos primeiros fotógrafos de Macaíba) e Eliza Cavalcanti de Albuquerque. Alice e João Muniz foram os pais de Liberalino Itamar, José Luciano e Ângela Maria, os quais se desdobraram em nove netos e cinco bisnetos. Alice Lima teve os seguintes irmãos: Paulo (falecido criança), Lenira, professora Luzanira, Eunice (Manice), Estela e Albaniza Lima, todas conhecidas nos círculos sociais e religiosos de Macaíba.

Na década de 50, Alice de Lima e Melo foi nomeada secretária geral da Prefeitura de Macaíba, cargo que acumulava todas as secretarias existentes atualmente, e nessa função permaneceu até o seu falecimento. Com o assentimento das Forças Armadas, era a pessoa responsável pelo alistamento militar no município.

D. Alice de Lima e Melo faleceu aos 52 anos, no dia 24 de maio de 1968, depois de prolongados padecimentos. A prefeitura municipal custeou-lhe o funeral, sendo sepultada no cemitério de São Miguel de Macaíba.

Na gestão do prefeito Geraldo Pinheiro foi inaugurado o Clube de Mães Alice de Lima e Melo. A rua lateral da prefeitura de Macaíba tem seu nome concedido pela Câmara Municipal atendendo a um requerimento nosso. Infelizmente, até hoje a prefeitura de Macaíba não se dignou a colocar a placa, fato já recorrente na cidade.

A professora Alice de Lima e Melo foi para o momento histórico em que viveu uma educadora que conquistou novos espaços, ultrapassando os limites do lar. Recordá-la através destas linhas é um ato de justiça a uma mulher, mãe e educadora macaibense.



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