Professora Alice de Lima e Melo aos 52 anos.
O
estudo historiográfico da educação deve abrir espaço também para a compreensão
de práticas e histórias de vida de professores. Segundo o escritor Antônio
Nóvoa, esses estudos podem“produzir um outro tipo de conhecimento, mais próximo
das realidades educativas e do cotidiano dos professores”. De acordo com ele, a
história da educação nas últimas décadas vem questionando a abordagem
tradicional, uma vez que ela não privilegia as experiências dos atores
educativos, suas vidas e projetos pessoais.
Baseado
na reflexão de Nóvoa percebi que era possível, por meio das práticas e
histórias de vida da professora Alice de Lima e Melo, reconstituir parte da
história da educação primária no município de Macaíba.
Numa
sociedade patriarcal, na qual a educação era privilégio dos homens, algumas
mulheres venceram barreiras e tiveram acesso á educação, indo na contra da mão
da história, principalmente no meio rural, distante dos centros urbanos. Nesse
contexto, destaca-se a professora Alice Lima, nascida na cidade de Macaíba em
11 de fevereiro de 1916, filha de Liberalino Cordeiro de Lima (Mestre Carneiro)
o único arquiteto e engenheiro da cidade no início do século.
Desde
menina, Alice Lima teve acesso às primeiras letras, devido à visão pedagógica
de sua mãe Joaquina Hermelinda Andrade de Lima (D. Quina), professora emérita
de gerações de macaibenses. Após ser alfabetizada, Alice Lima seguiu para o
Grupo Escolar Auta de Souza em busca de ampliar seus conhecimentos.
Professora
por vocação, junto à mãe D. Quina, alfabetizou uma legião de macaibenses. Muito
religiosa participou do movimento Filhas de Maria, auxiliando nos trabalhos de
catequese da matriz. É de Alice Lima a imagem talvez única, de uma mulher
trajando o hábito das Filhas de Maria.
O
escritor Valério Mesquita, ex-aluno de Alice Lima assim se referiu a professora
em crônica:
Fui
seu aluno antes de ingressar no Colégio Marista. Alice se caracterizava pela
modéstia e pela seriedade com que enfrentava os seus desafios. Com a professora
Alice me preparei para enfrentar o pesado ensino dos Irmãos Maristas, assim
considerado na época.
Casou-se
com João Muniz de Melo, filho do casal José Muniz de Melo (um dos primeiros
fotógrafos de Macaíba) e Eliza Cavalcanti de Albuquerque. Alice e João Muniz
foram os pais de Liberalino Itamar, José Luciano e Ângela Maria, os quais se
desdobraram em nove netos e cinco bisnetos. Alice Lima teve os seguintes
irmãos: Paulo (falecido criança), Lenira, professora Luzanira, Eunice (Manice),
Estela e Albaniza Lima, todas conhecidas nos círculos sociais e religiosos de
Macaíba.
Na
década de 50, Alice de Lima e Melo foi nomeada secretária geral da Prefeitura
de Macaíba, cargo que acumulava todas as secretarias existentes atualmente, e
nessa função permaneceu até o seu falecimento. Com o assentimento das Forças
Armadas, era a pessoa responsável pelo alistamento militar no município.
D.
Alice de Lima e Melo faleceu aos 52 anos, no dia 24 de maio de 1968, depois de
prolongados padecimentos. A prefeitura municipal custeou-lhe o funeral, sendo
sepultada no cemitério de São Miguel de Macaíba.
Na
gestão do prefeito Geraldo Pinheiro foi inaugurado o Clube de Mães Alice de
Lima e Melo. A rua lateral da prefeitura de Macaíba tem seu nome concedido pela
Câmara Municipal atendendo a um requerimento nosso. Infelizmente, até hoje a
prefeitura de Macaíba não se dignou a colocar a placa, fato já recorrente na
cidade.
A
professora Alice de Lima e Melo foi para o momento histórico em que viveu uma
educadora que conquistou novos espaços, ultrapassando os limites do lar.
Recordá-la através destas linhas é um ato de justiça a uma mulher, mãe e
educadora macaibense.
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