domingo, 1 de novembro de 2015

A jovem sem nome...

Túmulo de Lourdinha Barreto. Foto: Anderson Tavares de Lyra.


Maria de Lourdes Barreto de Oliveira
*11-02-1926
+12-04-1943


Este artigo não descreverá um dos muitos personagens ilustres da cidade da Macaíba. Essa pessoa teve uma vida comum e rápida. Porém, ela incorporou-se ao imaginário macaibense exatamente após a morte. Desde criança que ouço estórias sobre uma jovem bonita, falecida muito cedo e cuja alma “aparecia” sentada na escadaria de acesso ao busto do velho Mesquita, na Praça da Saudade, em frente ao Cemitério de São Miguel da Macaíba.

O espírito da jovem, dizem, já colocou medo em muitos transeuntes da Rua do cemitério – oficialmente Rua Governador Dinarte Mariz. A estória mais divulgada diz respeito a um padeiro que jurava ter visto a jovem. Ao vê-la, foi ao seu encontro e ela se dirigiu para o cemitério, transpassando o portão. O homem apavorado correu deixando para trás sua bicicleta e um balaio com os pães.

Outra feita da jovem alma, pediu a um rapaz que voltava de uma festa, que a acompanhasse até sua casa, ao que o jovem atendeu e seguiram em animada conversa até o portão do cemitério, quando ela agradeceu e entrou. O rapaz sofreu um desmaio de tanto pavor que lhe infringiu aquela visão fantasmagórica.

Intrigado com a suposta assombração, fui ao cemitério em busca de mais elementos sobre a jovem. Depois de indagar ao coveiro o lugar do túmulo, ele me apontou um jazigo azul que fica a direita de quem entra no campo santo. Confirmei com antigas zeladoras do cemitério e todas foram unanimes em apontar o jazigo da “jovem sem nome”, retratada com a mão apoiando o seu queixo. Não há indicação de nome, nem as datas de nascimento e de morte, nem mesmo outras fotografias de parentes inumados ali.

Chegando em casa e comentando o meu insucesso em obter os dados sobre a aquela bela moça, conversei com a minha avó Nira Dalva Tavares, que de pronto lembrou-se e me legou alguns dados. Falou que a jovem era Maria de Lourdes Barreto, comumente conhecida por Lourdinha Barreto, era filha de Mariinha e Sérgio Barreto, e tinha ainda os irmãos Agenor, Luís e Paulo. A família morava na rua do Vintém ou rua Frei Miguelinho, numa casa hoje pertencente aos herdeiros de Oscar Pinheiro.

Minha avó contou-me ainda que a jovem Lourdinha faleceu de febre tifo*, mas não conseguiu lembrar o ano, porém garante que foi depois de 1940. Disse que foi um enterro muito concorrido em Macaíba e que toda a cidade ficou abalada com desaparecimento da jovem. Com as poucas informações que tinha procurei nos livros de assentamentos da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Macaíba o seu termo de óbito. Sem sucesso.

Três anos se passaram desde que reuni os dados que minha avó repassou e não consegui avançar na pesquisa. Recentemente, pesquisando no desaparecido jornal A Ordem sobre o macaibense Antônio Leiros Coelho, encontrei a notícia completa do falecimento da jovem Lourdinha Barreto. Segundo o jornal, Lourdinha faleceu a 12 de abril de 1943, com 17 anos, nascida em 11 de fevereiro de 1926. Era filha do casal Sérgio e Maria Barreto de Oliveira. “O sepultamento verificou-se na tarde do mesmo dia com numeroso acompanhamento de pessoas amigas. Um grupo de jovens conduzia grinaldas de flores naturais”. Discursou a beira da sepultura o sargento Antônio Leiros Coelho. A família de Lourdinha, profundamente marcada por sua morte, retirou-se de Macaíba e se estabeleceu na cidade de Lagoa de Velhos, no interior do Rio Grande do Norte.

A partir de agora a personagem esquecida e sobre quem muitas lendas foram construídas durante todos esses anos de anonimato, fica apresentada aos macaibenses. Ela teve resgatado seu nome: Maria de Lourdes Barreto de Oliveira. Data de nascimento: 11 de fevereiro de 1926. Data de falecimento: 12 de abril de 1943 Requiescat in pace.

*(Febre tifoide é uma doença infectocontagiosa, causada pela bactéria Salmonella enterica typhi).

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