As cidades se
destacam na sociedade pelos seus filhos proeminentes, por sua importância
econômica e política. Contudo, existem espaços tradicionais nos quais emanam
figuras de relevo no universo municipal. Discorrerei neste artigo sobre duas
respeitáveis figuras da vida social e comercial de Macaíba, e sobre o projeto
comercial que ambos realizaram e que se firma até hoje no cenário comercial de
Macaíba.
Em setembro de
1902, o empreendedor Alberto Ferreira da Silva (1885-1970) investiu parte da
herança paterna na instalação da primeira panificadora da cidade de Macaíba,
que recebeu a denominação de padaria Brasil. Situada, desde a fundação, na rua
da Conceição, no centro da cidade.
A inauguração foi
festiva, com a presença da sociedade macaibense, do presidente da intendência coronel
Aureliano Medeiros, da banda municipal deleitando os presentes com os dobrados
em voga na época e, claro, sob as bênçãos do padre Marcos Aprígio de Souza Santiago,
que estava à frente da paróquia de Macaíba no período.
A padaria Brasil
passou a ser referência na cidade. Mesmo quando surgiu a padaria de Francisco
Campos, na década de 30, a população continuou fiel. Porém, havia espaço para
os dois comerciantes. A cidade crescia, e comportava todos os empreendimentos
que desejassem se instalar na localidade.
Desde então, a
padaria foi lembrada em diversas publicações. Em seu livro intitulado Macaíba, imagens, sonhos e reminiscências,
o escritor macaibense Meneval Dantas (1911-2002) descreve a padaria dos tios:
“A padaria Brasil, abastecia a população da cidade e dos povoados em redor, com
biscoitos, bolachas, doces, palma e os pães mais gostosos da freguesia de Nossa
Senhora da Conceição”. Também, Rui Santos no livro Macaíba de cada um, organizado por Jansen Leiros Ferreira,
descreve: “(...) E a padaria Brasil de seu Alberto Silva, o pão doce quentinho
era uma beleza (...)".
Segundo os
familiares e amigos próximos, Alberto Silva possuía livros antiguíssimos com
deliciosas receitas de bolos, biscoitos e pães, isso talvez explique a
preferência da população. Albaniza Lima, que foi uma das contemporâneas de
Alberto Silva, relata que todo fim de noite ele distribuía pães aos mais
carentes. E o pão de um dia para o outro era vendido bem mais barato e ficou
conhecido na cidade como o “pão dormido”.
Na década de 40,
José Maria Magalhães (1910-1959), casado com Erneide Silva Magalhães (filha de
Alberto), passa a gerenciar a firma. Com a morte de José Maria, seu filho
Antônio Vicente Magalhães, conhecido como “Tonito”, assumiu os negócios e no
ano de 1970 vendeu o comércio a José Paulo do Nascimento, conhecido por Zé
Paulo e que faleceu em 1983. Este por sua vez se desfez da padaria vendendo-a
no ano de 1976, a Pedro Messias da Cruz, que reformou o prédio e modernizou as
novas instalações da padaria.
Hoje, as novas exigências
da economia globalizada fizeram com
que a padaria Brasil passasse a não vender mais apenas pão, leite, doce e
bolachas. Para se manter no mercado sem perder a qualidade, foi preciso
transformar o estabelecimento em um minimercado, ou centro de conveniência.
Diversificando, assim, as atividades no setor.
Se faz mister
relembrar a vida dos dois personagens construtores da tradicional padaria
Brasil e que outrora foram figuras respeitadas e até reverenciadas
municipalmente.
Alberto Ferreira da
Silva nasceu em 1884, filho de Manoel Thomaz Ferreira da Silva (descendente da
família Ferreira da Silva de São José de Mipibu/RN) e Maria José da Costa
Alecrim, irmã do Coronel Prudente Alecrim. Investiu a herança recebida do pai,
abastado senhor de engenho, na instalação de uma padaria, a qual ainda hoje tem
a mesma denominação: Brasil! Falava francês fluentemente, sendo sempre o
marcador oficial das quadrilhas juninas, nos seus repetidos e enfáticos anarriê, chã de dama, balancê e alavantur ...
Muito cuidadoso ao
ponto de ter as suas iniciais gravadas entrelaçadas no frontispício da sua
residência. Quanto ao figurino, nos fala Jansen Leiros: “Invariavelmente de
branco, paletó e gravata, sapatos duas cores e chapéu de palhinha, sempre
importado”.
Foi o doador do
terreno, que na verdade era parte do jardim de sua casa, para a instalação do
primeiro centro espírita da cidade. Por morte do seu tio e sogro, o Coronel
Prudente, herdou o que foi o primeiro carro da cidade, um studebaker amarelo e com capota removível.
Militou na política
local, sendo Intendente de 1917 a 1919, assumindo a chefia do executivo de
8.1.1918 à 10.8.1919, pois o Presidente João Soares da Fonseca Lima - Joca
Soares estava doente. Deixou a política sem saudades, como fala o seu neto
Tonito Magalhães, que cita a sua frase de fim de mandato: “Deus me livre de
política! Meu Deus, nunca mais”.
A companheira de
Alberto Silva foi d. Maria Zebina de Mello Alecrim, nascida no movimentado ano
de 1888. Seu pai o Coronel Prudente Gabriel da Costa Alecrim, ex-intendente e
deputado estadual, era abolicionista e junto ao sogro, o comendador Umbelino
Freire de Mello, sócio da grande firma “Paula, Eloy e Cia”, fazia parte do
Clube Abolicionista da Macaíba, e na gestão do Comendador, declarou livres os
escravos na sua vila, aos 06 de janeiro de 1888.
D. Zebina Alecrim
foi uma figura singular, muito tímida e retraída, vivia primeiro para a Igreja
e o piano, depois, para os filhos e netos. Foi educada por freiras no Recife,
sendo eximia pianista (como sua mãe D. Ana Pulchéria Pessoa de Mello Alecrim),
e era nos saraus promovidos pela família, no casarão da Rua da Conceição, que a
jovem Maria Zebina de Mello Alecrim deleitava os convidados com valsas
sentimentais de Schubert e dos compositores nacionais, entre os quais Carlos
Gomes. Esse ambiente só foi quebrado em 1910, quando casou com o primo Alberto
Ferreira da Silva, com quem teve três filhos: Edison Alecrim e Silva, Emane
Alecrim e Silva e Erneide da Silva Magalhães.
Os filhos deram aos
casal seis netos: de Edison e Odete: Regina Coeli e Mário Gabriel (residentes
no Rio de Janeiro); de Erneide e José Maria: Antonio Vicente Magalhães
(Tonito), José Gilberto Magalhães (Betinho), Rosa Maria Magalhães e Alberto
Neto (Betuca).
Em 12 de novembro
de 1927, D. Maria Zebina foi uma das mulheres macaibenses que pioneiramente se
inscreveram eleitoras, autorizadas pelo cunhado Dr. Virgilio Dantas. Foi na
residência da mana Zebina, que o escritor Octacílio Alecrim escreveu o seu
"Tamatião", quando passava umas férias em Macaíba.
Este casal ilustre
viveu 60 anos de união conjugal, até que em 1970 faleceu D. Maria Zebina
Alecrim e um mês depois, sem suportar a saudade da esposa, foi a óbito o velho gentleman, “o homem mais elegante da
cidade”, respeitado pela honradez da palavra, cercado pelo carinho dos
familiares.
Que máximo Anderson! Agora eu sei de onde vinham os biscoitos deliciosos que eu e meu irmão recebíamos quando crianças, e que vinham de Macaíba numa lata enfeitada! Nunca mais encontrei iguais... só sei que são típicos do nordeste e que aqui no Rio não tem.
ResponderExcluirUm abraço,
Regina Coeli
caro amigo anderson parabens
ResponderExcluirfalar da minha familia tao bem
agradeco muito
Que maravilha falar de Zé Paulo.Avo dos meus filhos.
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