quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Padaria Brasil: Alberto Silva e Zebina Alecrim

As cidades se destacam na sociedade pelos seus filhos proeminentes, por sua importância econômica e política. Contudo, existem espaços tradicionais nos quais emanam figuras de relevo no universo municipal. Discorrerei neste artigo sobre duas respeitáveis figuras da vida social e comercial de Macaíba, e sobre o projeto comercial que ambos realizaram e que se firma até hoje no cenário comercial de Macaíba.

Em setembro de 1902, o empreendedor Alberto Ferreira da Silva (1885-1970) investiu parte da herança paterna na instalação da primeira panificadora da cidade de Macaíba, que recebeu a denominação de padaria Brasil. Situada, desde a fundação, na rua da Conceição, no centro da cidade.

A inauguração foi festiva, com a presença da sociedade macaibense, do presidente da intendência coronel Aureliano Medeiros, da banda municipal deleitando os presentes com os dobrados em voga na época e, claro, sob as bênçãos do padre Marcos Aprígio de Souza Santiago, que estava à frente da paróquia de Macaíba no período.

A padaria Brasil passou a ser referência na cidade. Mesmo quando surgiu a padaria de Francisco Campos, na década de 30, a população continuou fiel. Porém, havia espaço para os dois comerciantes. A cidade crescia, e comportava todos os empreendimentos que desejassem se instalar na localidade.

Desde então, a padaria foi lembrada em diversas publicações. Em seu livro intitulado Macaíba, imagens, sonhos e reminiscências, o escritor macaibense Meneval Dantas (1911-2002) descreve a padaria dos tios: “A padaria Brasil, abastecia a população da cidade e dos povoados em redor, com biscoitos, bolachas, doces, palma e os pães mais gostosos da freguesia de Nossa Senhora da Conceição”. Também, Rui Santos no livro Macaíba de cada um, organizado por Jansen Leiros Ferreira, descreve: “(...) E a padaria Brasil de seu Alberto Silva, o pão doce quentinho era uma beleza (...)".

Segundo os familiares e amigos próximos, Alberto Silva possuía livros antiguíssimos com deliciosas receitas de bolos, biscoitos e pães, isso talvez explique a preferência da população. Albaniza Lima, que foi uma das contemporâneas de Alberto Silva, relata que todo fim de noite ele distribuía pães aos mais carentes. E o pão de um dia para o outro era vendido bem mais barato e ficou conhecido na cidade como o “pão dormido”.

Na década de 40, José Maria Magalhães (1910-1959), casado com Erneide Silva Magalhães (filha de Alberto), passa a gerenciar a firma. Com a morte de José Maria, seu filho Antônio Vicente Magalhães, conhecido como “Tonito”, assumiu os negócios e no ano de 1970 vendeu o comércio a José Paulo do Nascimento, conhecido por Zé Paulo e que faleceu em 1983. Este por sua vez se desfez da padaria vendendo-a no ano de 1976, a Pedro Messias da Cruz, que reformou o prédio e modernizou as novas instalações da padaria.

Hoje, as novas exigências da economia globalizada fizeram com que a padaria Brasil passasse a não vender mais apenas pão, leite, doce e bolachas. Para se manter no mercado sem perder a qualidade, foi preciso transformar o estabelecimento em um minimercado, ou centro de conveniência. Diversificando, assim, as atividades no setor.

Se faz mister relembrar a vida dos dois personagens construtores da tradicional padaria Brasil e que outrora foram figuras respeitadas e até reverenciadas municipalmente.

Alberto Ferreira da Silva nasceu em 1884, filho de Manoel Thomaz Ferreira da Silva (descendente da família Ferreira da Silva de São José de Mipibu/RN) e Maria José da Costa Alecrim, irmã do Coronel Prudente Alecrim. Investiu a herança recebida do pai, abastado senhor de engenho, na instalação de uma padaria, a qual ainda hoje tem a mesma denominação: Brasil! Falava francês fluentemente, sendo sempre o marcador oficial das quadrilhas juninas, nos seus repetidos e enfáticos anarriê, chã de dama, balancê e alavantur ...

Muito cuidadoso ao ponto de ter as suas iniciais gravadas entrelaçadas no frontispício da sua residência. Quanto ao figurino, nos fala Jansen Leiros: “Invariavelmente de branco, paletó e gravata, sapatos duas cores e chapéu de palhinha, sempre importado”.

Foi o doador do terreno, que na verdade era parte do jardim de sua casa, para a instalação do primeiro centro espírita da cidade. Por morte do seu tio e sogro, o Coronel Prudente, herdou o que foi o primeiro carro da cidade, um studebaker amarelo e com capota removível.

Militou na política local, sendo Intendente de 1917 a 1919, assumindo a chefia do executivo de 8.1.1918 à 10.8.1919, pois o Presidente João Soares da Fonseca Lima - Joca Soares estava doente. Deixou a política sem saudades, como fala o seu neto Tonito Magalhães, que cita a sua frase de fim de mandato: “Deus me livre de política! Meu Deus, nunca mais”.

A companheira de Alberto Silva foi d. Maria Zebina de Mello Alecrim, nascida no movimentado ano de 1888. Seu pai o Coronel Prudente Gabriel da Costa Alecrim, ex-intendente e deputado estadual, era abolicionista e junto ao sogro, o comendador Umbelino Freire de Mello, sócio da grande firma “Paula, Eloy e Cia”, fazia parte do Clube Abolicionista da Macaíba, e na gestão do Comendador, declarou livres os escravos na sua vila, aos 06 de janeiro de 1888.

D. Zebina Alecrim foi uma figura singular, muito tímida e retraída, vivia primeiro para a Igreja e o piano, depois, para os filhos e netos. Foi educada por freiras no Recife, sendo eximia pianista (como sua mãe D. Ana Pulchéria Pessoa de Mello Alecrim), e era nos saraus promovidos pela família, no casarão da Rua da Conceição, que a jovem Maria Zebina de Mello Alecrim deleitava os convidados com valsas sentimentais de Schubert e dos compositores nacionais, entre os quais Carlos Gomes. Esse ambiente só foi quebrado em 1910, quando casou com o primo Alberto Ferreira da Silva, com quem teve três filhos: Edison Alecrim e Silva, Emane Alecrim e Silva e Erneide da Silva Magalhães.

Os filhos deram aos casal seis netos: de Edison e Odete: Regina Coeli e Mário Gabriel (residentes no Rio de Janeiro); de Erneide e José Maria: Antonio Vicente Magalhães (Tonito), José Gilberto Magalhães (Betinho), Rosa Maria Magalhães e Alberto Neto (Betuca).

Em 12 de novembro de 1927, D. Maria Zebina foi uma das mulheres macaibenses que pioneiramente se inscreveram eleitoras, autorizadas pelo cunhado Dr. Virgilio Dantas. Foi na residência da mana Zebina, que o escritor Octacílio Alecrim escreveu o seu "Tamatião", quando passava umas férias em Macaíba.


Este casal ilustre viveu 60 anos de união conjugal, até que em 1970 faleceu D. Maria Zebina Alecrim e um mês depois, sem suportar a saudade da esposa, foi a óbito o velho gentleman, “o homem mais elegante da cidade”, respeitado pela honradez da palavra, cercado pelo carinho dos familiares.

3 comentários:

  1. Que máximo Anderson! Agora eu sei de onde vinham os biscoitos deliciosos que eu e meu irmão recebíamos quando crianças, e que vinham de Macaíba numa lata enfeitada! Nunca mais encontrei iguais... só sei que são típicos do nordeste e que aqui no Rio não tem.
    Um abraço,
    Regina Coeli

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  2. caro amigo anderson parabens
    falar da minha familia tao bem
    agradeco muito

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  3. Que maravilha falar de Zé Paulo.Avo dos meus filhos.

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