sábado, 6 de fevereiro de 2010

Oliveira Lima em Macaíba

Parte do grupo que veio à Macaíba: da esq. p/ dir. Romualdo Galvão, Henrique Castriciano, Meira e Sá, Oliveira Lima e o Cel. Pedro Soares de Araújo. Sentadas as primeiras alunas concluintes de 1919 da Escola Doméstica. (Acervo Anderson Tavares)

Quinta feira, 27 de novembro de 1919. Às 6 e 15 da manhã, uma comitiva ilustre embarcava no Cais Tavares de Lyra, em Natal, com destino à Macaíba. Tratava-se do Ministro Manuel de Oliveira Lima (*1867 +1928), conhecido na literatura nacional como Oliveira Lima. O ilustre escritor estava em Natal convidado que foi do Dr. Henrique Castriciano de Souza para paraninfar a primeira turma concluinte da Escola Doméstica de Natal. Acompanhavam-no sua esposa e duas sobrinhas; Alice Cavalcanti e Maria Paula, além das jovens natalenses Luiza Dantas, Maurilia Guerra e os senhores Dr. Arthur Cavalcanti, engenheiro Eduardo Parisot, Felipe Guerra e Adauto Câmara, todos ciceroneados pelo grande Henrique Castriciano, que com orgulho, apresentava o seu berço ao ilustre literato.


Durante o percurso pelo rio Jundiaí o Dr. Oliveira Lima falou apresentou ligeiras impressões de outras viagens pelo Brasil, acompanhado nestas divagações por suas sobrinhas.


No Cais do desembarque, já em Macaíba, a comitiva foi festivamente recebida pelas autoridades, pelos alunos e o povo em geral que acorreu ao local acompanhando a banda de música municipal. Todos então saíram em passeata para o Grupo Escolar “Auta de Souza”, na frente deste, estavam reunidas todas as escolas do município; Escola Noturna do Centro Macaibense, Escola Paroquial de São Luiz, Escola particular da professora Emília Rodrigues além dos próprios alunos do “Auta de Souza”, que entoaram o Hino a Bandeira.


No interior do Grupo Escolar, o Dr. Olveira Lima e família receberam os cumprimentos dos chefes políticos e oligarcas locais; Cel. Manuel Maurício Freire, Cel. Prudente Alecrim e o Presidente da Intendência Cel. João Soares da Fonseca Lima. Estavam presentes também o professores Bartolomeu Fagundes, Arcelina Fernandes e Celina Navarro do “Auta de Souza” e a professora Emília Rodrigues. O Dr. Virgílio Dantas, juiz de Direito, João Meireles, Promotor Público e Antidio Guerra, diretor do Campo de Demonstração de Jundiaí, fechavam o grupo recepcionista local que ofereceu uma farta mesa de café e doces aos visitantes.


Após o café, o Dr. Oliveira Lima falando de improviso, se disse encantado com uma cidade tão arborizada. Esse fato, anos depois, despertou uma bela crônica de Octacílio Alecrim intitulada “As arvores de Macaíba”, na qual descreve a impressão de Oliveira Lima sobre as árvores da cidade.


Em seguida os visitantes na companhia do Cel. Manuel Mauricio Freire, que naquele ano estava respondendo como superintendente da construção da famosa Estrada de Rodagem do Seridó, do engenheiro da obra Eduardo Parisot, do Dr. Virgilio Dantas e os professores Bartolomeu Fagundes e Celina Navarro, divididos em quatro fords se dirigiram ao interior de Macaíba, mais precisamente ao povoado de Panelas – atualmente cidade de Bom Jesus – onde ficava a propriedade do major Lydio Marinho de Oliveira, denominada Santa Rita e aonde os convivas foram assistir a uma vaquejada!!


Logo na entrada do povoado foram todos recebidos por oitenta vaqueiros, trajados com suas vestes características de couro. Oliveira Lima ficou impressionado com a destreza dos vaqueiros locais na derrubada das rezes e comentou com o Henrique Castriciano sobre a diferença do nosso “matuto”, caracterizado pelas observações do ministro, como fortes e ativos, muito diferente do “jeca tatu” indolente e poltrão que a literatura em voga no período queria generalizar como sendo o tipo de brasileiro dos sertões.


Ainda durante as observações ocorridas na vaquejada, Oliveira Lima chamou a atenção de todos para a linguagem do “matuto” que não se diferenciava para a do homem da cidade em muitos aspectos.


Terminada a vaquejada, todos voltaram aos carros e seguiram primeiro a Caiada (hoje Eloy de Souza) e depois a Serra Caiada atendendo aos apelos das jovens sobrinhas do ministro e das alunas da Escola Domestica. Durante o percurso o Cel. Mauricio Freire o Dr. Parisot apresentavam aos viajantes a magnífica obra do governo do Estado que era a Estrada de Rodagem do Seridó e suas excelentes condições técnicas.


Oliveira Lima deixou então o observador literato de lado e resistiu de político, afagando os egos do Cel. Neco Freire e do engenheiro da obra, afirmou que: “andasse de automóvel na estrada de Macaíba com a mesma comodidade e conforto com que se anda em avenidas asfaltadas”.


No regresso à fazenda Santa Rita de Lydio Marinho, foi servido debaixo de uma mangueira o almoço organizado por Alcides Varela. Em seguida rumaram todos à Princesa do Jundiaí onde descansaram no “Auta de Souza” enquanto a banda de música deleitava a todos com os acordes de seus componentes. Depois do que saíram para o embarque no Porto do Barco e rumaram a Natal onde chegaram as 19 horas.

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