quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Amaro Carneiro Bezerra Cavalcante

Dr. Amaro Carneiro Bezerra Cavalcante (*1825 +1890).


No Rio Grande do Norte de antanho, duas figuras políticas se destacaram, embora em períodos distintos, os seus nomes e sobrenomes parecidos, são facilmente confundidos por pesquisadores e interessados em história do Rio Grande do Norte. São, Amaro Cavalcanti (1848-1922) sobre quem já tratei e Amaro Carneiro Bezerra Cavalcante (1825-1890). Nascido na cidade do Recife, aos 15 de janeiro de 1825, era filho do casal José Joaquim Bezerra Cavalcante e de Maria do Rosário Carneiro Machado.

Segundo Luís da Câmara Cascudo, Amaro Bezerra:

(...) era fisicamente um cidadão majestoso, alto e maciço, lento e circunspecto, causando impressão encontrá-lo, ornamental e sereno. (...) os olhos negros, enormes, perturbadores e faiscantes de malícia, os modos bem nordestinos de expansão, amizade, acolhimento, derramados e barulhentos. (CASCUDO, 1965, p. 53).

O escritor Eloy de Souza o conheceu quando ainda era um menino, quando Amaro Bezerra voltando do interior do estado, em campanha política, hospedou-se uma semana no casarão dos Castriciano de Souza, visto ter sido seu pai um partidário de Amaro, o recordava com a seguinte descrição:

(...) chegou doente. Nunca o tinha visto até então e fiquei aturdido diante daquele homem alto e corpulento, cuja barba serrada e branca lhe aumentava a majestade. (SOUZA, 2008, p. 338).

Formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife, na turma de 1846, veio para o Rio Grande do Norte, em busca de lenitivo a uma doença e na confiança de um parentesco com a família Cunhaú, instalando-se na cidade de Martins e logo sendo designado promotor público. Ligou-se politicamente ao juiz de direito da comarca Dr. João Valentino Dantas Pinajé, foi estimulado a entrar na política provinciana potiguar.

Mudando-se a serviço para a região de Canguaretama, rápido ligou-se aos Albuquerque Maranhão de Cunhaú e foi audacioso, frio e calculista para casar-se com uma velha cunhauzeira, D. Maria Cândida, irmã do Brigadeiro Dendé e senhora do engenho Outeiro. Após a morte do irmão que administrava-lhe  os bens, cunhados e sobrinhos  ameaçaram Maria Cândida de interdição, visto ser ela solteira e riquíssima, já aos 80 anos.

Casa Grande do antigo engenho Outeiro, em Canguaretama-RN, pertencente a Maria Cândida de Albuquerque Maranhão e que foi herdado por Amaro Bezerra. Foto: Anderson Tavares de Lyra, 2014.

Amaro Bezerra foi chamado para defender os direitos da velha senhora de engenho e foi perdendo (ou deixando perder) a ação em todas as instâncias. Finalmente perderam no tribunal do Ceará. Amaro correu ao Cunhaú e relatou os insucessos a Cândida que, desiludida e tomada de medos de ser governada pelos familiares, “comendo pelas mãos dos outros”, perguntou se não havia uma saída. Amaro disparou afirmando que somente o casamento a tiraria da futura situação ao que ela perguntou-lhe quem poderia casar-se com uma senhora já muito idosa e Amaro respondeu-lhe que ele.

A cerimônia foi realizada em oratório privado na Vila Flor, aos 15 de dezembro de 1857, sendo testemunhas o Tenente Coronel Manoel Salustiano de Medeiros e Félix Antônio Ferreira de Albuquerque. O celebrante foi o Pe. José de Matos Silva. O noivo era natural da Freguesia de Santo Antônio, Recife-PE, filho de José Joaquim Bezerra Cavalcante e de Maria do Rosário Carneiro Machado, falecidos. A noiva filha de José Inácio de Albuquerque Maranhão e de Luzia Antônia de Albuquerque Maranhão, falecidos.

O casamento fez de Amaro Bezerra um dos homens mais ricos do Rio Grande do Norte. Ele inicia uma vida de riquezas e luxos proporcionados pela fortuna da esposa e entra como membro para a principal família do Rio Grande do Norte de então. Estreou na política filiado ao partido Conservador, o mesmo de toda a família de Cunhaú.

Ainda segundo o escritor Eloy de Souza, Amaro Carneiro Bezerra Cavalcante foi:

(...) herdeiro da maior fortuna da Província, na qual além do dinheiro em prata e ouro amealhado, ficou sendo senhor dos engenhos Cunhaú e Outeiro, propriedades de tão grande extensão, que foram desdobradas em quatro outros engenhos: Mangubeira, Bom Passar, Antônio Freire e Torre. (...) além dos engenhos e dinheiro, herdou também fazendas de gado, com milhares de bovinos e centenas de equinos. (SOUZA, 2008, p. 340).

Politicamente foi eleito Deputado Provincial no biênio de 1852-53. Retornou para a Assembleia em 1867-57, 1858-59, 1860-61 e 1862-63. Com prestígio em alta, foi eleito suplente de Deputado Geral (equivalente a Deputado Federal) do Dr. José Joaquim da Cunha, assumindo em 1853. Em 1857 encabeça a chapa. E nos biênios seguintes consolidou seu mando através de sucessivas eleições de 1861 a 1889, pois já havia sido eleito quando houve o golpe militar de 1889 que instaurou a República.

Ficou viúvo por volta de 1860, e, segundo relato do coronel Feliciano de Lyra Tavares a Eloy de Souza, Amaro buscou uma paixão do passado em Pernambuco, d. Fortunada Carneiro, com a qual efetivamente casou em segundas núpcias.

O Brigadeiro André de Albuquerque Maranhão Arco-Verde designou Amaro Bezerra como testamenteiro e tutor de seus filhos legitimados. Segundo Câmara Cascudo:


O Dr. Amaro Bezerra (...) foi o mais descuidado de todos os amigos do brigadeiro. Nada fez pelos órfãos. A educação, descurada ao extremo, orçou pela ignorância. (...) O inventário, que devia ser iniciado quando da maioridade dos herdeiros, o Dr. Amaro esqueceu totalmente. (...) O Dr. Amaro ficara devendo 21.000$ ao monte. Não dera contas de duas grandes safras de açúcar nem de uma partida de pau-brasil, avaliada em 15.000$. (CASCUDO, pp. 123-124, 2008).

O Deputado Amaro Bezerra arrasou a sua fortuna e a herança dos filhos legitimados do Brigadeiro Dendé Arco-Verde, tendo ainda participação na falência da Casa Paula, Eloy & Cia., na Macaíba, gerenciada por um preposto seu.

Mesmo sem “grande cultura” no dizer de Eloy de Souza, Amaro Bezerra fundou alguns jornais que defendiam as cores do seu partido, cujos nomes nos foram legados pelo escritor Antônio Soares de Araújo: Dois de Dezembro, Correio Natalense, O Liberal do Norte, O Liberal e Liberdade.

Segundo Silvio Romero, Amaro Bezerra foi um ferrenho abolicionista, tendo enfrentando diversos embates no parlamento com escravocatas.

Residindo no Rio de Janeiro e já pertencendo ao partido Liberal, Amaro Bezerra possuía lugares tenentes que o representavam: no 1º Distrito o comerciante Eloy Castriciano de Souza, e com a morte deste, o Comendador Umbelino Freire de Gouveia Mello, na Macaíba e o coronel José Bernardo de Medeiros no 2º Distrito, no Caicó e em todo o Seridó Potiguar.

Com o golpe militar de 1889 que derrubou a monarquia e instaurou a República, Amaro Bezerra foi se afastando lentamente do cenário político.

No início do ano de 1890, Amaro Bezerra e Augusto Severo pontificaram um embate político, através de uma série de artigos, publicados nos jornais O Paiz do Rio de Janeiro e na A República de Natal. Amaro Bezerra tentava a todo custo desqualificar Pedro Velho, líder emergente, e toda sua família, evocando a velha casa comercial de Guarapes; Augusto Severo, por sua vez, demonstrava como Amaro havia se utilizado da fortuna de sua primeira mulher, bem como dos órfãos do Brigadeiro Dendé Arco-Verde para ir vencendo suas campanhas.

Doente, retirou-se para a cidade de Niterói, onde no dia 23 de novembro de 1890, faleceu de febre perniciosa, sendo sepultado no cemitério de Marui. Conforme consta no livro de óbitos da Paróquia de São João Batista de Niterói, de 1889-1894. Página 34v.

Aos 23 de novembro de 1890, nesta Freguesia de São João Batista de Niterói, faleceu de febre perniciosa o Doutor Amaro Carneiro Bezerra Cavalcante, natural do Rio Grande do Norte, de sessenta anos de idade mais ou menos, casado, sendo encomendado e acompanhado ao cemitério de Marui foi ai sepultado. Para constar fiz este termo. Era casado com Maria Fortunata Carneiro Bezerra Cavalcante. Vigário Cônego João Aureliano Correia dos Santos.


A Descendência de Amaro Carneiro Bezerra Cavalcante.

Amaro Bezerra (1825-1890) casou em segundas núpcias com Maria Fortunata Carneiro *1843 +Olinda/PE 09-04-1906, com quem teve dois filhos e oito netos, todos estabelecidos na cidade de Recife/PE. Uma nota trágica marcou a família de Amaro Carneiro Bezerra Cavalcante, no ano de 1906, faleceram a sua esposa e seus dois filhos:

F.1 Maria das Graças Carneiro de Albuquerque e Mello *23-10-1874 +Recife/PE 28-10-1906, casada em 22-04-1890 com Manoel Caetano de Albuquerque e Mello *Recife/PE 16-02-1868 Recife/PE 15-05-1935.

N.1 Manoel Caetano de A. e Mello Filho, em 1939 foi diretor da escola de aprendizes artífices em Natal;

N.2 Clóvis de A. e Mello, falecido criança;

N.3 Amaro Bezerra de A. e Mello +Recife/PE 05-10-1930, durante uma tentativa de invasão ao quartel do Derby, fruto do movimento revolucionário daquele ano.

N.4 Maria da Graça de A. e Mello, religiosa Franciscana da Pequena Família do Sagrado Coração de Jesus, +Rio de Janeiro 20-02-1935;

N.5 José Maria Carneiro de Albuquerque e Mello, casado;

N.6 Maria Fortunata de Albuquerque e Mello, +Recife/PE 19-05-1960, solteira;

N.7 Clarice Fortunata de Albuquerque e Mello +Recife/PE 15-09-1976, solteira;

N.8 Maria do Carmo de Albuquerque e Mello, solteira.

F.02 Amaro Carneiro Bezerra Cavalcante *Recife/PE 15-05-1877 +Rio de Janeiro/RJ 22-06-1906, casado no engenho Cachoeirinha, em Vitória de Santo Antão/PE no 20-02-1906 com Rosa de Holanda Cavalcanti, neta de Henriqueta Lins Cavalcanti, sem filhos.

Amarinho como era conhecido se formou em Ciências Jurídicas e Sociais em Recife. Transferiu-se para Manaus em 1897, onde foi nomeado Juiz de Manicoré, retornando a Manaus, abriu banca de advogado. Dotado de um espírito de liderança, reconhecido por seus amigos, foi indicado e eleito deputado estadual no Amazonas, falecendo em pleno mandato.

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